Crespo tenta vincular prefeito à investigação de suposto esquema



Por meio da assessoria, Lippi diz que vai se inteirar de tudo e falará depois

Jornal Cruzeiro do Sul
Carlos Araújo
carlos.araujo@jcruzeiro.com.br


Pela primeira vez, o vereador José Antonio Caldini Crespo (DEM), em entrevista coletiva concedida ontem à tarde na Câmara, tentou vincular o prefeito de Sorocaba, Vitor Lippi (PSDB), à Operação Pandora - investigação da Polícia Civil e do Ministério Público sobre suposto esquema de corrupção envolvendo empresários e ex-secretários municipais em cobrança de propina para agilização dos processos de liberação de alvarás para postos de combustíveis. Crespo protocolou anteontem, na Procuradoria Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo, documento no qual solicita apuração de improbidade administrativa contra Lippi e "um maior aprofundamento" das investigações realizadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.
 
Na justificativa, ele escreveu: "... apurando o envolvimento do prefeito Vitor Lippi no esquema, o beneficiamento por alvarás de funcionamento de outros postos de combustíveis e possíveis desdobramentos no esquema de corrupção e doações para campanhas políticas, inclusive a de 2010, já que o prefeito apoiou candidatos a Deputado Federal e Estadual, além do crime de prevaricação e eventualmente outros tratados no capítulo de Crimes Contra a Administração Pública, do Código Penal, que eventualmente tenham sido cometidos pelo prefeito e por seus subordinados." Por meio de sua assessoria de imprensa, Lippi informou que vai se inteirar de tudo o que Crespo falou na entrevista coletiva para depois se manifestar.

No documento, Crespo também solicitou que o promotor Orlando Bastos Filho seja "excluído" da avaliação e investigação da Operação Pandora. Segundo Crespo, manifestações públicas do promotor na imprensa, com juízo de valor sobre o assunto, "colocam em dúvida a lisura de procedimento que são necessárias neste caso". Procurado via celular por volta das 21h de ontem, a reportagem não conseguiu falar com Bastos e deixou recado, porém não houve retorno até às 22h50. Crespo também requereu ao juiz da 1ª Vara de Sorocaba, Jayme Walmer de Freitas, a autorização para vistas e extração de cópias dos autos do processo da Operação Pandora. 

O vereador criticou o que denominou como "obsessão" de Lippi de aprovar "a qualquer custo" o projeto de lei 127, que pretende acabar com as restrições para a construção de postos de gasolina na cidade. As restrições constam da lei nº 6.700 e determinam que os postos tenham no mínimo 800 metros de distância um do outro. "Não há explicação nessa obsessão do prefeito a não ser talvez a cobrança de faturas eleitorais que tenham existido, especialmente em 2008, pressões que devem estar infestando o gabinete dele e, portanto, nós não podemos aprovar esse projeto 127."

Segundo Crespo, a eventual aprovação desse projeto inocentará todos os réus da Operação Pandora por perda de objeto. Entre os principais envolvidos nas acusações dessa investigação estão a empresária Ivanilde Vieira Serebrenic, ex-presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis (Sincopetro), os ex-secretários municipais Maurício Biazotto (pasta de Governo) e José Dias Batista Ferrari (pasta de Desenvolvimento Econômico).

Crespo também disse ter informações de que Ivanilde, nos contatos que fazia no período em que representava o Sincopetro, demonstrava falar como representante de Lippi. Ele disse que postos irregulares, que contrariam a lei 6.700, deveriam ter sido fechados desde que o Tribunal de Justiça de São Paulo consolidou este assunto em setembro do ano passado.

Crespo raciocinou: "Por que o prefeito, além de não tomar nenhuma atitude com relação a esses postos que se locupletaram da lei vigente, utilizando uma liminar que foi derrubada, por que ele mudou radicalmente sua posição? Ele, durante quase oito anos vinha defendendo esta lei. E de uma hora para outra, quando as investigações da Operação Pandora cresceram e o Tribunal também surpreendentemente validou a lei, por que ele mudou radicalmente de posição? Não há explicação racional, ela só pode estar nos bastidores."

O vereador concluiu: "Por isso também, para elucidar o que por enquanto são evidências, para provar, nós solicitamos ao doutor Jayme Walmer de Freitas que ele abra de uma vez a caixa preta da Operação Pandora, incluindo as transcrições telefônicas, todas legalizadas, para que a gente possa saber qual é o envolvimento de cada um, especialmente do prefeito, para tentar encontrar uma explicação para essa obsessão dele em revogar a lei que foi sancionada há 20 anos."

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