Na reta final, Dilma e Aécio focam em Marina e indecisos

Uma disputa acirrada pela Presidência entre os três principais candidatos torna a corrida ao Planalto de 2014 a mais incerta e competitiva desde as primeiras eleições democráticas pós-Ditadura, em 1989.

Além da incerteza sobre a realização de um segundo turno, há dúvidas sobre quem seria o adversário da atual presidente Dilma Rousseff em um eventual duelo. Antes em crescimento vertiginoso, a candidata do PSB, Marina Silva, vem em queda contínua nas pesquisas de intenção de voto.
"Essa é a primeira vez em que não se sabe se vai haver segundo turno e quem irá para a segunda etapa do pleito", afirma o cientista político Fernando Weltman, da FGV-SP. "É difícil, mas não é impossível para Dilma conseguir vencer no primeiro turno."
Segundo Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, o candidato do PSDB, Aécio Neves, ainda pode avançar e aumentar a distância entre Marina e Dilma.
"O eleitor de Aécio, por exemplo, que decidiu apostar em Marina por achá-la mais competitiva em relação a Dilma, faz um movimento contrário e volta a dar apoio ao seu candidato de maior preferência", avalia.
Estratégias finais
Assim que o período de luto pela morte de Eduardo Campos passou e as primeiras pesquisas de intenção de voto saíram, as estratégias das campanhas foram desenhadas.
Dilma e Aécio, assustados com o crescimento de Marina, optaram por propagandas agressivas, que desconstruíram a rival. Aproveitando de fragilidades na candidatura de última hora da ambientalista, petistas e tucanos a acusaram de inconsistente, o que teve rápido impacto nas pesquisas.
Especialistas concordam que as estratégias não devem mudar nessa reta final. "A menos que alguém tenha uma bala de prata que possa virar o jogo no último instante, mas é pouco provável", diz Claudio Couto, professor de ciências políticas da FGV.
O foco no ataque a Marina também é uma escolha pragmática, defendem os estudiosos. "A ambientalista ficou no meio do fogo cruzado, porque ela é o principal repositório de votos que podem ser perdidos. Aécio e Dilma conseguem tirar votos da ex-senadora, mas não conseguem tirar votos um do outro", explica Valeriano Costa, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp.
Por isso, a estratégia do PT e PSDB de colar em Marina a imagem de insegurança e instabilidade funciona não só para atrair indecisos, como para retirar votos da ambientalista.
Segundo especialistas, os eleitores de Marina são mais móveis e não partidários. "É o cristão-novo, recém-convertido", afirma Costa. "As posições de petistas e antipetistas já estão muito consolidadas. Graças àquela velha polarização que a Marina criticava e que ela acabou se colocando no meio."
Para o PT, interessa atacar Marina para aumentar as chances de ganhar no primeiro turno ou chegar ao segundo com uma adversária enfraquecida nas pesquisas. A propaganda do partido centrou em colocar a ambientalista como ameaça às conquistas sociais dos últimos mandatos.
Já para Aécio, bater em Marina é a única forma de chegar ao segundo turno. Por isso, associou a ex-senadora ao PT, como forma de garantir os votos antipetistas. "Assim ele ataca as duas ao mesmo tempo. Fala mal do PT e coloca Marina, que já foi petista, no mesmo saco", afirma Costa.
Para ele, a estratégia que mais se alterou foi a de Marina Silva. No início, afirma o professor, a candidata evitou o tom agressivo. Mas logo foi forçada a passar para o ataque, como forma de resistir e tentar chegar ao segundo turno.
"Primeiro ela achou que podia só se fazer de vítima. Agora ela se defende e, de vez em quando, também agride, mas com menor eficiência", diz Costa.
Colégios eleitorais
Para os especialistas, as intenções de voto nos estados estão mais ou menos definidas e não há nenhum colégio eleitoral específico que possa virar o jogo.
"Podemos ter variações marginais nos estados. Entretanto, acredito mais no acúmulo de mudanças em vários lugares do que em um estado só", aponta Couto.
Apesar disso, os cientistas políticos concordam que alguns estados podem ter maior influência no resultado dessas eleições. É o caso de Minas Gerais e São Paulo, onde ainda há a possibilidade de mudanças nas intenções de voto.
"Aécio tem uma votação hoje em Minas Gerais abaixo do seu potencial, tendo em vista a popularidade que tinha como governador do estado", explica Couto.
São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, também terá um papel de destaque. Marina, a mais votada no estado, vem perdendo espaço para Aécio e, em menor escala, para Dilma.
"Aécio também pode crescer em São Paulo, pelo fato de que há um candidato a governador do PSDB[Geraldo Alckmin] que deve ganhar no primeiro turno com facilidade", opina Couto.
Além disso, São Paulo é considerado o estado com o mais forte sentimento antipetista do país. Por isso, as chances de Dilma avançarem na região são pequenas. A candidata à reeleição, no entanto, tem crescido em todos os estados brasileiros.
"Agora Dilma está na frente de Marina em todas as categorias e classes. Houve uma mudança generalizada. A presidente tem uma estratégia mais ampla e nacional. Nenhum colégio é fundamental, porque ela ganha na maioria deles", explica Costa.
Migração de eleitores
Especialistas acreditam que os indecisos têm importância relativa na definição do resultado. Para eles, essa parcela não necessariamente opta por um candidato no pleito. Muitos votam branco, nulo ou se abstêm. Além disso, há os eleitores infiéis – os que têm um candidato, mas admitem que ainda podem mudar de ideia.
"O número de eleitores que vota branco ou nulo oscila entre 6% e 9%. Não deve ser diferente nessas eleições", afirma Couto.
O professor José Álvaro Moisés, diretor científico do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP, destaca que os embates entre os candidatos modificam a opinião dos eleitores. "Ao contrário de países europeus e da América do Norte, o eleitor brasileiro não define de início em que vai votar e mantém a mesma orientação. Ele é mutante", pontua.
Já Couto defende que, mais do que os indecisos, a migração de votos entre os candidatos pode definir o primeiro turno. "A migração é, sobretudo, uma sangria da Marina para os outros dois. A dúvida é o quanto ela ainda vai sangrar", diz. 
Uma dificuldade para a candidatura de Marina Silva é o pouco conhecimento da população sobre o número do PSB, o 40. Isso significa que uma parcela dos votos de Marina pode não ser concretizada nas urnas.
Costa diz que os eleitores buscam aprender os números apenas na véspera das eleições, o que pode distorcer os dados das pesquisas, feitas previamente. A campanha de Marina deve intensificar a divulgação do número nesta reta final das eleições. Recentemente, a candidata apareceu com um broche grande, em forma de 40.

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