Taxa de juros volta aos 10% após a sexta alta seguida

Na última reunião do ano, Copom eleva a Selic em 0,5 ponto porcentual; patamar dos dois dígitos não era visto no País desde janeiro de 2012


Economia & Negócios, com Agência Estado


    SÃO PAULO - Na última reunião de 2013, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia em 0,50 ponto porcentual, para 10% ao ano.
    Com a sexta elevação consecutiva, a Selic volta ao patamar dos dois dígitos, que não era visto no País desde janeiro de 2012. A taxa serve de referência para o custo do crédito bancário e para o rendimento da maior parte das aplicações financeiras.
    A decisão desta quarta-feira foi unânime e já era amplamente esperada pelo mercado financeiro. Com essa nova alta, o Brasil se mantém na liderança do ranking de maiores juros reais (descontada a inflação) do mundoA surpresa ficou por conta, então, do comunicado da instituição. Primeiro, o BC retirou a frase utilizada nas últimas quatro decisões, na qual afirmava que o aperto monetário "contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano." Além disso, a instituição acrescentou a lembrança de que o "processo" de ajuste da taxa básica de juros foi iniciado em abril de 2013.
    Uma mudança no texto pode indicar que o BC vai mudar o ritmo de aumento dos juros, que foi de 0,50 ponto porcentual nas últimas quatro reuniões, mas, em abril deste ano, foi de 0,25 ponto porcentual.
    Antes da reunião do Copom de janeiro, para a qual o mercado espera um novo aumento de juros, o BC deverá divulgar pelo menos dois importantes documentos que podem indicador os rumos da política monetária. A primeira é a ata da reunião, que sai na próxima quinta-feira. No final de dezembro, será apresentado o Relatório Trimestral de Inflação, com novas previsões para os índices de preços e para o crescimento do PIB de 2014.
    Ciclo de aperto. O ciclo de aperto monetário - iniciado em abril, como pontuou o BC - deve-se principalmente à aceleração dos indicadores de preço- que seguem pressionados pelos alimentos e também pelo câmbio - e à perspectiva de um novo reajuste dos combustíveis ainda esse ano. A falta de equilíbrio fiscal por parte do governo, que vem gastando mais do que arrecada, também ajuda a pressionar a inflação.
    Nesta sexta-feira, o Conselho de Administração da Petrobrás se reúne para discutir o futuro sistema de reajuste automático dos combustíveis. O encontro estava marcado para o dia 22, mas foi adiado devido à falta de consenso entre a diretoria da estatal e o Ministério da Fazenda, que tem resistências à nova metodologia. Nesta terça-feira, o responsável pela pasta, Guido Mantega, afirmou que a fórmula de reajuste não pode ser feita de improviso.
    Um dígito. O juro permaneceu abaixo dos 10% ao ano por exatamente 20 meses e 20 dias. A resistência da inflação, que segue bem acima do centro da meta de 4,5% desde 2010, no entanto, frustrou aquele que era um dos principais objetivos da presidente Dilma Rousseff.
    Ela chegou a dizer que os juros haviam alcançado patamar "mais civilizado" e que, graças ao "compromisso com a solidez das contas públicas", havia criado um "ambiente para que a taxa de juros caísse". A mistura de juros baixos, com a taxa em 7,25% ao ano em 2012, câmbio mais desvalorizado e aumento do gasto público, no entanto, não impulsionou o crescimento econômico e os investimentos, mas acabou pressionando ainda mais os índices de preços.
    O BC se comprometeu em entregar uma inflação neste ano abaixo dos 5,84% verificados em 2012, apesar de ter como atribuição buscar o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente em 4,5%. O banco também trabalha com uma taxa menor para o próximo ano.
    No mercado, no entanto, as previsões são de um índice de preços ao consumidor (IPCA) mais alto em 2014. As decisões do governo de afrouxar ainda mais as regras do superávit primário e de mexer na Lei de Responsabilidade Fiscal (proposta abandonada temporariamente) também contribuem para a expectativa de mais pressão inflacionária.
    Outro temor dos analistas são os efeitos da mudança na política monetária nos Estados Unidos, da piora nas contas externas brasileiras e de um possível rebaixamento da nota de crédito do País sobre o câmbio e sobre as expectativas econômicas. Além disso, 2014 é ano eleitoral, o que deve dificultar o controle de gastos federais.
    Veja abaixo a íntegra do comunicado do BC:
    "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,00% ao ano, sem viés.
    Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques"

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