Sorocaba tem mais 4.663 casos de dengue, 5 mortes e cria Centro de Monitoramento

O aumento de 115% em uma semana fez a cidade atingir a marca de 8.693 casos confirmados


Regina Helena Santos

regina.santos@jcruzeiro.com.br 

Em apenas uma semana, Sorocaba registrou 4.663 novos casos de dengue. O aumento de 115% fez o município atingir a marca de 8.693 pacientes diagnosticados com a doença. Cinco mortes já foram confirmadas por exames do Instituto Adolfo Lutz, na capital. Outros três óbitos aguardam os resultados dos testes laboratoriais. Para melhorar o atendimento aos doentes e desafogar as unidades de saúde - que, com o grande aumento de casos, já enfrentam dificuldade de acolher à demanda - a Secretaria de Saúde implantou um Centro de Monitoramento da Dengue, unidade de retaguarda, que funcionará a partir de amanhã ao lado da Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Zona Leste, por 90 dias.

Do total de casos notificados de 1º de janeiro a 1º de março, 2.957 foram confirmados por testes laboratoriais e 5.736 por exame clínico. Um total de 188 pessoas precisaram de internação e 20 apresentaram sinais hemorrágicos - o que, segundo o secretário da Saúde, Francisco Antônio Fernandes, não significa, necessariamente, que tiveram evolução para a dengue hemorrágica. Dez pacientes precisaram ser internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

Segundo Fernandes, com exceção da primeira vítima da doença na cidade, que tinha 57 anos, as outras quatro mortes foram de pacientes com mais de 60 anos - dois da zona oeste, dois na zona norte e um na zona leste. As pessoas desta faixa etária, assim como as crianças com menos de dois anos e as gestantes, são os grupos que realmente merecem mais atenção no contágio. "Eles possuem uma resposta imunológica diferenciada e, no caso dos idosos, há ainda as comorbidades", explicou o secretário, referindo-se a doenças como hipertensão, diabetes e cardiopatias. 

Na projeção do secretário, se o crescimento da doença continuar tendo o avanço apresentado nas últimas semanas, a cidade deverá chegar a cerca de 30 mil casos até junho. Porém, Fernandes alerta que essa estimativa muda a cada semana, a partir do número de novos doentes. Pela evolução das notificações na última semana - e nos últimos dias - a expectativa da Secretaria de Saúde é de que seja sentida uma estabilidade e início de queda do volume de doentes a partir dos próximos 15 dias. "Estamos no pico da doença. Porém, isso não significa que devemos relaxar. Muito pelo contrário. Temos que manter o tônus." Já em relação aos óbitos, o secretário explica que não é possível estimar quantos pacientes devem ser vítimas fatais da doença no município. "Existem cidades com menos casos e que tiveram mais mortes." O esforço da secretaria, segundo Fernandes, é garantir o cuidado adequado aos doentes para evitar as complicações da dengue - e, como consequência, a necessidade de pacientes mais graves de ocuparem leitos hospitalares e de UTI.

O boletim epidemiológico da semana foi apresentado na tarde desta quarta-feira, em coletiva de imprensa que contou com a presença de três secretários municipais, já que as ações de combate ao avanço da doença na cidade já envolvem várias pastas da administração municipal. O presidente do Parque Tecnológico de Sorocaba, Flaviano Agostinho de Lima, reforçou que está sendo iniciado um trabalho de georreferenciamento para auxiliar no levantamento e organização dos dados. "O problema da dengue não é uma questão só de Sorocaba, mas de nossa Região Metropolitana. Precisamos, a partir de agora, buscar a integração entre os municípios." Estiveram presentes na coletiva, ainda, a diretora da Vigilância em Saúde, Daniela Valentim dos Santos, o secretário de Serviços Públicos, Oduvaldo Arnildo Denadai, o coordenador geral da Defesa Civil de Sorocaba, Roberto Montgomery Soares e o secretário-chefe de gabinete, Rodrigo Maldonado.

 


Avanço nos bairros

Na última semana a dengue continuou avançando em alguns bairros que já vinham registrando um grande volume de casos. As situações de alerta estão no Nova Sorocaba (794 casos), Nova Esperança (748), Lopes de Oliveira (699), Vila Angélica (486), Mineirão (461), Márcia Mendes (380), Sorocaba 1 (350), Barcelona (337) e Jardim Maria do Carmo (333). O bairro com menos casos é o Cajuru, com 48 doentes notificados.

No ranking nacional, Sorocaba continua liderando a lista de cidades com mais casos entre os municípios de 500 mil a um milhão de habitantes. Porém, o banco de dados nacional está com informações relativas há duas semanas. "Esses dados que apresentamos hoje nós temos porque contamos na mão. São os mais próximos possíveis da realidade. Há dificuldade em alimentar o sistema, que é muito lento", explicou a diretora da Vigilância em Saúde, referindo-se às notificações que devem ser feitas, ao Ministério da Saúde, por sistema informatizado. 

Unidade especial acolherá os pacientes já diagnosticados
O Centro de Monitoramento da Dengue começará a funcionar amanhã pela manhã, num prédio anexo à Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Zona Leste, e será um local de retaguarda do sistema de saúde para acolhimento dos pacientes já diagnosticados com a doença. Quem administra a unidade e será responsável pela estrutura e profissionais que atuarão no local é o Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), que já faz isso com o atendimento de emergência. A Prefeitura fez um aditivo de contrato no valor de R$ 1 milhão para que a entidade faça funcionar o centro 24 horas, pelo período de 90 dias. 

O secretário de Saúde, Francisco Antônio Fernandes, admitiu que a necessidade de criação do Centro se deu pelo grande avanço da doença na cidade e, como consequência, a dificuldade das unidades em atender à tamanha demanda. Segundo Fernandes, atualmente 70% dos atendimentos da UPH Zona Leste têm sido de pacientes com dengue. Na UPH Zona Norte o índice é de 50%. 

Na prática, serão encaminhados ao Centro de Monitoramento os pacientes que já passaram por outras unidades de saúde e que já tiveram a doença diagnosticada. "O primeiro contato do paciente com sintomas de dengue continua sendo a rede básica, nas Unidades Básicas de Saúde, as Unidades Pré-Hospitalares e os pronto-atendimentos", explicou o secretário. Depois de ter passado por um médico que confirmou a doença, nestes locais, o doente será encaminhado ao novo posto, se necessário, para se hidratar e acompanhar a evolução da doença. Isso porque todo paciente com dengue necessita de um monitoramento sobre o avanço do quadro clínico ao longo dos dias. Esse acompanhamento, entretanto, também continuará a ser feito, dependendo do caso, nas demais unidades. Segundo Daniela Valentim dos Santos, diretora da Vigilância em Saúde, ainda podem procurar atendimento no Centro de Monitoramento os pacientes que possuem o cartão de suspeito, um documento com validade de dez dias, emitido pela rede pública, que identifica que aquela pessoa teve os sintomas da doença. 

O Centro de Monitoramento da Dengue terá, segundo exigências da Prefeitura ao BOS, no mínimo dois médicos de plantão, num atendimento 24 horas, além de toda a equipe de enfermagem necessária para tratamento e monitoração dos doentes. São 30 leitos disponíveis para hidratação, sendo 27 poltronas e três macas, além de uma outra maca disponível para casos emergenciais. A unidade começa a operar às 7h de amanhã na rua Carlos Sonetti, 814, Jardim Prestes de Barros. Segundo o secretário, além do novo Centro, o BOS também irá reforçar o número de leitos da UPH Zona Leste, com a implantação de mais 20 deles nos próximos 30 dias, sem qualquer custo adicional para a administração municipal. 

Espera


Segundo Daniela Valentim, é preciso que a população entenda que os pacientes menos graves com dengue irão realmente esperar mais pelo atendimento nas unidades de saúde. Isso porque para os profissionais da área, as pessoas com sitnomas são divididas em quatro grupos: A, B, C e D. "Os pacientes do grupo A, que não têm outras doenças, não estão com sangramentos, irão esperar mais que uma criança ou idoso. Esses outros irão passar na frente mesmo. Estimo que hoje, o tempo de espera destas pessoas do grupo A é de três a quatro horas", esclarece. Os pacientes do grupo B, onde se encaixam os maiores de 60 anos e menores de dois anos, além das gestantes e todos que possuem alguma outra patologia - como hipertensão, diabetes e cardiopatias - são aqueles que precisam de um acompanhamento mais de perto sobre a evolução da doença. Já os C e D são os que já apresentam alguma complicação, como sangramentos e eventos hemorrágicos, e muitas vezes necessitam de internação imediata.

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