Moradores de Itu queimam pneus em protesto pela falta d'água

Ação aconteceu na noite desta terça-feira (21), no bairro Padre Bento.

Cartazes foram espalhados na cidade com a intenção de chamar a atenção.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
Moradores de Itu voltam a colocar fogo em pneus como protesto pela falta d'água (Foto:Thiago Ariosi)Moradores de Itu voltam a colocar fogo em pneus
como protesto pela falta d'água (Foto:Thiago Ariosi)
Os moradores de Itu (SP) voltaram a atear fogo em pneus na noite desta terça-feira (21) como forma de protesto pela falta d'água. Segundo as primeiras informações da Polícia Militar, o fogo foi rapidamente controlado e viaturas estão no local, neste momento, para evitar tumultos. Além da PM, o Corpo de Bombeiros e guardas municipais também acompanharam a movimentação na cidade.
Na segunda-feira (20), os moradores promoveram protestos em vários pontos da cidade: bica no bairro Santa Terezinha, avenida Sete Quedas, na avenida 9 de Julho (início da SP-300) e km 30 da rodovia do Açúcar (SP-75).
Um dos locais mais tensos foi no Portal de Itu, na avenida 9 de Julho. Aproximadamente 70 manifestantes atearam fogo em pneus, madeira e móveis velhos para interditar o tráfego na via. A Polícia Rodoviária desviou o trânsito do local para a SP-75.
Durante a tarde desta terça, moradores colaram cartazes em muros e portões de casas para pedir ajuda a Itu. A frase é a mesma em todos os cartazes: "Itu pede socorro". O protesto silencioso, que começou em um único bairro, mas depois se espalhou por toda a cidade, visa chamar a atenção para a falta de água em Itu, já que ninguém mais aguenta tanto sofrimento.
A manicure Karina Porcino se juntou com vizinhos do bairro para a confecção dos cartazes. "A gente está querendo chamar a atenção dos governantes, de alguém que possa fazer alguma coisa para Itu. Nós não sabemos mais o que fazer. Condições de ficar comprando água nós não temos", desabafa a moradora da cidade.
Na casa da professora de inglês Maria Isabel Garção, há mais de um mês não tem água na torneira. A saída foi improvisar e a água que a família pega nas bicas é levada nos galões, mas, como são muito pesados, uma bomba leva o líquido até as caixas que ficam no fundo da casa. Para instalar o mecanismo, a família gastou cerca de R$ 1 mil.
O desespero é tanto que em alguns bairros os moradores estão abordando caminhões-pipas no meio da rua. O técnico em eletrônica João Cruz foi um deles. Ele explica que pediu ao empregado das Águas de Itu, que estava no caminhão, 300 litros de água, porém acabou recebendo um não. "Ele falou que não pode, que ele só pode abastecer as casas que estão na rua da logística dele. Daí eu falei que se ele não me desse a água, eu ia colocar o meu carro na frente do caminhão e ele não vai sair daqui enquanto eu não conseguir pelo menos 300 litros de água. É  de chorar essa situação", diz.
Polícia Militar registrou pelo menos quatro protestos nesta segunda (20) (Foto: Ana Carolina Levorato / G1)Polícia Militar registrou pelo menos quatro protestos na 2ª feira (20) (Foto: Ana Carolina Levorato / G1)
Protesto na bica
Moradores de Itu realizaram um protesto ao lado da bica do bairro Santa Terezinha, no fim da tarde desta segunda-feira. Cerca de 250 pessoas, segundo a Polícia Militar, atearam fogo em pneus, madeira e móveis velhos, interditando o trânsito de veículo.
Moradores voltam a Câmara de Itu para pedir socorro à cidade (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)Protesto também foi realizado ao lado de bica
(Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
O protesto foi no cruzamento das ruas Nadalin Stivanelli e Pedro Álvares Cabral, ao lado da bica de água do bairro. Com a queima do material, a fumaça preta e densa se espalhou pela rua. Policiais militares acompanharam o protesto, que foi pacífico, apesar do incêndio.
Entenda a crise
Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
No entanto, conforme o documento enviado em julho, o Ministério Público aponta que a precariedade no abastecimento de água para a população não decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, o órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana. Em um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
De acordo com a liminar, caso a água não chegue até o imóvel, a população deve reclamar na concessionária que terá que resolver o problema em 48 horas e a prefeitura será multada. Para o promotor, a intenção do órgão é esclarecer à população sobre os seus diretos. “Nós intensificamos a importância dos registros já que as pessoas não sabiam o que fazer e quem procurar. Temos outros pontos de atendimento, mas vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a muito mais dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz. O morador também deve fazer a denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no bairro Brasil.

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