Vereadores da CPI comprovam faltas de médicos


Visita surpresa constata que de 23 médicos que deveriam estar trabalhando em quatro unidades, sete faltaram


Giuliano Bonamim
giuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br

Praticamente um terço dos médicos escalados ontem para o trabalho na rede pública municipal não compareceu ao plantão em quatro unidades de saúde de Sorocaba. Os flagrantes ocorreram no período da manhã e foram feitos pelos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, criada na Câmara de Vereadores. Foram constatadas as ausências de sete profissionais em um grupo de 23 funcionários. Dois não foram encontrados na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da zona oeste, um na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Barão e quatro no Pronto-Socorro Municipal da Santa Casa. Já o Posto de Saúde da Vila Santana contou com todo o efetivo.

Além dos sete médicos faltantes, outros dois coordenadores não foram encontrados durante o horário de trabalho: um de pediatria na UPH da zona oeste e outro na UBS da Vila Barão. As visitas surpresas foram comandadas pelos vereadores Izídio de Brito (PT) e José Crespo (DEM), que pretendem elaborar um relatório e encaminhá-lo ao titular da Secretaria Municipal da Saúde, Armando Martinho Bardou Raggio. "Para mim, tem que afastar e punir. Se não querem trabalhar, manda embora", afirma Brito.

A primeira visita da CPI ocorreu às 9h57 na UPH da zona oeste. Os vereadores entraram nas dependências do prédio, visitaram todas as salas e constataram as presenças de dois pediatras e de outros dois clínicos gerais. No local, os parlamentares também foram avisados que o coordenador da pediatria havia ido embora para casa, apesar de estar escalado para o plantão da manhã. O aposentado José Carlos de Souza, 67 anos, aproveitou a presença dos vereadores na UPH da zona oeste para desabafar. 

"O atendimento é péssimo. Minha filha está com dor nas costas e ninguém descobre o que é, além de eu ficar rodando pela cidade para tentar achar um lugar mais vazio e com menos fila", comenta. Já o carpinteiro Tiago Rodrigues, 27, não precisou enfrentar filas. Ele sofreu um acidente de trabalho, teve prioridade no atendimento e todo o procedimento demorou cerca de 20 minutos. "Foi tudo muito rápido", diz Sérgio Luís de Oliveira, 41, que acompanhou o paciente até a UPH da zona oeste.

Na sequência, a comissão de vereadores se encaminhou à UBS da Vila Barão. O grupo chegou ao prédio às 10h30 e não encontrou a coordenadora responsável pelo turno da manhã. "Por isso não soubemos quantos médicos exatamente faltaram", diz Izídio. Na lista de funcionários havia quatro nomes, mas apenas três profissionais estavam efetivamente no trabalho. O médico ausente na UBS da Vila Barão era um pediatra, cujo horário de trabalho era das 7h às 13h. A falta do profissional atrapalhou a manhã da dona de casa Valeska Cristina de Lima, 24, que levou o filho de seis anos para ser atendido. "A consulta estava marcada para as 7h, mas só fomos atendidos duas horas depois", conta.

O terceiro local visitado foi o Posto de Saúde da Vila Santana, às 11h04. A comissão circulou pelo prédio e não encontrou nenhuma irregularidade. A última parada ocorreu no Pronto-Socorro da Santa Casa. Os vereadores chegaram ao local às 11h24 e flagraram a ausência de quatro médicos ¿ dois clínicos gerais e dois ortopedistas. Apenas sete estavam no trabalho.

Os vereadores entraram nas dependências do pronto-socorro e observaram pacientes distribuídos pelos corredores. Alguns estavam deitados em macas e outros sentados em cadeiras. O filho da aposentada Isabel Cristina Fernandes dos Santos Rodrigues, 49, aguardava há duas horas para ser medicado e amenizar as dores provocadas por uma cólica renal. "Ele está deitado em uma maca no corredor e ninguém mexeu nele ainda", conta. "Agora que os vereadores chegaram, vieram me falar que existem três internações na frente dele ainda", desabafa.

A assessoria de imprensa da Santa Casa de Sorocaba explicou a ausência dos quatro médicos. Segundo a entidade, dois ortopedistas estavam em cirurgia e dois clínicos gerais em horário de almoço. Na opinião de Izídio, falta uma melhor coordenação por parte da Secretaria Municipal da Saúde para o controle dos médicos e demais funcionários. "Há uma desorganização geral. A Prefeitura precisa urgente de um choque de gestão mais austero, com rigidez no horário, na presença, no revezamento", diz.

A mesma opinião foi compartilhada por Crespo, que ressaltou o problema da falta de médicos. "E a Câmara não está sequer tentando verificar a qualidade do serviço médico. O problema nosso é que quase um terço dos médicos não estava trabalhando. Alguns nem foram escalados, pois a jornada não é respeitada", relata. Na opinião de Crespo, as coordenadorias das unidades de saúde não devem ficar com os médicos. "É para evitar corporativismo. É preciso ter o fiscal do fiscal", completa.

Os integrantes da CPI da Saúde pretendem fazer uma nova blitz surpresa na próxima semana. A primeira ocorreu em 16 de setembro na UPH da zona oeste, no Pronto-Atendimento do Parque das Laranjeiras e no Pronto-Socorro da Santa Casa. Na ocasião, os vereadores detectaram a ausência de sete médicos. 

Resposta da SES 
A Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES), em resposta a questionamento da reportagem, limitou-se a dizer que toda e qualquer denúncia fundamentada é apurada, bem como são adotadas as medidas cabíveis. Afirmou ainda que o registro dos profissionais é feito por biometria e que há controle da coordenação das unidades. Em relação à ausência do coordenador de pediatria da UPH da zona oeste, disse apenas que o mesmo fez o plantão da noite/madrugada e saiu do local por volta das 8h, retornando ao trabalho no período da tarde. Além disso, disse que aquela unidade tem um médico em férias e que o outro faltou

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