Escolas estaduais começam o ano letivo com menos diretores e coordenadores pedagógicos

QUINTA, 16/02/2017, 06:30


A diminuição foi resultado de uma resolução do governo de Geraldo Alckmin, de dezembro do ano passado. A mudança afetou o trabalho nas escolas e provocou um temor entre os profissionais.

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Pesquisa do IBGE mostrou que escolas públicas não têm estrutura básica de higiene pessoal (Crédito: Reprodução)
Pesquisa do IBGE mostrou que escolas públicas não têm estrutura básica de higiene pessoal
Crédito: Reprodução
Por Guilherme Balza
Na noite de uma quinta-feira, o professor coordenador de uma escola estadual na periferia do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo, se despede da reportagem da CBN com um apelo: ele pede ajuda porque não aguenta mais enterrar seus os alunos. Nos últimos anos, seis deles foram mortos vítimas da violência. A partir das 19h30, o coordenador seria o único na escola para cuidar de mais de 450 estudantes do noturno, numa das regiões mais violentas de São Paulo.
De um ano pra cá, dos oito funcionários da secretaria, três saíram da escola e não foram repostos. Além disso, eram cinco professores na coordenação, e agora são quatro.
Esses são os primeiros efeitos de uma resolução de dezembro da gestão de Geraldo Alckmin, que remanejou para as classes professores em funções como vice-diretor e coordenador pedagógico.
Para Francisco Antonio Poli, presidente da Udemo, o sindicato dos diretores das escolas estaduais, as unidades agora estão capengas.
'Se o diretor tira férias ou licença, é o vice que vai substituí-lo. Não havendo o vice-diretor, não há como acontecer o trabalho da direção. De um modo geral, os módulos das escolas públicas estaduais já são defasados. Estes funcionários já estavam cobrindo a falta de outros. Tem-se que evitar afastamentos que descaracterizem as funções, mas não pode ser deste jeito', explica.
Segundo a Udemo, cerca de 70 escolas começaram as aulas apenas com o diretor, sem qualquer outro profissional na coordenação. Quando termina o expediente do diretor, ou quando ele está em férias, não fica ninguém na coordenação. Outras 700 unidades não têm vice-diretor, nem coordenador.
A justificativa do governo é diminuir a falta de professores nas classes. As escolas estaduais tem dificuldade em manter os docentes. Os salários são piores que na rede particular ou municipal. A categoria está sem reajuste desde 2014. E o piso na educação básica é menor que o piso nacional. Outro problema é o afastamento por doenças: são cerca de 400 por dia, quase um terço ligado a transtornos mentais.
Um exemplo: a escola Rui Bloem, na Saúde, Zona Sul, é considerada modelo por sempre ocupar o topo nas provas de avaliação. Lá, dos nove professores concursados que ingressaram entre 2013 e 2014, apenas um vai permanecer na escola neste ano.
O deputado estadual Carlos Giannazi, do PSOL, apresentou um projeto para derrubar a resolução.
'Primeiro que nós vamos ter o aumento da violência nas escolas. A função do mediador é muito importante, porque é ele quem faz a ponte com a comunidade e com as famílias. O governo está fazendo um ajuste fiscal cortando o orçamento da educação, mas não se pode acabar com a função do mediador', comentou o deputado.
A rede estadual também tem problemas de infraestrutura. Segundo Giannazi, ainda existem cerca de 70 escolas de lata. Uma delas, a Escola Professora Hilda Kfouri, foi incendiada no Ano Novo. Os alunos tiveram que ser remanejados para a escola vizinha, a Herbert Baldus.
De acordo com a Apeoesp, o sindicato dos professores do estado, a gestão Alckmin continua fechando salas. Um levantamento parcial do sindicato, feito em 24 das 84 diretorias do ensino, já identificou o fechamento de 566 classes.
A Secretaria da Educação do Estado informou que a resolução citada na reportagem, aliada à recente nomeação de 12 mil professores, tem como objetivo levar mais docentes para a sala de aula. A pasta negou o fechamento de salas e sustentou que as classes são criadas de acordo com a demanda.
Neste ano, segundo a secretaria, houve 25 mil matriculas a menos que em 2016. Sobre as escolas de lata, a pasta informou que investiu R$ 25 milhões desde 2011 para melhorar a qualidade destas unidades. Além disso, oito escolas de lata foram demolidas e deram lugar a escolas de alvenaria.

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