Moradores do Complexo do Alemão pedem paz e justiça em protesto pacífico

  • 04/04/2015 14h51
  • Rio de Janeiro
Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil Edição: Jorge Wamburg
Centenas de moradores do conjunto de favelas do Complexo do Alemão fizeram um protesto pacífico no final da manhã de hoje (4), caminhando pelas duas principais vias da região, as avenidas Itararé e Itaoca, para pedir paz na comunidade e justiça pela morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos. O garoto foi atingido na quinta-feira (2) por uma bala perdida, na porta de casa. No dia anterior (1º), tiroteios na região tinham feito quatro mortos e deixado uma pessoa feriada.
Os moradores acusam a Polícia Militar (PM) de fazer o disparo, mas o comando da corporação ainda está investigando o fato. Carregando cartazes, pedaços de tecido e balões brancos, os moradores partiram da localidade conhecida como Grota e seguiram até a praça principal do bairro de Inhaúma, do outro lado da comunidade.
Moradores do Complexo do Alemão fazem protesto pacífico pedindo paz na comunidade e justiça pela morte do menino Eduardo de Jesus, 10 anos, atingido na quinta-feira (2) por uma bala perdida (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Moradores carregaram cartazes em que pediam o fim da violênciaTomaz Silva/Agência Brasil
Durante todo o trajeto, foram seguidos de perto por dezenas de policiais militares, que não intervieram no protesto. Em alguns momentos mais tensos, as pessoas vaiaram veículos da PM, principalmente da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e o blindado conhecido como Caveirão.
Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino Eduardo de Jesus, 10 anos, morto na quinta-feira (2) atingido por uma bala perdida, participa de protesto pacífico pedindo paz na comunidade (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Terezinha, mãe de Eduardo, passou mal e deixou o  protesto antes do fim   Tomaz Silva/Agência Brasil
A mãe de Eduardo, a diarista Terezinha Maria de Jesus, participou do início do ato, mas teve de ser retirada, ao se descontrolar e passar mal. Ela culpou a PM pela morte do filho. "Eles estão matando os inocentes. Essa polícia assassina tirou a vida do meu filho. Esses covardes", protestou Terezinha.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Marcelo Freixo (PSOL), esteve no protesto e questionou a política de segurança do governo do estado. "Tem que ter uma solução para isso, porque estamos falando da vida das pessoas. O primeiro passo é ouvir os moradores. Isso nunca aconteceu, nem para construir o teleférico nem para pensar em um modelo de polícia. É preciso parar com o discurso da guerra. Tem que ter diálogo", disse.
O líder comunitário Rene Silva, criador do jornal Voz da Comunidade, citou o aumento da violência como a principal causa do protesto: "O motivo da manifestação é a insatisfação das pessoas com essa violência, que já está desde o início do ano aqui no complexo. Estamos há 90 dias sem deixar de ouvir tiroteios. A solução não é reforçar o policiamento. Passa por investimento em outras áreas, que não chegaram com a mesma força que a polícia chegou na comunidade, como as áreas cultural e social".
O presidente da Associação de Moradores da Palmeira, Marcos Valério Alves, conhecido como Marquinho Pepé, fez questão de ressaltar que o ato não era contra a polícia, mas sim pela paz e pelo respeito mútuo. "O nosso objetivo é pela paz e pela vida. Não somos contra a UPP. Só queremos policiais comprometidos com a vida. Queremos um comandante que chame a população para conversar, que haja o diálogo. Nós queremos o nosso direito de ser respeitados. Hoje não existe nem respeito nem tolerância dentro do Alemão", disse Pepé.
Por meio de nota publicada ontem (3), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, informou que todas as despesas com o traslado e sepultamento do corpo do menino Eduardo para o Piauí, terra natal da família, serão pagas pelo estado. Pezão também se disse profundamente consternado com o caso e garantiu que a morte do garoto não ficará impune.
Os policiais envolvidos na ocorrência foram afastados das ruas e estão respondendo a um inquérito policial militar (IPM). As armas deles foram recolhidas e passarão por exame balístico.

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