Só violência reduz a longevidade nacional

Melhora envolve diminuição da mortalidade infantil e queda na fecundidade


Lisandra Paraguassu
Existe uma área em que o Brasil conseguiu chegar ao desenvolvimento muito alto: a expectativa de vida. A cada ano, os brasileiros vivem mais, em todo o País. Dos 5.565 municípios brasileiros, 3.176 têm o IDHM Longevidade muito alto. Nenhuma cidade está na faixa "baixo" ou "muito baixo".
A diminuição significativa da mortalidade infantil e a queda na fecundidade são as causas do sucesso no índice. O avanço só não é ainda maior por uma razão: a violência, que se espalha das grandes metrópoles para as cidades pequenas e centra fogo especialmente nos jovens.
Hoje, mais de 50% dos municípios brasileiros têm taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição da população. Somado a isso, quase 60% das cidades conseguiram baixar para menos de 19 por mil nascidos vivos a mortalidade infantil, meta que deveria ser atingida pelo País, de acordo com os Objetivos do Milênio, em 2015.
A ameaça à expectativa de vida no Brasil hoje é menos o que ataca as crianças, e mais o que atinge os jovens: a violência. "Dificilmente vamos avançar tanto ainda na mortalidade infantil. Agora temos de enfrentar a agenda dos jovens. A violência ainda é uma fonte importante de mortes que pode gerar crescimento na expectativa de vida", afirmou o presidente do Ipea, Marcelo Nery.
A expectativa de vida no Brasil hoje varia entre 65 anos, nas cidades de Cacimbas, na Paraíba, e Roteiro, em Alagoas, a 79 anos, nos municípios catarinenses de Balneário Camboriú, Blumenau, Brusque e Rio do Sul.
Extermínio
O crescimento na expectativa de vida nos últimos dez anos – 46% no Brasil e 58% no Nordeste – poderia ser ainda maior se não fosse o impacto da violência entre os jovens. O Brasil tem uma alta taxa de mortes violentas na população em geral, mas a concentração das mortes entre jovens deixa o País na mesma linha de países que passam por guerras civis e outros conflitos violentos.
De acordo com o último Mapa da Violência, preparado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, a taxa chegou a 134 por 100 mil habitantes, mais do que o dobro do já alto índice da população em geral, de 54 por 100 mil. Nas palavras do autor, um extermínio juvenil. "Nós não teremos grandes impactos mais por tratamentos médicos. Mas uma criança que deixa de morrer em um ano dá um impacto gigantesco. Um jovem que deixa de morrer cria um impacto enorme", avalia Marcelo Nery.

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