Sem acordo, aeronautas e aeroviários ameaçam parar aeroportos na quinta


Após 4 horas de negociação, empresas e trabalhadores não chegaram a acordo, por causa de 0,83 ponto porcentual de reajuste salarial


IURI DANTAS / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Trabalhadores do setor aéreo notificaram ontem o Tribunal Superior do Trabalho (TST) de que pretendem cruzar os braços a partir das 23h do dia 22 de dezembro, mantendo apenas 20% da operação durante os feriados de fim de ano. A decisão foi tomada depois do fracasso das negociações com representantes das companhias aéreas, mediadas pelo TST.
As empresas não aceitam reajustar os salários acima de 6,17%, correspondente à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Os trabalhadores não abrem mão de um aumento de 7%.
A ministra Maria Cristina Peduzzi, que mediou o encontro, e o procurador do Ministério Público do Trabalho Ricardo José Macedo de Britto Pereira lamentaram a ausência de acordo e a possibilidade de caos nos aeroportos no Natal e no Ano-Novo por causa de uma diferença tão pequena entre as propostas, de apenas 0,83 ponto porcentual.
"É uma diferença ínfima. É importante que as empresas pensem nisso, é só esticar um pouquinho. Tenho expectativa de que isso seja resolvido nos próximos dias", afirmou Pereira, após quatro horas de discussões.
Houve consenso sobre outros pontos da negociação. As aéreas aceitaram reajustar o piso salarial, o valor da cesta básica e do tíquete-refeição em 10%, além de pagar um mínimo de R$ 1.000 para operadores de equipamento. Aeronautas (tripulação) e aeroviários (que trabalham em terra) pediam, inicialmente, 13% de aumento salarial e 14% de reajuste dos pisos, mas baixaram a proposta para 7% e aceitaram os 10% de aumento para o início de carreira.
Reféns. Segundo o negociador Odilon Junqueira, que representou o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), as companhias não querem "ficar reféns" de ameaças de greve no fim do ano e, por isso, decidiram não conceder aumento real neste ano, após cinco anos de reajustes acima da inflação.
"As empresas aéreas farão todo o esforço para que isso afete o mínimo possível nossas operações", disse Junqueira. "Não acreditamos que os aeronautas e os aeroviários, por uma diferença tão pequena, imponham uma greve à sociedade brasileira a dois dias do Natal."
Por outro lado, a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, afirmou que as empresas têm caixa para pagar um aumento de 7% porque vêm comprando aeronaves e adquirindo participações em outras aéreas. "É pura ganância das empresas aéreas. É inconcebível que tenham salários tão baixos, como R$ 900 para um funcionário de check-in."
Não é o primeiro impasse entre funcionários e companhias aéreas às vésperas do Natal. No ano passado, os sindicatos prometeram greve para o dia 23 de dezembro, mas voltaram ao trabalho depois que o TST determinou às entidades que deveria ser mantido um mínimo de 80% de operação.
A Secretaria de Aviação Civil informou, por nota, que o governo, "caso seja necessário", tomará "todas as medidas para que os passageiros não sejam prejudicados", sem informar quais seriam. Segundo o comunicado, o governo vem "acompanhando diariamente o processo de negociação" e "acredita que o diálogo é um caminho privilegiado, e o bom senso e a responsabilidade prevalecerão".
Reguladora do setor, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também monitora a situação. Se os trabalhadores cruzarem os braços, a agência vai fiscalizar a implementação de planos de contingência elaborados pelas companhias desde o início de dezembro. Descumpridos os planos, as empresas podem receber multas por atrasos e cancelamentos de voos.

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