No grampo, alvo da Máfia da Merenda diz que Russomanno é ‘novo parceiro’




Relatório da Polícia Civil, de janeiro, preparado a partir de interceptação de mensagens de julho de 2015, sugere proximidade do deputado com dois nomes importantes da estrutura de organização criminosaPor Fabio Leite, Fausto Macedo e Valmar Hupsel Filho
26 Agosto 2016 | 14h27


O deputado Celso Russomanno (PRB/SP), candidato à Prefeitura de São Paulo, é citado em relatório da Polícia Civil no inquérito da Operação Alba Branca – investigação sobre esquema de fraudes em licitações da merenda escolar que se instalou em pelo menos 35 prefeituras e que mirava também contratos da Secretaria de Educação do governo Alckmin.
O deputado não é alvo da investigação – ele detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal -, nem a ele é imputado ato ilícito, mas o documento sugere proximidade de Russomanno com dois alvos da Alba Branca, quadros importantes na estrutura da organização criminosa, César Augusto Lopes Bertholino, o ‘Marrelo’, e Cássio Chebabi.
O relatório da Polícia Civil foi preparado quando estourou a Operação Alba Branca, em janeiro.
Em um contato grampeado, em julho de 2015, Chebabi diz a ‘Marrelo’ que Russomanno é ‘novo parceiro’. Ele afirma que o deputado ‘tá forte prá prefeitura’. César ‘Marrelo’ diz que eles vão ‘jantar’ com o deputado. Afirma, ainda, que Russomanno ‘vai dar duas secretarias’ para Leonel Júlio, ex-deputado e pai do lobista da quadrilha da merenda. ‘Já tá acordado’, afirma ‘Marrelo’.
A Polícia diz que ‘fica claro que (Chebabi e ‘Marrelo’) esperam algum benefício com esta aproximação’. Segundo os investigadores, os dois integrantes da Máfia da Merenda ‘demonstram claramente acreditarem que o caminho mais fácil para a consecução de contratos com órgãos públicos é a aproximação com pessoas que detêm poder de mando nos órgãos públicos visados’.
Russomanno lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto na corrida à cadeira de prefeito de São Paulo, superando seus principais oponentes, Fernando Haddad (PT), Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB) e Luiza Erundina (PSOL).
O candidato reagiu com indignação à citação a seu nome. Ele afirma que não conhece e nunca se encontrou com ‘Marrelo’ e Chebabi. Russomanno informou que vai oficiar o Ministério Público pedindo ‘apuração irrestrita dos fatos’.
O relatório que menciona o nome do parlamentar foi produzido pela Polícia Civil de São Paulo a partir da análise de grampo de mensagens pelo celular que pegou ‘Marrelo’ e Chebab.
A Polícia Civil deflagrou Alba Branca em janeiro, em missão integrada com o Ministério Público do Estado.
A investigação aponta para o suposto envolvimento do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB). Ele teria sido contemplado com propina de cerca de R$ 400 mil para sua campanha em 2014. Capez nega taxativamente ligação com o grupo e abriu mão espontaneamente do seu sigilo bancário e fiscal.
Alba Branca investiga, ainda, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin, Luiz Roberto dos Santos, o ‘Moita’, e o ex-chefe de gabinete da Educação do Estado, Fernando Padula.
A base da organização criminosa ficava no município de Bebedouro, interior do Estado. Na cidade funcionava a Coaf, cooperativa de agricultura familiar que se infiltrou nas administrações municipais para corromper gestores e servidores públicos – as prefeituras compravam produtos da COAF porque são obrigadas por !eí a gastar 30% das verbas recebidas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Alba Branca pegou conversa de 16 de julho de 2015 entre Chebab e César ‘Marrelo’ – o primeiro, ex-presidente da Cooperativa COAF, o segundo ex-vendedor e representante da Cooperativa.
No diálogo, Chebab e Bertholino falam de Russomanno. “César relata que vai numa reunião com Celso Russomanno, pretenso candidato à Prefeitura de São Paulo, que teria pleiteado apoio a Leonel Júlio, ex-deputado cassado que também gerenciou e recebeu valores nos contratos da COAF e também pai de Marcel”, diz o documento.
Leonel Júlio presidiu a Assembleia Legislativa de São Paulo em 1976 pelo antigo MDB – naquele ano, ele perdeu o mandato por ato do regime militar porque teve seu nome envolvido no ‘escândalo das calcinhas’ (compra de peças íntimas supostamente com recursos públicos).
Alba Branca revela que o filho de Leonel Júlio, Marcel Júlio, era o lobista número 1 da organização. Pai e filho foram presos por alguns dias. Eles negam a prática de ilícitos.
Uma troca de mensagens, no dia 16 de julho de 2015, entre ‘Marrelo’ e Chebabi foi resgatada-pela Polícia Civil.
‘Marrelo’ escreveu às 17h54: ‘Tô indo lá pro Mané, vamos jantar com Celso Russomanno. Eu e o Marcel. Marcamos às 9 horas.
Chebabi respondeu às 18hs. “Novo parceiro.”
‘Marrelo’: Opaa. O Marcel já tinha conversado com ele. E falado da Coaf prá ele.
Chebabi: Tá forte prá prefeitura.
‘Marrelo’: Ele foi pedir apoio pro Leonel.
Chebabi: Ele é PR.
‘Marrelo’: PRB. Universal.
Chebabi: Cola
‘Marrelo’: Tá com dindim prá gastar. Vai dar duas secretarias pro Leonel. Se ele vier a ser prefeito de SP. Já tá acordado.
COM A PALAVRA, CELSO RUSSOMANNO
O deputado Celso Russomanno (PRB/SP) reagiu com indignação à citação a seu nome no relatório policial.
O candidato à Prefeitura de São Paulo afirmou enfaticamente que não conhece os dois alvos da Operação Alba Branca que mencionaram seu nome em mensagens pelo celular resgatada pela Polícia Civil.
‘Vou oficiar o Ministério Público pedindo apuração irrestrita dos fatos. Estou colocando à disposição do jornal O Estado de S. Paulo e das autoridades o meu sigilo telefônico, fiscal e financeiro para apuração incondicional desta suposta conversa telefônica. Não conheço estes cidadãos, nunca tive contato com eles, nunca encontrei-os pessoalmente. Vou interpela-los judicialmente para que façam prova de que mantiveram algum contato comigo. A quem interessa envolver o meu nome nesse monte de mentira? Faço questão de ir a fundo nessa investigação para saber a mando de quem, ou de qual partido estão tentando sujar o meu nome.’

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