Jogador preso por estupro busca clube e causa polêmica

Ched Evans nunca foi um jogador de futebol que chamou a atenção nos gramados. Mas nos últimos meses seu nome tem sido um dos mais comentados na Grã-Bretanha, por razões em nada ligada ao esporte.
Condenado em abril de 2012 a cinco anos de prisão sob a acusação de ter estuprado uma jovem de 19 anos, o galês foi solto em outubro do ano passado em liberdade condicional. E desde então tem visto suas tentativas de voltar aos gramados serem frustradas por uma combinação de hesitação por parte dos dirigentes, problemas legais e indignação popular.
A mais recente tentativa ocorreu durante o fim de semana, quando veio à tona que o Oldham Athletic, clube da Terceira Divisão da Inglaterra, teria estudado contratar Evans, que aos 26 anos tem 157 partidas como profissional, incluindo 16 pelo Manchester City, da divisão de elite inglesa e 13 jogos disputados pela seleção do País de Gales.
Patrocínios
Numa questão de dias, um abaixo assinado com mais de 20 mil assinaturas foi enviado ao Oldham Athletic condenando uma possível contratação. O debate envolveu até políticos, como o líder da oposição na Grã-Bretanha, o trabalhista Ed Milliband.
"Eu não o empregaria (Evans) se pudesse tomar a decisão pelo Oldham. Ele cometeu um sério crime e não mostrou remorsos", afirmou.
Patrocinadores do clube também ameaçaram romper contrato caso o jogador seja contratado. Mas uma das empresas associadas ao clube, a Web Applications UK, disse que continuará sua relação com o clube independentemente da decisão que tome a respeito de Evans.
"Privar um ser humano do direito de trabalhar deveria ser uma decisão tomada por um sistema judicial que analise de forma imparcial os direitos de um indivíduo em comparação com os da sociedade. Essa decisão não cabe a uma empresa", disse o diretor da Web Applications UK, Craig Dean, num comunicado.
Evans enfrentou uma oposição ainda maior quando tentou retornar ao último empregador antes de ser preso, o Sheffield United. Apesar de ter inicialmente aceito o pedido de Evans para treinar com seu elenco, algo endossado pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais (PFA), o clube voltou atrás depois de uma barragem de críticas do público e da mídia, incluindo outro abaixo-assinado, dessa vez com 160 mil assinaturas.
Tentativas em outros clubes de divisões inferiores inglesas, como o Hartlepool United e o Tranmere Rovers também não avançaram. E mais recentemente, o clube maltês Hibernians ofereceu um contrato para Evans, mas a chance de emprego esbarrou na legislação britânica, que não permite que presos em liberdade condicional trabalhem no exterior.
Num vídeo divulgado no ano passado, o jogador afirmou que sexo com moça de 19 anos foi consensual
Nas poucas vezes em que se pronunciou publicamente desde sua libertação, Evans disse ter sido condenado injustamente e que as relações sexuais que teve com a moça foram "consensuais". Seus advogados entraram com um recurso junto à Comissão de Revisão de Casos Criminais (CCRC, em inglês), um processo que pode durar até três anos. "Estou determinado a limpar o meu nome", afirmou ele, num vídeo publicado no site YouTube.
O caso ganhou repercussão na Grã-Bretanha porque a libertação de Evans ocorreu num momento em que a legislação sobre casos de estupro tem sido duramente criticada no país por grupos de defesa dos direitos femininos.
Em agosto, por exemplo, o jornal The Independent revelou que apenas 28% dos casos de estupro britânicos tinham chegado até os tribunais.
Na internet, o debate sobre Evans ficou acalorado e virou caso de polícia quando usuários revelaram o nome da vítima do jogador.
Para o comissário da polícia de Greater Manchester, região em que fica a cidade de Oldham, uma segunda chance para o jogador galês seria algo inapropriado diante da recusa do jogador em mostrar algum tipo de remorso pelo episódio.
Evans, no entanto, não é o primeiro caso de jogador buscando uma segunda chance. Marlon King, preso em 2009 por assédio sexual e por ter quebrado o nariz de uma mulher, voltou a jogar. Luke McCormick, condenado a sete anos de prisão em 2008 por ter causado a morte de duas crianças ao dirigir embriagado, retomou sua carreira pelo mesmo clube em que atuava, o Plymouth Argyle.

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