Uso eleitoral escancarado da Lava Jato: Ministro do PSDB antecipou prisão de petista

viomundo

26 de setembro de 2016 às 12h09

  
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Após antecipação de Moraes, Lava Jato prende Palocci
O subprocurador da República Eugênio Aragão classificou o ministro de Temer como “incapaz ou irresponsável”, pela manifestação antecipada dos passos da Operação, e que “dá margem à suspeita de que ele, governo, e a Lava Jato, estão agindo de comum acordo”
moraes 2Jornal GGN – O ex-ministro Antonio Palocci foi preso nesta segunda-feira (26), em São Paulo, durante a 35ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Omertà”. A etapa foi adiantada neste domingo pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao movimento que impulsionou o impeachment de Dilma Rousseff, o MBL.
Em Ribeirão Preto (SP), participando de campanha à prefeito do deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), Moraes confirmou que nova etapa da Lava Jato iria ser deflagrada nesta semana, nas prévias das eleições municipais. Em conversa com integrantes do MBL, e na presença de jornalistas, Moraes disse que teve a Lava Jato “na semana passada e esta semana vai ter mais”. “Podem ficar tranquilos, quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”, disse o ministro.
A manifestação, além de polêmica, foi feita espontaneamente, sem que nenhum jornalista ou alguém perguntasse ao ministro sobre a operação coordenada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Mas insistiu em enfatizar: “é uma belíssima operação”.
Alexandre de Moraes já atuou como advogado do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos réus da Operação sob comando de Sérgio Moro no Paraná. Diante dos ânimos políticos, durante o evento, Moraes defendeu que as novas fases da operação “mostram a independência da PF”.
Entretanto, a tal “independência” do órgão investigativo diante da pasta comandada por Moraes no governo Temer foi hoje questionada. Isso porque, conforme ele adiantou aos membros do MBL e a jornalistas do Estadão, mostrou que tinha conhecimento de informação privilegiada da Lava Jato, com a deflagração da 35ª fase nesta segunda.
Palocci foi preso pela Polícia Federal, por, segundo os investigadores, atuar “de forma direta para propiciar vantagens” para a empreiteira Odebrecht enquanto estava no governo federal. Levado a Curitiba, o ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff deverá prestar informações aos procuradores da República e delegados da PF.
“Foi possível delinear as tratativas entre o Grupo Odebrecht e o ex-ministro para a tentativa de aprovação do projeto de lei de conversão da MP 460/2009 (que resultaria em imensos benefícios fiscais), aumento da linha de crédito junto ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para país africano – com a qual a empresa tinha relações comerciais -, além de interferência no procedimento licitatório da Petrobras para aquisição de 21 navios sonda para exploração da camada pré-sal”, apontou a PF.
Além do ex-ministro, também foram presos dois ex-assessores de Palocci, Juscelino Dourado e Branislav Kontic. A PF ainda acredita que houve pagamentos pelo chamado “setor de operações estruturadas” da Odebrecht para diversos beneficiários, que foram alvos de busca e apreensão e condução coercitiva nesta segunda.
Ao todo, são cumpridos 45 mandados judiciais nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e no Distrito Federal, dos quais três são de prisão temporária, 27 de busca e apreensão e 15 de condução coercitiva.
Sobre a antecipação da etapa pelo ministro de Michel Temer, Moraes divulgou nota horas após a declaração deste domingo negando que a informação era privilegiada em relação às ações da operação. “(A frase) não foi dita porque o ministro tem algum tipo de informação privilegiada ou saiba de alguma operação com antecedência, e sim no sentido de que todas as semanas estão ocorrendo operações”, tentou disfarçar.
A manifestação do ministro gerou críticas do mundo jurídico e especialistas em direito penal. Entre eles, o subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão, classificou que a declaração de Moraes mostra que ele “é um incapaz ou é irresponsável”. “[A declaração] dá margem à suspeita de que ele, governo, e a Lava Jato, estão agindo de comum acordo com finalidade política. (…) Fico só imaginando se, quando ministro, eu desse uma declaração desse teor, o que aconteceria. O mundo vinha abaixo”, disse ao Estadão.
Para Aragão, a medida deve ser vista como um alerta. “Incapaz porque estaria a brincar com coisa séria. Um ministro não pode se manifestar de empolgação em campanha, entregando ao público assuntos sigilosos de sua pasta. Ou irresponsável, porque, no momento em que vivemos, autoridades públicas não devem provocar clamores. Devem, isto sim, acalmar a população”, disse.
alexandre moraes e tucano
Em evento tucano, Alexandre de Moraes transforma Operação Lava Jato em cabo eleitoral contra o PT
Desmoralizados estão a Justiça, o Ministério Público Federal e a PF: virou repressão política
EDITORIAL 
Se dúvidas ainda havia sobre a politização da Operação Lava Jato, escancaradamente destinada a produzir manchetes constrangedoras ao Partido dos Trabalhadores, enquanto protege, poupa e acoberta tucanos, peemedebistas, Aécio, Cunha, Temer et caterva… bem, se havia alguma dúvida, não há mais.
Na tarde deste domingo, em Ribeirão Preto, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, teve a ousadia de anunciar que uma nova etapa da Operação Lava Jato será deflagrada nesta semana –a última antes das eleições de vereadores e prefeitos.
Moraes, tucano ligado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, participava de evento de campanha do deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), candidato a prefeito no município paulista. De maneira cifrada, o ministro golpista vazou a seus interlocutores do Movimento Brasil Livre, o MBL:
“Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim.” Falou isso diante do repórter Gustavo Porto, do “Estadão”, que registrou tudo.
Foi um constrangimento atroz.
A Polícia Federal não pode ser manipulada pelo governante ocasional, sob pena de se transformar em polícia política –o Brasil já sofreu as consequências funestas da atuação política de órgãos policiais, durante a Ditadura Militar, quando se criminalizaram delitos de opinião e o exercício de todas as liberdades.
Na semana passada, a duas semanas das eleições municipais, a prisão do ex-ministro Guido Mantega, ordenada pelo juiz Sergio Moro, e logo depois “desordenada” (por desnecessária às investigações), já havia suscitado a suspeita de que tudo não passara de um factoide político para neutralizar uma possível arrancada do prefeito petista Fernando Haddad, candidato à reeleição.
A indiscrição do ministro da Justiça, ademais, sugere um perigoso conluio entre o juiz Sérgio Moro, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça de Temer.
“Ministro da Justiça sabe agora com antecedência as operações da PF na Lava Jato? Pode isso? Cadê a autonomia da PF? Só funcionou com Dilma e Lula”, acusou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Tão grave foi a fala do ministro da Justiça, a lançar ainda mais suspeitas de facciosismo e partidarismo sobre a Operação Lava Jato, sobre a Justiça do juiz Sérgio Moro, sobre a atuação do Ministério Público Federal e sobre a Polícia Federal, que o próprio Alexandre de Moraes apressou-se a tentar se explicar.
Procurou um site-amigo dos golpistas, chamado “Antagonista”, para dizer que foi “simplesmente uma força de expressão” a frase “esta semana vai ter mais” Lava Jato… Segundo ele, “toda semana praticamente está acontecendo alguma coisa”.
O próprio site-amigo torce “para não ter Lava Jato esta semana”. Explica-se: a farsa ainda tem que durar mais um tantinho… para pegar vocês sabem quem.
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