Construtora Delta quer contrato de R$ 20 milhões com a Prefeitura local



Empresa investigada pela Polícia Federal, acusada de associação ao contraventor Carlinhos Cachoeira, apela ao TCE para tentar invalidar contrato iniciado em 2011

Jornal Cruzeiro do Sul
Marcelo Andrade
marcelo.andrade@jcruzeiro.com.br

A empresa Delta Construções S.A., alvo de investigações da Polícia Federal e ligada a esquemas de corrupção, tenta no Tribunal de Contas de São Paulo (TCE) invalidar um contrato de R$ 20 milhões da Prefeitura de Sorocaba para a prestação de serviços de varrição e lavagem de ruas, avenidas e praças espalhadas pela cidade. A empresa - associada ao contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - foi desqualificada da licitação em novembro de 2011 por supostas falhas em planilhas de custos. Alega que além de apresentar menor preço estaria dentro da legalidade. O TCE estabeleceu prazo de 20 dias, a contar do dia 23 de abril passado, para que a Prefeitura apresente sua defesa ao órgão fiscalizador. Esta é a segunda vez que a empresa tenta entrar em Sorocaba para a prestação de serviços públicos. Em 2005, participou da disputa pela coleta e destinação final de mais de 10 mil toneladas ao mês de lixo gerados na cidade, mas também foi desqualificada.

A licitação para a contratação de empresa especializada para a prestação de serviços de varrição, limpeza, conservação, desinfecção de locais públicos foi iniciada em outubro de 2011, válido por dois anos. No total, o contrato prevê a varrição e lavagem mensal de 15 mil metros quadrados de vias e avenidas, além de 500 mil metros quadrados de locais onde são realizadas feiras livres, varejões e outros eventos feitos eventualmente pela administração. A empresa também é responsável pela manutenção de 40 praças e jardins por mês, de 15 banheiros públicos e terá que dar a destinação final do resíduo gerado por ela. 

No total, oito empresas disputaram a licitação, sendo que cinco foram habilitadas. "Estavam na disputa a Litucera, a Delta, Valor Ambiental, Gomes Lourenço e Paulitec. Dessas a que apresentou inicialmente o melhor preço foi realmente a Delta Construções. Estava algo em torno de 2% mais em conta que a segunda colocada, a Litucera. Porém, a Comissão de Licitações encontrou problemas na planilha de composição de preços, no que se refere ao recolhimentos de impostos. Diante disso, ela acabou desqualificada", disse o secretário de Administração, Mário José Pustiglione Júnior. A Litucera apresentou valor de R$ 16.799.202,24: 18,5% abaixo do estimado na licitação, que era de R$ 19.909.000,00, e assumiu o serviço no início de dezembro. 

"Foi semelhante ao que ocorreu com o contrato do lixo aqui em Sorocaba. A empresa Valor Ambiental havia apresentado menor valor, mas foi desqualificada por conta de falhas na planilha de custos da folha de pagamentos de seus funcionários. Com isso a Gomes Lourenço acabou vencedora, com o segundo melhor preço. A Valor recorreu ao TCE e à Justiça e perdeu em todos. E acredito que isso deva acontecer neste caso, pois tudo foi feito dentro da legalidade", argumentou.
 
"Prefiro não comentar" 
A Delta recorreu ao TCE com pedido para que o órgão suspenda todos os atos do certame. Um dos advogados da empresa, Ernani Teixeira Ribeiro, alegou que a empresa atendeu todos os requisitos do edital e que apresentou menor preço entre as concorrentes. Negou erros em planilhas e acusa a Prefeitura de ter informado sobre a desqualificação de forma verbal. No despacho, o conselheiro do TCE, Edgard Camargo Rodrigues, acatou a representação e estabeleceu o prazo de defesa para a Prefeitura. Pustiglione, que confirmou se tratar da mesma empresa alvo das investigações da PF, e informou que a Secretaria de Negócios Jurídicos deve encaminhar a defesa ao TCE na próxima semana, ou seja, antes do limite estipulado pelo órgão: 14 de maio. Em relação às denúncias que envolvem à empresa Delta e seus executivos, o secretário limitou-se: "Prefiro não comentar, mas são denúncias graves e que estão sendo apuradas pela PF e caberá à Justiça analisar e julgar."
 
Investigações 
Foco das investigações da CPI do Cachoeira, instalada no Congresso, a Delta Construções é suspeita esquemas de corrupção e pagamentos de propinas e fraudes em licitações, atuar em redes de influência com políticos e órgãos dos governos estaduais e União, além de associação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

As relações da Delta com a organização criminosa comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira vieram à tona na Operação Monte Carlo. Segundo as investigações, Cachoeira era ligado ao então diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Eles negociavam contratos com o poder público. Suspeita-se que subornavam servidores públicos e que tenham participado da arrecadação ilegal para campanhas eleitorais. Segundo investigação da Polícia Federal, a Delta, uma das construtoras com mais contratos com o governo federal, teria repassado dinheiro para empresas fantasmas que abasteciam o grupo de Cachoeira.

A Delta Construções - responsável por 70% da coleta de lixo no Distrito Federal - confirma, em seu site, a abertura de auditoria interna e diz que as denúncias se referem à atuação de seu ex-diretor para a região Centro-Oeste, Claudio Abreu. No texto, a Delta alega que não tinha conhecimento dos atos ilegais de Abreu, preso quarta-feira pela Polícia Civil de Goiás e apontado como um dos integrantes do esquema de corrupção que seria chefiado por Cachoeira.

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