Dez sobreviventes da tragédia na boate Kiss são ouvidos

Às vésperas de a tragédia completar cinco meses, sobreviventes relembram noite de 27 de janeiro em audiência pública em Santa Maria


Melina Guterres - Especial para o Estado
Dez sobreviventes da tragédia na boate Kiss prestaram depoimentos na manhã e na tarde de quarta-feira, 26, em audiência no Fórum de Santa Maria. Duas pessoas não foram localizadas e uma remarcou o depoimento. As perguntas iniciais eram feitas pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada, e consistiam basicamente no relato do momento que a vítima decidiu ir à boate até a sua recuperação, no caso de sobreviventes feridos. Posteriormente a palavra era dada à acusação, que entre as perguntas mais colocadas era se a vítima sentia se era uma sobrevivente da tragédia. A tragédia, que matou 242 pessoas,  vai completar cinco meses no dia 27.

A defesa questionou se frequentavam outras boates, se reparavam nas saídas de emergências dos locais. Giovana Rist, ex-funcionária da boate, afirmou que alguns dias antes da tragédia faltou luz na boate (fora do horário de movimento) e reparou que as luzes de emergência acenderam. A maioria das testemunhas relataram que o local ficou totalmente escuro após o começo do fogo.
Outra questão muito abordada pela defesa era se as vítimas recebiam treinamento em seus locais de trabalho para emergências no caso de incêndio. O advogado Jader Marques, levantou a questão de responsabilidade fiscal ao questionar uma das testemunhas Ingrid Goldani (conhecida por abrir a porta de um refrigerador para respirar durante o incêndio), ex-funcionária da boate, sobre o espaço localizado para fumantes na boate. Se ela saberia dizer se tal era regulamentado. A vítima afirmou que não e lembrou que Kiko, o dono da boate, "sempre queria melhorar o ambiente".
Ao falar do momento do incêndio, Ingrid disse que começou quando o banda cantava "amor de chocolate" do MC Naldo. "Quando ele cantava em cima, em cima e pulava foi que o artefato encostou no teto", disse. Os depoimentos relacionados a ação do vocalista no momento eram semelhantes ou se complementavam, ele estaria segurando o artefato na mão esquerda, ao pular teria encostado no teto e posteriormente algumas pessoas teriam tentado ajudar a apagar, inclusive o mesmo com um extintor de incêndio que não funcionou. Ingrid ainda afirmou que o vocalista, após perceber a situação, já sem o microfone fez sinal com as mãos para todos evacuarem.
Saulo Preigschadt, afirmou que antes do incêndio havia comentado com Kiko, dono da boate, que havia sentindo cheiro de queimado e que achava ser dos aparelhos de som do DJ.
A ação dos bombeiros também foi questionada se eles chegaram rapidamente e se tentavam impedir o retorno à boate por parte da população. Quanto a chegava, a maioria afirmou que foi rápida. Daniela Medina afirmou que muitas pessoas voltavam a boate antes deles chegarem para ajudar as demais. Ingrid diz que os bombeiros tentaram impedir a entrada de pessoas "Mas era muita gente, não havia como controlar todos. Eu mesma tentei voltar e não consegui. Queria encontrar o meu irmão".
Sobre a ação dos seguranças, alguns afirmam que foram impedidos de sair, outros não teriam tido a mesma dificuldade. A contradição também se dá em relação as barras de contenção, por serem percebidas ou não no momento de sair. A superlotação também foi questionada, para Giovana Rist, ex-caixa da boate, não havia 800 pessoas no local. Giovani Dias, sobrevivente, que teria ido comemorar o aniversário da namorada na boate, disse que o nome do casal foi colocado numa mesma comanda. Para o promotor de justiça, Joel de Oliveira Dutra, o testemunho confirma dolo eventual.
Louzada, juiz do caso, ao final da audiência, lembrou as três ausências, afirmando que os depoimentos são importantes para todo processo. As audiências, com objetivo de ouvir 60 vítimas, ocorrem até o dia 10 de julho.
CPI. Na Câmara de Santa Maria, cerca de 150 pessoas estão acampadas desde a noite da última terça-feira, 25, para pressionar a casa legislativa a afastar integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga responsabilidades públicas pela tragédia da Boate Kiss
Relembre. A casa noturna de Santa Maria teria sido tomada pelo fogo após a faísca de um show pirotécnico queimar a espuma de revestimento acústico do local, na madrugada do dia 27 de janeiro. A fumaça tóxica liberada pelo incêndio matou 234 pessoas no mesmo dia, mas o número de mortos subiu para 242 em datas posteriores.

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