O que o guarda-roupa dos presidenciáveis diz sobre eles

São Paulo – Não é apenas de discursos, debates e promessas que é feita uma campanha política. As roupas, acessórios, maquiagem e cabelos exercem um papel importante na composição da imagem de cada candidato, para que ele se aproxime mais do público que deseja alcançar.
Na corrida presidencial não é diferente. De acordo com Paula Acioli, coordenadora acadêmica do curso de Gestão de Negócios no Setor da Moda, da Fundação Getúlio Vargas, a moda se revelou como importante instrumento de poder nas atuais disputas políticas. Para ela, o guarda-roupa de cada um dos três concorrentes que pontuam melhor nas pesquisas mostra um pouco de sua personalidade.
Dilma Rousseff (PT) se destaca pela experiência de chefe de Estado, Marina Silva (PSB) transparece nas roupas as causas ambientalistas e Aécio Neves (PSDB) chama a atenção pela descontração. Confira a seguir o perfil de cada um deles e como o figurino adotado pode impactar na escolha do eleitor.
Dilma Rousseff: padrão chefe de Estado feminina
Cada um dos três principais candidatos à Presidência da República mostra uma personalidade forte pelas roupas e acessórios que usa© Montagem/EXAME.com Cada um dos três principais candidatos à Presidência da República mostra uma personalidade forte pelas roupas e acessórios que usa
O estilo da presidente da república é prático, na visão da especialista em moda, que indica também que as vestimentas de Dilma estão no “padrão chefe de Estado feminina”. As roupas escolhidas estão no mesmo tipo das usadas pela chilena Michelle Bachelet e pela alemã Angela Merkel, com peças de alfaiataria, conjuntos de calças, acessórios e maquiagem discretos e cabelos curtos.
Apesar de acertar na escolha de tons escuros, como azul marinho, e peças lisas e secas, que ajudam a alongar a silhueta, a candidata à reeleição costuma pecar nas proporções. “Blazers curtos demais, de cores claras ou fortes, e pouco acinturados, sem dúvida alguma não são os melhores aliados da candidata. Ela adota com frequência as mangas ‘três quartos’, provavelmente pelo conforto, mas o comprimento não lhe confere elegância”, afirma Paula.
Os cabelos curtos e tingidos e a maquiagem geralmente leve são outro trunfo de Dilma, mas a maquiagem definitiva no contorno dos olhos não favorece sua imagem, já que é não tem sutileza e dá uma expressão “sempre alerta” aos olhos.
A mestre em moda lembra que não é de hoje que Dilma aparenta seguir uma estratégia definida com suas roupas. No dia da posse do primeiro mandato, em 2010, a presidente usou um modelo off-white, em vez do vermelho do PT. “A escolha foi emblemática: o off-white, quase branco, é símbolo das noivas e debutantes. Dilma parecia querer sinalizar que o fato de ter sido eleita presidente transcendia a cor do seu partido”, diz.
A postura mudou, no entanto, quando teve sua posição nas pesquisas ameaçada por Marina Silva, e voltou a optar pelo vermelho no debate da Folha de São Paulo, Uol, SBT e Jovem Pan, em 1º de setembro. “Para quem, como eu, assistiu ao programa ficou claro o propósito: monopolizar a atenção do espectador e neutralizar a presença de Marina. O vermelho é uma cor historicamente vinculada ao poder a aos poderosos”, aponta Paula Acioli.
Marina Silva: o estilo das causas ambientais
Desde que se tornou a candidata principal do PSB na disputa pela presidência, com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva tem mostrado algumas mudanças no modo de se vestir, com a intenção clara de fortalecer sua imagem. “Foi a candidata que mais mudou seu estilo desde o início da campanha”, afirma a especialista, que considera acertada a mudança.
Na visão de Paula, a presidenciável parece ter entendido que é preciso adequar o vestuário para ficar à altura do cargo que almeja, e, para isso, não é necessário abrir das convicções políticas, religiosas ou gostos pessoais. Antes da reviravolta que levou Marina à corrida eleitoral, a então vice de Campos não usava maquiagem, sob alegação de ser alérgica, seus sapatos eram no estilo boneca e não tinham salto, suas saias eram longas demais, os cintos eram posicionados acima da cintura e os tops eram bastante largos.
Agora, passou a adotar peças de alfaiataria e conjuntos de calça, camisa social e blazers, em tons claros e neutros, além de scarpins com saltos. A maquiagem, antes desprezada, está presente de maneira sutil, com produtos adequados à pele da presidenciável. Mas é nos acessórios que Marina mostra com mais abertura seu lado “verde”.
“É interessante como repete acessórios, sobretudo colares, com frequência, o que particularmente é um ponto a favor: mostra seu lado ambientalista, sustentável. Por outro lado, a candidata deveria aproveitar essa predileção por peças do artesanato brasileiro, valorizando designers consagradas que produzem peças belíssimas, com caráter sustentável”, diz Paula Acioli. Para a pesquisadora de moda, falta um investimento da candidata em joias de designers de prestígio no país, inclusive brincos, para os momentos de maior formalidade e refinamento.
O ponto mais crítico no visual de Marina, no entanto, é o cabelo. “O penteado tem que ser revisto. O cabelo puxadíssimo para trás em coque de bailarina preso com fivelas é antiquado e envelhece”, diz. Uma sugestão dela para a candidata seria o “coque banana”, característico de ícones da moda como Audrey Hepburn e Costanza Pascolato. Outra ideia é adotar um bom corte que permitisse o uso dos cabelos soltos, para dar um ar mais jovem e mais próximo do eleitorado feminino.
Aécio Neves: tradicional, mas descontraído
Ao mesmo tempo em que mantém um estilo de político tradicional, Aécio Neves traz um ar descontraído. “Aécio é jovem, de família tradicional mineira, mas tem intimidade com o Rio de Janeiro, talvez por isso transmita informalidade e descontração, mesmo quando está de terno e gravata”, avalia Paula Acioli.
Em geral, Aécio não erra muito na escolha de suas roupas, segundo a especialista. As peças e cores sóbrias, geralmente em tom de azul, se encaixam nas ocasiões, seja um debate, seja o corpo-a-corpo na rua. Quando está mais à vontade, arregaça as mangas, no intuito de mostrar que está próximo do povo e que “faz acontecer”. No entanto, a pesquisadora acredita que o candidato poderia ser mais ousado em certos momentos.
“Ele poderia ousar um pouco mais nas campanhas nas ruas, usando camisetas polo, tênis e moletons com jeans. Nas ocasiões mais formais, como debates e recepções, poderia refinar o estilo com ternos mais ajustados, que lhe confeririam ainda mais elegância”, afirma. Assim como Marina Silva, seu maior ponto fraco é o cabelo.
Na opinião da entrevistada, o corte de Aécio faz com que seus cabelos pareçam desalinhados, desarrumados. Isso pode contar negativamente para o candidato. “Os cabelos em desalinho são interessantes e cool, mas em outro contexto, não para um candidato à Presidência da República”, diz Paula.

Diante dos pontos positivos e negativos dos três, a especialista não elege o mais elegante de todos. Para ela, independentemente do fato de se vestir melhor ou não, todos eles têm personalidades e estilos muito fortes. 

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