Um grande natal a todos nossos leitores






Carta a um amigo


Ainda nesta noite ainda
cometeremos o milagre.
Ainda nesta noite ainda
algo se acrescerá
aos nossos propósitos.
Ainda nesta noite ainda
até mesmo os enfeites
daquela festa perdurarão
e cada qual se indagará:
Por que estou na praça sozinho?
Depois convirá
como a flor dentro do ventre:
basta crescer devagar,
basta crescer devagar
que a morte é safra sobre safra,
que a morte é safra sobre safra.
Ainda nesta noite ainda
olharemos em profundidade.
Os caminhos, os encontraremos,
iguais na convergência e na medida,
e, sem dúvida ouviremos tudo fluir,
e, sem dúvida ouviremos tudo filtrar,
pois os corações
saberão erguer-se como mãos
para tocar-se.
E tu, que não gostas da cidade vazia,
porque sentes o coração menos dividido,
contemplas:
voltaste a floração com tanta alegria
como dois pássaros que se chocam no ar
para se ferirem de morte igual.
Ser amigo
é conferir um mundo interior de possibilidades
Ser amigo
é linguagem extrema.
Vem parto estranho, fruto nascido de folhas.
Vem ao plátano, este pássaro de nunca desprender-se
por mais alto que se projete.
Vem. Ainda nesta noite ainda
as águas maduras escurecerão o tronco,
as paradas águas paradas
somente no fundo floridas.
Sequer volveremos o rosto à praça do futuro
como se fosse a praça perdida antes do nascer
Sequer desconheceremos o tempo que virá depois
avançando como um cavalo
infinitamente lançado para o espaço.
Ainda nesta noite ainda
ninguém ousará erguer-se para a simplicidade.
E todos crescerão em todos os sentidos
para nós crescermos em sentido contrário.

Lindof Bell

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