Prisão de suspeitos de terrorismo 'é uma história muito mal contada'

OPERAÇÃO HASHTAG

Para Adriano Diogo, ex-presidente da Comissão da Verdade paulista, informações em torno do episódio "são precárias"; na opinião de professor Lalo Leal, governo interino quer passar ideia de competência
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 23/07/2016 12:38
VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL
Terrorismo
Um dos suspeitos acusados de planejar ataque terrorista durante Jogos Olímpicos chega a Brasília
São Paulo – O episódio das prisões de dez suspeitos de simpatizar com grupos terroristas, na chamada Operação Hashtag, ou de representarem séria ameaça à segurança do país é visto com desconfiança pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Laurindo Lalo Leal Filho e pelo ex-deputado Adriano Diogo (PT), militante na defesa dos Direitos Humanos e ex-presidente da Comissão da Verdade "Rubens Paiva", da Assembleia Legislativa de São Paulo. “É uma história muito mal contada. Nós não temos elementos. As informações que estão sendo dadas são muito precárias”, diz Adriano Diogo.
Para Lalo Leal, “a ideia que se quer passar à sociedade é a de que este governo interino é competente até para enfrentar o Estado Islâmico, enfrentar esse tipo de ataque que tem repercussão internacional, porque o fato corre o mundo”.
“Há, mais uma vez, uma combinação de interesses do governo interino e da mídia, diante de um episódio que, do meu ponto de vista, é menor, tentando dar a ele uma dimensão maior do que tem. Simplesmente para valorizar uma hipotética competência deste governo, aproveitando-se de alguns elementos que talvez sejam reais. O governo interino e a mídia estão reforçando que se trata de um ato de alta competência do governo federal. Acho que tudo se resume a isso”, acrescenta o professor.
Ele lembra que o próprio ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, caracterizou o grupo como “amador”. “Aliás, nem sei se são um grupo, mais parecem pessoas que têm contato entre si, mas não formam um grupo organizado.” Na quarta-feira, o ministro afirmou que o grupo “era uma célula amadora, sem nenhum preparo planejado”.
Adriano Diogo questiona a divulgação da iminente ameaça e da situação criada a duas semanas da abertura dos Jogos Olímpicos. “Houve uma Copa do Mundo aqui e não teve um arranhão. De repente, a 15 dias da Olimpíada, aparece uma célula terrorista! No Rio, o Dornelles fez aquele decreto de calamidade pública e caíram 50 mil ingressos (da Olimpíada) só naquele dia. Agora ‘descobrem’ uma célula terrorista. Quem vai querer vir para o Brasil?”
No dia 17 de junho, o governador interino do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, decretou estado de calamidade pública, em decorrência de "grave crise econômica que assola o estado".
Diogo lembra que a Lei Antiterrorismo “criou todas as condições” para ações como a adotada pelo ministro da Justiça. “E quem assinou essa lei foi a Dilma. Foi onde começou todo o erro. Agora, qualquer um pode ser enquadrado.”

Lei

Lei nº 13.260 foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 16 de março de 2016, sob protestos de setores progressistas e ativistas dos Direitos Humanos. Em seminário promovido pelo Fórum 21 sobre o tema, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo em 11 de novembro do ano passado, o jurista Pedro Serrano afirmou que tal legislação, que ainda era um projeto de lei, “é a pura importação de medidas de exceção de modelagem europeia, que foi transferida ao Brasil sem necessidade”.
Na ocasião, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser disse que a criação da lei “faz parte da estratégia dos Estados Unidos”. Afirmou ainda que “o Brasil entrou na órbita dessa preocupação”.
No mesmo evento, Márcio Sotelo Felippe, ex-procurador-geral do estado de São Paulo, apontou que o projeto trazia “grave risco à democracia”. “Tanto que, nas justificativas, faz referência aos compromissos internacionais do Brasil.”

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