Sindsaúde faz interpelação contra diretor do CHS



Luís Carlos de Azevedo Silva se desculpou e disse que foi mal interpretado

 Jornal Cruzeiro do Sul
Priscila Fernandes
priscila.fernandes@jcruzeiro.com.br
programa de estágio

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde-SP), Benedito Augusto de Oliveira, fez uma interpelação judicial contra o diretor do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), Luís Carlos de Azevedo Silva, motivado pelas declarações veiculadas em emissora de TV na sexta-feira passada, quando teria afirmado que as falhas no atendimento a alguns pacientes da ortopedia do hospital não se dava pela falta de gesso, mas devido a um suposto "boicote" de alguns funcionários participantes da movimentação sindical que reivindica aumento salarial.

Ontem, entretanto, em uma reunião no CHS, o diretor se desculpou pela colocação e alegou que foi mal interpretado. "Em momento nenhum falei do Sindsaúde", disse. Luís Carlos havia afirmado que, embora faltassem alguns tamanhos de gesso, era possível fazer a adaptação de outros modelos para atender às necessidades dos pacientes. Por isso não via na falta de materiais um impedimento para o atendimento. Ontem, ele ressaltou que não acredita que haja nenhum tipo de armação ou boicote de grupos de funcionários. "É uma questão pontual de um ou outro funcionário", afirmou. 

O diretor do CHS explicou que ao mencionar a paralisação parcial e o movimento sindical pretendia apenas contextualizar os possíveis motivos que levariam um funcionário a agir de tal forma. Ele menciona que a insatisfação com as condições de trabalho e salários pode gerar "um clima de falta de colaboração". O diretor relatou que irá ocorrer uma apuração interna para determinar quem provocou os problemas no atendimento. "Já foi instaurada uma ação preliminar", garantiu. Ele aponta que o objetivo será identificar os culpados e determinar se a omissão foi de má-fé ou não. Alguns funcionários, especialmente da enfermagem, relataram que o boato é de que o diretor irá promover exonerações.
 
Uma auxiliar de enfermagem relatou que uma enfermeira supervisora lhe garantiu que os nomes daqueles que iam até a frente do CHS falar com os sindicalistas havia sido anotado e enviado ao setor de recursos humanos da unidade. "Há um clima de medo de represálias", contou a auxiliar de enfermagem do CHS e delegada sindical, Maria Felix. Já o diretor da unidade alega que nunca falou em exonerações e busca apenas identificar quem tenha se omitido a atender. 

Alguns funcionários, que não quiseram se identificar, também mencionavam a falta de certos tipos de máscaras e seringas. O diretor do hospital afirmou que é possível atender os pacientes mesmo com a falta de certos materiais, pois estes são substituíveis. O diretor observa que não há déficit de pessoas no setor de almoxarifado, mas que a falta de materiais acontece eventualmente. "Em qualquer instituição existe falta de material", disse. Para ele, a questão é quais materiais estão em falta e se há outros que podem ser usados com a mesma finalidade.

O diretor acredita que a denúncia sobre a falta de gesso tenha sido realizada por familiares de pacientes. Ele alega que um dos casos apresentados, de uma pessoa que aguardava cirurgia que não era realizada pela falta do material, na verdade esperava uma avaliação para a realização do procedimento. "Houve uma interpretação errônea de que foi por falta de material", disse. Silva afirmou que acredita que a questão do movimento sindical é legítima. "A insatisfação é culpa das políticas públicas de saúde", opinou.

Para o presidente do sindicato da categoria, animosidades entre direção e funcionários poderiam ter sido mediadas pelo sindicato, pois o Sindsaúde e a direção mantinham uma comunicação. "Lamento muito por isso ter chegado a esse ponto. Lamento pela sua inabilidade durante essa entrevista", disse o sindicalista na reunião. Silva falou que ali fazia um "mea-culpa" e admitiu a "inabilidade ao colocar essa questão". Apesar do pedido de desculpas, Benedito Augusto afirmou que o sindicato levará a interpelação adiante. "Eu não vou recuar", falou após o fim do encontro. Silva, por sua vez, disse que entrará em contato com os veículos de comunicação para fazer uma retratação. 

Grevistas fazem protesto
Funcionários do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e membros do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde - SP), fizeram na manhã de ontem um protesto em frente ao hospital, distribuindo coxinhas aos pacientes e funcionários. De acordo com Maria do Amparo, coordenadora local do sindicato, a intenção é mostrar que com o valor pago pelo Estado como auxílio-alimentação só é possível comprar uma coxinha. Para os funcionários da saúde, R$ 4 ao dia não seria o suficiente para alimentar suas famílias. O aumento do valor do benefício é uma das reivindicações que tem motivado a paralisação parcial de funcionários da saúde no Estado. 

De acordo com o presidente do Sindsaúde-SP, Benedito Augusto de Oliveira, 42 hospitais do estado entraram em estado de greve. Em Sorocaba, entretanto, a adesão foi mais baixa, pois a quantidade reduzida de funcionários não permitiria que os profissionais parassem para protestar. O presidente do Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Região, Antonio Sérgio Ismael, relata que um dos motivos para a falta de pessoal no hospital é a remuneração ruim. "Desde a intervenção, 70 médicos pediram demissão. Falta enfermeiros também. Sabemos de auxiliar de enfermagem que cuida de até 11 leitos", reclama. Um médico do CHS, de acordo com o Sindsaúde, recebe R$ 655,20 de salário-base mais R$ 1.207,44 em benefícios. "Ninguém quer trabalhar com esse salário", disse Ismael.

Além da distribuição de coxinhas, os sindicalistas falaram aos funcionários sobre as definições a que chegaram na assembleia realizada sexta-feira passada em São Paulo. Na ocasião, ficou decidida a permanência do estado de greve, pelo menos, até a próxima sexta-feira, dia 27, quando ocorrerá uma nova assembleia da categoria. Enquanto isso, o sindicato pretende entrar em contato com o Governo do Estado para tentar negociar as reivindicações dos trabalhadores. A categoria pede aumento salarial de 26%, aumento do auxílio-alimentação, regulamentação da jornada de 30 horas para todos, aumento do valor de prêmio de incentivo, pagamento no 13º salário e férias, correção das distorções nos valores pagos e transparência na verba da saúde repassada pelo Ministério da Saúde para o Estado, aposentadoria especial, concurso público para suprir falta de pessoal nas unidades de saúde e revisão da Lei Complementar nº 1.080/08, corrigindo erros na criação dos cargos e rebaixamento na letra.

Para Ismael, os problemas do CHS vão além da falta de materiais e baixa remuneração. Ele acredita que a estrutura do prédio também merece atenção. De acordo com o médico, há informações de que a falta de manutenção tem causado infiltrações que podem prejudicar a estrutura do prédio. "Queremos que seja contratada uma empresa de engenharia para fazer uma avaliação", disse. Ismael ressalta que além de fazer um hospital novo - assim como anunciou o governador Geraldo Alckmin -, é preciso cuidar do que já existe. (Supervisora: Edileine Ferreira Guimarães)

Postar um comentário

0 Comentários