Ibope: Lula lidera em votos definidos com 19%, seguido por Marina e Aécio; atribui impeachment a “quadrilha”; Temer tem 8% antes de se entregar às bancadas BBB


25 de abril de 2016 às 14h55
  
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Da Redação
Comparem as provas divulgadas pelas autoridades contra Eduardo Cunha — límpidas, cristalinas, envolvendo milhões e milhões de reais em propina paga fora do Brasil — e as mencionadas contra Lula — palestras que ele diz que pode provar que foram feitas, propriedade de um sítio cuja documentação completa, inclusive com a origem do dinheiro da compra, está explicada.
E, no entanto, enquanto a Lava Jato estaria pronta para prender Lula, Eduardo Cunha liderou o processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara e pode se tornar o vice-presidente da República em alguns dias, sob o olhar complacente do STF.
Como explicar?
Talvez a mais recente pesquisa Ibope ajude. Divulgada pelo Estadão, ela demonstrou queda no potencial de votos dos principais candidatos em 2018 ou numa eleição antecipada: Marina caiu de 56% para 39%, Aécio Neves de 51% para 32%; Lula foi de 58% para 31%; Serra de 32% para 28%, Geraldo Alckmin de 29% para 24%, Ciro de 20% para 19%; Bolsonaro tem 11%.
Foi a forma educada que o Estadão escolheu de esconder outro dado — o dos votos cativos, já definidos, que independem da campanha: Lula tem 19%, Marina 12%, Aécio 11%, Serra 7%, Alckmin 6%, Bolsonaro 5% e Ciro 4%.
Resumo: apesar de ter enfrentado o maior massacre midiático que um político brasileiro já enfrentou, durante meses e meses, Lula ainda tem potencial eleitoral. Sem campanha, mantém o teto tradicional do PT de um terço do eleitorado. Parte de um patamar de 19% de votos garantidos.
Por isso a pressa em prendê-lo?
Aliás, Dilma bate Temer de 25% a 8% na preferência do eleitorado. 62% querem Diretas Já, que diante da profunda crise política nos parece a saída menos ruim.
Temer tem 8%, diga-se, sem que tenha colocado os pés no Planalto para seus seis meses de governo, sem que tenha adotado uma só política regressiva das que pretende adotar.
Integrantes das bancadas BBB — Bala, Boi e Bíblia — já apresentaram a conta ao vice-presidente.
Querem apoio à revogação do Estatuto do Desarmamento, cortar programas relacionados ao MST e apoio à PEC que transfere do Executivo para o Congresso a palavra final sobre demarcação de terras indígenas. Isso sem mencionar a agenda econômica:
Tem que mostrar serviço primeiro. Tem que dar o exemplo, cortar desperdício, cortar gastos, acertar as contas dentro do orçamento. A partir daí, com a retomada do crescimento, a arrecadação de impostos aumentará naturalmente. Paulo Skaf, o homem do Pato, empurrando a conta em ombros alheios e trazendo de volta a Reagonomics
Formada por parlamentares ruralistas, evangélicos e defensores de propostas ligadas à segurança pública, a chamada bancada BBB – uma referência à “Boi, Bíblia e Bala” – foi fundamental na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no último dia 17. A proporção de votos que seus integrantes deram contra a petista foi muito maior do que o apresentado no resultado final. O placar do plenário da Câmara foi de 367 votos a favor e 137 contra, uma proporção de 2,6 a favor para cada voto contrário. Na bancada evangélica, o placar foi 163 x 24 (uma proporção de 6,7 a 1), enquanto na da segurança foi 245 x 47 (5,2 favoráveis para cada contrário). O desempenho faz com que essas bancadas queiram conquistar na era Temer toda a interlocução com o governo e apoio oficial no andamento de sua agenda no Congresso. Do Estadão
Eu quero que o dinheiro chegue a quem realmente precisa. O curioso é que o cadastro único mostra que aqueles que são realmente pobres, orgulhosamente e, em certo sentido, timidamente, declaram de forma fidedigna a renda deles. Mas tem um monte de gente que não é tão pobre e, na maior cara de pau, declara ter renda zero. […] Evidentemente, tem gente que vai sofrer. Na hora que a gente fizer isso no Bolsa Família, tem gente que está recebendo o benefício, e talvez não fosse para receber tanto assim. Vai perder. Nesse trabalho de arrumar a política pública, e política social em particular, o pobre vai sair ileso, ganhando. Mas aquele que já não é tão pobre – não pertence aos 40%, até 50% mais pobres – vai ter de ouvir a verdade: cara, não adianta reclamar, você já não pertence mais a esse grupo, segue em frente, toca a tua vida aí. Obviamente que vai ter um monte de gente reclamando. Mas você não vai arrumar as coisas, se não mudar a ótica.Ricardo Paes de Barros, economista que assessora Temer e sugere mexer no Bolsa Família e no Pronatec.
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Lula diz que impeachment é articulado por uma “quadrilha legislativa”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (25) que o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo conduzido por uma “quadrilha legislativa”. Lula participa de encontro promovido pela Aliança Progressista, uma rede internacional de partidos e organizações de esquerda. Com a voz rouca, o discurso do ex-presidente foi lido pelo diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci.
“Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos”, disse Lula em discurso lido por Dulci. Do lado de fora do hotel onde ocorre o seminário, manifestantes favoráveis aoimpeachment trocam provocações com grupos que apoiam o governo.
Após Dulci ter lido o discurso, o ex-presidente falou alguns minutos de improviso.  Segundo Lula, os deputados federais não analisaram com equilíbrio os argumentos sobre o impedimento da presidenta, e resolveu pela abertura do processo de forma sumária. “Ali não houve uma mínima análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento, comandado pelo que há de mais repugnante no universo político”, criticou o ex-presidente.
“Essa operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas secretas na Suíça”, disse em referência a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, de acordo com Lula, aceitou a tramitação do processo de impeachment como vingança. “Quando os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara abriu o procedimento do impeachment”.
Uma das razões da ação para a saída de Dilma é, segundo Lula, abafar as investigações e o combate à corrupção no país. “Os golpistas querem voltar ao poder para controlar, justamente a polícia. Intimidar o Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado. Para restabelecer o reino da impunidade que sempre os preservou”.
O agravamento da crise política, que criou o cenário propício ao impedimento da presidenta, foi uma estratégia dos opositores ao governo, disse o ex-presidente. “Enquanto o governo se esforçava para equilibrar as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava para agravar a crise. Foram 18 meses de sabotagem no Legislativo, com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo e a incerteza 24h por dia”, disse.
Falando de improviso, o ex-presidente comparou o processo atual contra Dilma ao golpe que instaurou a ditadura militar no país. “Tirar a Dilma do jeito que eles querem tirar é a maior ilegalidade desde a revolução de 1964, no golpe militar”, comparou.
Os argumentos usados atualmente são, de acordo com Lula, semelhantes aos proferidos para derrubar governos e instaurar os regimes nazista e fascista na Alemanha e na Itália, respectivamente, na primeira metade do século 20. “O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu, é assim que a direita cresce em todos os países da América Latina”.
Para Lula, internacionalmente há o agravamento de crises políticas e econômicas, que afetam, em especial, os países latino-americanos. “Depois da crise de 1929, nunca tivemos uma situação como essa. Nós temos o mundo rico fracassado, o Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] vivendo problemas sérios e a América Latina retrocedendo, não apenas do ponto de vista econômico, a do ponto de vista da democracia”.
Presidente do PT
No mesmo evento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o vice-presidente Michel Temer prepara plano contra os direitos civis e sociais, caso assuma a Presidência da República.
“Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros”, disse em discurso no seminário.
O presidente do PT voltou a dizer que não existem os indícios necessários para que Dilma Rousseff seja processada por crime de responsabilidade. “Ocorre que a lei maior brasileira exige, para que o impedimento se processe, a existência de crime de responsabilidade cometido pela presidenta. Como todos sabem, porém, a presidenta Dilma não cometeu crime algum. Não pesa contra ela qualquer denúncia de corrupção ou de recebimento de propina”, acrescentou.
Edição: Carolina Pimentel
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