Hospital abre sindicância sobre agressão

Prefeitura também confirmou que pediatra trabalha na rede municipal de Saúde e poderá ser afastado
Míriam Bonora
miriam.bonora@jcruzeiro.com.br

O hospital da Santa Casa de Sorocaba abriu sindicância para apurar a denúncia de que um médico pediatra agrediu, com um tapa no rosto, um menino de três anos. A Prefeitura não informou o nome do médico, mas confirmou que ele também trabalha como pediatra da rede municipal de Saúde e que, se confirmada a agressão, o médico será afastado. O jornal conseguiu obter o nome do acusado, mas está sendo preservado porque ainda não há uma acusação formal contra ele.

De acordo com a resposta enviada por meio do Serviço de Comunicação (Secom) do governo municipal, o caso está sendo analisado pelas diretorias Clínica e Técnica do Hospital e uma sindicância está instaurada. O médico foi ouvido na manhã de ontem. "As partes já estão sendo ouvidas, inclusive as possíveis testemunhas, e o processo ético - administrativo já está em andamento", diz a nota.
Sobre um possível afastamento do pediatra, a Prefeitura diz que ainda não há motivos para tal atitude, pois o caso está em fase de averiguações. Porém, se a agressão ficar comprovada, ele será afastado. Após a apuração dos fatos, a Comissão de Ética Médica do Hospital será informada para então fornecer a documentação para o Conselho Regional de Medicina (Cremesp).

A reportagem tentou localizar o médico pediatra nas unidades municipais em que trabalha, mas ele não estava. Em uma Unidade Básica de Saúde (UBSs), a informação é de que ontem ele teria avisado que não iria comparecer à unidade. Não foram encontrados registros de algum consultório particular do médico, onde ele poderia ser encontrado, ou outra forma de contato para que ele pudesse dar sua versão do caso. No site do Cremesp há a informação de que ele não autoriza a divulgação de endereço ou algum telefone. 
A Prefeitura disse não que poderia fornecer o nome do pediatra, nem o número do registro no Conselho Regional de Medicina. Também não foi respondido se há alguma outra reclamação registrada contra ele na Ouvidoria da Saúde. 

Em um primeiro contato da direção da Santa Casa com o pediatra, a explicação dele seria de que ele não teria agredido a criança, que apenas segurou os braços do menino para concluir o exame. 

Cremesp também apura o caso
ðA delegacia de Sorocaba do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu sindicância para apurar a acusação contra o médico pediatra que teria agredido o menino de três anos, na última terça-feira, no Hospital da Santa Casa. A mãe da criança, Simone Mascarenhas, registrou boletim de ocorrência e o caso será investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). 
Segundo relato da mãe, o menino apresenta grave doença pulmonar e sofre de crises de asma. Durante o atendimento, a criança teria cuspido e atingido o médico, que teria acertado um tapa em seu rosto, deixando a face esquerda do menino com a marca dos dedos. A delegada da DDM, Ana Luiza Salomone, diz que ainda não recebeu a denúncia, que provavelmente seja encaminhada à delegacia hoje, mas que ainda terá que analisar o caso para definir quando os envolvidos serão chamados para depor.

No Cremesp a investigação já foi aberta, depois que o delegado superintendente da regional, o médico Jefferson de Oliveira Delfino, soube hoje da acusação por diversos veículos de imprensa. Como não há confirmação do nome do médico, o delegado do Cremesp diz que o Hospital será contatado para informar detalhes do que houve e quem estava envolvido. Depois disso o profissional, a mãe do garoto e outras possíveis testemunhas serão ouvidos. 

Delfino avalia que, se realmente a agressão ocorreu como o relatado pela mãe, essa atitude é inaceitável. "Precisamos saber se aconteceu mesmo, se era médico e quem é o médico. Mas se aconteceu, é difícil achar justificativa. Extrapola qualquer limite do razoável". 

O delegado do conselho analisa que, se comprovada a agressão, o pediatra precisa de tratamento. "Se aconteceu, ele deve estar doente. Não estou desculpando ninguém, mas o caso é tão insólito, que a única coisa que dá para pensar é que, se for mesmo médico ou enfermeiro, que precisa de um tratamento e algum nível de reciclagem".

Dentre as possíveis punições ao pediatra em caso de comprovação da agressão, as penas podem ser de advertência reservada, reprimenda escrita, advertência pública, 30 dias de suspensão ou cassação do exercício da Medicina. Delfino acredita que outra possibilidade é a interdição cautelar para que ele se trate, protegendo tanto a sociedade quanto o profissional.
Sobre o preparo que um médico pediatra deve ter em lidar com o público infantil, o médico do Cremesp comenta que, geralmente, não se procura essa especialidade se o profissional não tiver paciência com crianças. "Criança às vezes tem atitudes inconvenientes, mas é para ter um contato diferente, orientar os pais, pedir para conter o filho. Nunca partir para agressão física".

A expectativa é que a sindicância caminhe rapidamente para dar uma resposta à sociedade sobre o caso. O delegado do Cremesp acredita que dentro de uma semana os envolvidos devem estar sendo ouvidos. Uma pesquisa do histórico do pediatra também será feita para descobrir se esse comportamento é repetitivo, se há outras reclamações.

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