BNDES trava R$ 5,8 bi para obra de alcoolduto

A Construtora Camargo Corrêa prepara a sua saída da Logum Logística, empresa responsável pela construção do alcoolduto de 850 quilômetros que atravessa quatro Estados brasileiros e requer mais de R$ 7 bilhões em investimentos. A decisão ocorre no momento em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) trava o financiamento de R$ 5,8 bilhões para a empresa continuar a obra. 
Um dos principais motivos para o banco protelar a liberação do empréstimo é o fato de a Logum ter entre seus sócios três empresas investigadas na Operação Lava Jato: Petrobrás, que detém 20% de participação, a Odebrecht, que tem outros 20%, e a própria Construtora Camargo Corrêa, com 10%. Os outros sócios do empreendimento são Copersucar, Raízen (do grupo Cosan) e Uniduto Logística, que reúne usinas de açúcar e álcool.
Outro ponto que atraiu a atenção sobre a Logum foi o fato de que há até pouco tempo o seu presidente era Roberto Gonçalves, ex-integrante de uma equipe que se reportava ao ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, delator na Lava Jato. 
A Logum está sendo submetida a uma auditoria interna, nos moldes do que é feito hoje na Petrobrás. A conclusão está prevista para ser entregue aos sócios nesta semana. 
Setor. A situação da Logum tornou-se um tema delicado entre seus sócios, que, procurados pela reportagem, não quiseram falar sobre o assunto. Além dos problemas por ter acionistas envolvidos na Lava Jato, a companhia também está numa situação economicamente delicada.
Os potenciais clientes do setor de açúcar e álcool vivem uma das maiores crises de sua história e pouco têm a transportar pela parte dos dutos que já está pronta. No começo do ano passado, os dutos que saíam de Ribeirão Preto até o polo petroquímico de Paulínia tinham apenas 10% de sua capacidade de transporte sendo utilizada. A empresa não informa qual é a atual situação.
Em agosto, antes de a Operação Lava Jato ganhar a atual dimensão, a Logum conseguiu refinanciar o empréstimo-ponte de R$ 1,7 bilhão que tinha com o próprio BNDES. Esse empréstimo é em sua maior parte garantido por fianças dos bancos Bradesco e Santander, que teriam de assumir um eventual calote caso o empreendimento não vá para a frente. Procurados, os bancos não comentaram. 
O balanço da Copersucar de 2013 informa, entretanto, que em caso de inadimplência os próprios sócios teriam de aportar recursos na empresa, além dos que já foram investidos. Juntos, os sócios colocaram R$ 1,5 bilhão no negócio. O trecho entre Ribeirão Preto (SP) e Uberaba (MG) já foi concluído. Na próxima etapa, Uberaba será ligada a Itumbiara (GO). 
Sociedade. A Camargo Corrêa está agora tentando sair da sociedade, mas afirma que isso não prejudicaria a construção desse segundo trecho que já está em fase de finalização. A saída da Camargo resolveria em parte o problema com o BNDES, que fez novas exigências de garantia, mas não aceita as que venham da Camargo. Os outros sócios teriam de dar garantias pela empresa. 
Em nota enviada ao Estado, a construtora informou que contratou uma consultoria para realizar o desinvestimento. Segundo um outro sócio, uma das soluções seria os atuais acionistas comprarem a parte da Camargo. “Mas é preciso ter preço bom”, diz um deles.
Para lembrar. Ao ser concebida, a rede de dutos para o transporte do combustível à base de cana-de-açúcar gerou uma polêmica semântica. Não se sabia ao certo se deveria ser chamada de alcoolduto, duto de etanol ou dutovia. Ninguém nunca questionou, porém, a sua importância para tornar o preço final do produto mais competitivo. À medida que novas usinas eram construídas no interior do Brasil, cada vez mais longe dos maiores centros urbanos e dos portos, esta seria a alternativa mais inteligente e barata para escoar a produção, Estima-se que o transporte por uma dutovia seja um terço do custo do da rodovia. 
O projeto da Logum, porém, não se resume a uma rede de tubos. Prevê a criação de um sistema de logística. Vai ligar regiões produtoras nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul ao principal ponto de armazenamento de distribuição, em Paulínia (SP) e Duque de Caxias (RJ). Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou a obra, em Ribeiro Preto. 

Postar um comentário

0 Comentários