Casos de abusos de crianças kalunga ocorrem há mais de 20 anos, diz líder

  • 20/04/2015 16h51
  • Cavalcante (GO)
Juliana Cézar Nunes - Enviada especial da Agência Brasil/EBC Edição: Fábio Massalli
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realiza audiência pública em Cavalcante (GO) para apurar denúncias de abusos contra meninas do povo Kalunga (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
População de Cavalcante comparece em peso à audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara que apura denúncias de abuso sexual de crianças da Comunidade KalungaMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Cerca de 300 pessoas acompanham, na tarde de hoje (20), na cidade de Cavalcante, Goiás, uma audiência pública especial da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que apura denúncias de abusos e exploração sexual de crianças da Comunidade Quilombola Kalunga. Os moradores lotam o auditório da sede do centro de convivência onde funciona o Programa de Erradição do Trabalho Infantil (Peti) do município.
A lider comunitária da Comunidade Kalunga do Engenho, Dalila Reis Martins, de 28 anos, afirmou na audiência que o trabalho doméstico e a exploração sexual de meninas quilombolas ocorre há mais de duas décadas. Dalila foi vítima de trabalho infantil doméstico e de abuso sexual. “Existe uma rede de aliciadores que traz meninas quilombolas para Cavalcante, Goiânia e Brasília. Temos recebido na comunidade meninas que fogem das cidades e relatam uma série de violências que sofreram.”

O delegado Diogo Luiz Barrera disse que, desde janeiro deste ano, foram concluídos dez inquéritos políciais sobre abusos e exploração sexual de crianças em Cavalcante. Um deles resultou na prisão de um dos acusados. “Em  outro inquérito, já concluido, temos todos os indícios necessários para a prisão de um político local, mas até agora não obtivemos a autorização judicial”, disse o delegado.
A professora Lucimar Ferreira dos Santos trouxe cartazes pedindo punição para os responsáveis pelos crimes. “Fiquei surpresa com esses casos e quero que eles sejam devidamente apurados e punidos para que as crianças quilombolas tenham paz.”
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realiza audiência pública em Cavalcante (GO) para apurar denúncias de abusos contra meninas do povo Kalunga (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Desde  janeiro,  foram concluídos em Cavalcante  dez inquéritos sobre abusos e exploração de crianas,  diz  o delegado  Barrera Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A deputada Érika Kokay (PT-DF), integrante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, quer acionar o Conselho Nacional de Justiça para esclarecer a postura do Judiciário e entender o por quê da demora na punição dos responsáveis. A parlamentar disse que, além de apuração e punição, a comunidade precisa de políticas publicas para assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes. De acordo com ela, as escolas das comunidades quilombola e também da cidade estão em situação precária, assim como os equipamentos públicos de esporte e lazer e os conselhos tutelares.
Localizado a 322 quilômetros de Goiânia e a 300 de Brasília, município de Cavalcante tem, segundo o último censo do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), população estimada em 9.747 habitantes. Em 2013, apresentou Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,54. O IDHM é resultado da média de três categorias: renda, educação e longevidade. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.
A comunidade quilombola Kalunga foi criada a partir da luta de africanos escravizados na região onde hoje se situam os municípios goianos de Teresina, Cavalcante e Monte Alegre. Trata-se do maior território quilombola já identificado no Brasil, com cerca de 8 mil pessoas.

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