Dinheiro da campanha de Perillo é de caixa 2, diz jornalista à CPI


Ricardo Britto, da Agência Estado, e Lilian Venturini, do estadão.com.br 

Embora tenha agendado o depoimento de três pessoas, a sessão da CPI do Cachoeira desta quarta-feira, 27, contou apenas com o depoimento do jornalista Luiz Carlos Bordoni, que atuou em campanhas de Marconi Perillo (PSDB) e Demóstenes Torres (ex-DEM/sem partido). Em quase 8 horas de depoimento, Bordoni afirmou ter recebido “dinheiro sujo” para quitar uma dívida de campanha do governador de Goiás e chegou a dizer que Cachoeira tem um “governo paralelo” e que o “jogo do bicho”, uma contravenção penal, é comum no Estado. “Ele corre frouxo em Goiás”, afirmou.
Um dos pontos polêmicos da sessão foi quando o jornalista colocou em questão a origem dos recursos recebidos por ele para a prestação de serviços a Perillo. “Eu trago aqui a verdade dos fatos. Pelo meu trabalho limpo eu fui pago com dinheiro sujo”, disse, durante a sessão desta quarta-feira, 27, Bordoni. O jornalista faz referência a depósitos que foram feitos por empresas ligadas ao grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Assim como na reunião desta terça-feira, 26, a sessão foi marcada por acusações feitas pela oposição de que o andamento da CPI está sendo prejudicado pelo presidente, que é do PT. Segundo os parlamentares, o presidente interino Paulo Teixeira (PT-SP) estaria defendendo o depoente. No final, o relator Odair Cunha (PT-MG) disse que eram inconsistentes as acusações de que o jornalista tenha cometido crime por sonegar impostos. “Há no direito tributário um recurso que não qualifica como crime um tributo não pago”, pontuou.
Em abril de 2010, o jornalista afirmou ter fechado verbalmente numa conversa com Perillo sua atuação da campanha, na área de rádio. Sem contrato, ele disse que acertaram que a participação seria de R$ 120 mil na campanha e R$ 50 mil de bônus pela vitória. Segundo o jornalista, R$ 80 mil foram pagos durante a campanha, metade deles pagos em espécie pelo governador – o dinheiro estaria num envelope amarelo, guardado dentro de um frigobar. Bordoni disse que, parar receber o restante da dívida, repassou a conta de sua filha, Bruna, para o ex-assessor especial de Perillo Lúcio Fiúza. “Ao Lúcio foi dado a conta de Bruna. Não a cascatas ou a cachoeiras”, disse. No dia 14 de abril de 2011, ele afirmou que a conta da filha recebeu em um depósito de R$ 45 mil feito pela Alberto & Pantoja. O restante foi pago pela Adécio & Rafael Construtora e Terraplanagem.
O jornalista, que colocou à disposição da CPI seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, disse nunca ter se preocupado “quem depositou” os recursos. “Para que e por que eu iria mentir, meus amigos? Eu fiz um pacto com meu amigo Marconi. Quem tem amigos como tal, não precisam de inimigos”, afirmou. Para ele, Perillo “faltou com a verdade” no depoimento que prestou à CPI, negando o caixa dois da campanha.
Bordoni, que trabalha para o governador desde 1998, desafiou Perillo a sustentar a versão de que só recebeu R$ 33 mil na campanha, por meio da empresa Arte Mídia. O jornalista mostrou o contrato que o governador disse ter firmado com ele. E ressaltou que o documento não traz qualquer menção a ele. “Se os senhores identificarem neste papel onde está escrito o meu nome, eu engulo esta folha”, afirmou.
Outros depoentes. Na sessão desta quarta, estavam previstos os depoimentos de Jayme Eduardo Rincón, ex-tesoureiro da campanha do governador em 2010, e Eliane Gonçalves Pinheiro, ex-chefe de gabinete de Perillo. A defesa de Jayme Rincón, no entanto, pediu adiamento do depoimento alegando motivos de saúde. Já ex-chefe de gabinente do governador compareceu, mas fez uso do direito constitucional de ficar em silêncio. Rincón é suspeito de ter recebido R$ 600 mil do grupo de Cachoeira. Eliane Gonçalves teria repassado informações sobre operações policiais aos investigados pelas operações Monte Carlo e Vegas.
Nessa terça-feira, das três testemunhas convocadas, se dispôs a falar apenas o arquiteto Alexandre Milhomen, responsável pela reforma na casa onde foi preso o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Lúcio e Écio conseguiram no Supremo Tribunal Federal habeas corpus garantindo o direito de permanecer em silêncio. À comissão, o arquiteto afirmou que foi contrato pela mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, o que, na avaliação da CPI, indicaria arelação entre o contraventor e o governador de Goiás.

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