Cai 14% número de especialistas em um ano

A maior queda foi registrada na área de ortopedia e traumatologia, que teve redução de 15 médicos para 10

No ano passado, a rede municipal de saúde de Sorocaba perdeu um total de 23 médicos especialistas que faziam atendimento à população. De acordo com levantamento divulgado pela Secretaria da Saúde, o número de profissionais caiu de 190, que atuavam em 2013, para 167 registrados até o início de dezembro do ano passado, o que corresponde a uma redução de quase 14% no quadro. A falta de especialistas foi uma das justificativas dadas pelo coordenador médico da Policlínica Municipal, Adilson Esquerdo Lopes, para o tempo de espera no agendamento de consultas, que chega a mais de três meses em algumas especialidades.

De acordo com a Secretaria da Saúde essa redução foi motivada principalmente por pedidos de demissão por parte dos médicos e também por aposentadorias. A maior queda ocorreu na área de ortopedia e traumatologia, que caiu de 15 profissionais que faziam atendimento em 2013 para 10 no ano passado, ou seja, cinco a menos.

A segunda maior redução foi sentida na área de gastroenterologia, que perdeu quatro profissionais no período, passando de 18, em 2013, para 14 atualmente. Houve enxugamento também nas áreas de ginecologia e obstetrícia (de 53 para 50), neurologia (de 4 para 3), cardiologia (de 11 para 10), oncologia clínica (de 3 para 1), geriatria (de 2 para 1), cirurgia vascular (de 2 para 1), cirurgia geral (de 3 para 1), oftalmologia (de 3 para 2) e coloproctologia (de 6 para 4).

No caso de duas especialidades - angiologia e reumatologia - atualmente não existem mais profissionais disponíveis na rede. Até o ano passado três médicos faziam o atendimento nessas áreas. Apenas na área de psiquiatria e endocrinologia houve aumento na equipe, passando de 10 para 12 psiquiatras e de 7 para 8 endócrinos.

Demanda reprimida

Segundo a Secretaria da Saúde, cerca de 31 mil pacientes aguardam agendamento de consultas ambulatoriais em especialidades médicas. A maior demanda refere-se à área de neurologia, que somava uma demanda reprimida de 8.222 pacientes até outubro do ano passado. É justamente essa área apontada pela própria Secretaria como a de maior carência de profissionais.

Até outubro de 2014, a Policlínica de Sorocaba realizou um total de 151.062 atendimentos em 32 especialidades médicas, com uma média de 15,1 mil atendimentos por mês. O maior número de atendimentos nos primeiros dez meses do ano passado se concentrou na área de ortopedia e traumatologia (15.611), seguida da cardiologia (15.003), urologia (14.697), psiquiatria (12.794), ginecologia e obstetrícia (11.701) e dermatologia (10.010).

Novo concurso

Para tentar reduzir essa fila de espera, a Secretaria da Saúde vai realizar um novo concurso público para a contratação de médicos para a rede municipal. São vagas para clínico geral (25), ginecologista (3), pediatra (3), psiquiatra (1), clínico geral plantonista (15), pediatra plantonista (2), psicólogo (1), cirurgião dentista (1), fonoaudiólogo (1), além de enfermeiro (1) e farmacêutico (1).

O último concurso para a contratação de médicos foi realizado em junho do ano passado, mas a Prefeitura não conseguiu preencher o número de vagas disponibilizados. Menos da metade dos 142 médicos aprovados assumiram as vagas na rede pública de saúde. Na ocasião foram abertos 189 cargos, sendo que apenas 67 foram preenchidas.

Angústia da espera

Enquanto o problema da falta de médicos especialistas não é resolvida, pacientes que precisam passar por consulta têm que enfrentar uma longa espera para conseguir agendamento. A dona de casa Cleusa de Matos, 50 anos, disse que sua mãe ficou mais de um ano tentando uma vaga para passar por um pneumologista. "Ela teve que desmarcar um agendamento pois passou por uma cirurgia, depois disso a gente não conseguia mais reagendar, pois sempre diziam que não havia vaga. O jeito foi esperar, pois não dá para pagar R$ 300 por uma consulta particular." Ontem a sua mãe iria passar pela consulta e a expectativa era conseguir marcar um retorno. "A gente nunca sabe quanto tempo pode demorar".

A dona de casa Fátima Tereza Martins, 55 anos, conta que além da dificuldade de conseguir vaga com mastologista, por duas vezes a sua consulta foi desmarcada. Ela disse que chegou a procurar a Ouvidoria da Prefeitura para reclamar do tempo de espera para a remarcação da consulta. Além de enfrentar a preocupação da suspeita de um câncer, Fátima ainda teve passar pela angústia de não conseguir passar pela médica. "Felizmente o câncer foi descartado, mas terei que passar por uma cirurgia para retirada de um nódulo. Só não sei quando vou conseguir marcar ainda."

A doméstica Márcia Botelho Nunes, 38 anos, teve que ameaçar entrar na Justiça para conseguir uma vaga para sua mãe passar em consulta com um urologista. Ela conta que há três meses ficou à espera de um encaminhamento pela Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro, mas sempre recebia como resposta que não havia vaga. "Como minha patroa é advogada, ela disse que poderia conseguir uma liminar na Justiça, pois o caso da minha mãe era de urgência. Quando falei isso na UBS eles arrumaram a vaga na hora", contou.

Presidente da Sociedade Médica defende uma mudança de conceito

O presidente da Sociedade Médica de Sorocaba, Jefferson Delfino, considera que a discussão sobre a falta de médicos especialistas na rede pública deve passar também por uma mudança de conceito sobre o modelo de atendimento que tem pautado o tratamento médico. Ele defende que o grande mote da assistência médica deve ser voltado para o médico generalista. "O encaminhamento para um especialista em determinada área deve ser algo incomum, que efetivamente não possa ser resolvido por um clínico geral, e não uma regra como acontece na maioria dos casos hoje."

Delfino reconhece que essa mudança deve partir tanto dos pacientes, que se sentem frustrados quando não são encaminhados para um especialista, como pelos próprios médicos. "Existe um pressão para que se faça esse encaminhamento, mesmo em casos que poderiam simplesmente ser acompanhados por um generalista. É necessária uma rediscussão desse modelo de atendimento", defende.

O presidente da Sociedade Médica considera que o problema da falta de especialista na rede não deve ser resolvido com a realização de novos concursos. Ele argumenta que nem sempre existe o interesse desses profissionais de atuarem na rede pública onde o ganho é menor e falta infraestrutura adequada. "O problema é o modelo de gestão e não a falta de especialistas. É preciso mudar esse tipo de raciocínio".

Postar um comentário

0 Comentários