Após longa negociação, USP criará Comissão da Verdade


A Universidade de São Paulo, uma das mais tradicionais do País, decidiu criar a sua própria Comissão da Verdade. A decisão foi tomada em uma reunião entre representantes da Reitoria e do Fórum Aberto pela Democratização da USP, na noite de terça-feira, 22.

No dia 30, os integrantes do Fórum vão debater o formato da comissão. No dia 4 de fevereiro voltam a se reunir com a Reitoria, para apresentar suas propostas.
Já é quase consenso que os integrantes da comissão serão eleitos pelo voto direto, entre docentes, funcionários e estudantes.
A mobilização pela instalação da Comissão da Verdade da USP começou em maio. Os defensores da ideia argumentam que as violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar atingiram de maneira direta e pesada a instituição. Um dos indicadores da violência que se abateu sobre a universidade é o elevado número de professores e funcionários que foram aposentados compulsoriamente e de estudantes e professores presentes nas listas de mortos e desaparecidos.
Segundo o Fórum, até hoje não teria havido empenho da USP para o esclarecimento dos fatos e a superação de resquícios do autoritarismo. Os integrantes do grupo citam o fato de o regimento disciplinar em vigor na universidade ter sido elaborado em 1972, em meio a um dos períodos mais duros da ditadura.
 
Entre os professores que foram aposentados compulsoriamente, encontram-se os nomes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e de Florestan Fernandes, um dos mais festejados sociólogos brasileiros.  O estudante Alexandre Vannucchi Leme, que dá nome ao DCE, foi morto sob tortura, em 1973. A professora de química Ana Rosa Kucinski desapareceu após ser detida por agentes da repressão, em 1974.
Esta será a segunda comissão da USP, que é mantida com recursos do Estado. A primeira foi criada na Faculdade de Direito. Os nomes de seus integrantes já foram eleitos e ela deve começar a funcionar em fevereiro
Além de tentar esclarecer os casos dos perseguidos, as comissões devem abordar também a delicada questão de professores e estudantes que colaboraram com a ditadura. Elas poderão convocar pessoas a prestar depoimento, além de requisitar documentos de todos os órgãos da USP, mesmo aqueles classificados como sigilosos.

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