Diretor de faculdade é afastado por xingar funcionários de 'lesma' e 'lerda'

MPT pediu punição a Adriano Pila após apurar denúncias de assédio moral.

Anhanguera diz que já acatou decisão da Justiça e também vai investigar.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
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O diretor das Faculdades Anhanguera em Sorocaba (SP), Adriano Donizete Pila, foi condenado ao afastamento imediato de suas funções por prática de assédio moral contra funcionários da instituição. De acordo com decisão liminar da juíza Deborah Beatriz Ortolan Inocênio Nagy, da 2ª Vara do Trabalho de Sorocaba, a empresa tinha 15 dias para afastá-lo após a notificação, sob pena de multa de R$ 5 mil por dia.
Em nota oficial, a Anhanguera diz que já acatou a decisão e solicitou o afastamento temporário do diretor, e que repudia "todo e qualquer tipo de assédio moral, conforme código de conduta interno amplamente divulgado aos seus funcionários". A faculdade ressalta que disponibiliza aos funcionários um canal de comunicação para denúncias, por meio do Comitê de Conduta e Ética, e que não recebeu nenhuma reclamação sobre Adriano Pila por esse meio.
A companhia informa também que ainda não teve acesso a todos os documentos que instruem a referida ação e que "tomará todas as providências para investigar o caso em questão". A assessoria de imprensa da faculdade diz que não conseguiu entrar em contato com o diretor. Ele também não foi encontrado no prédio da faculdade até as 18h desta segunda-feira (27) pela reportagem do G1.
O despacho da juíza aponta “completo abuso do poder diretivo, perseguições e assédio moral aos funcionários da empresa ré”. A acusação de assédio foi feita pelo Ministério Público do Trabalho, após denúncia de uma funcionária que foi que se disse humilhados pelo diretor com ofensas, agressões verbais e ameaças.

Outros depoentes relataram terem sido chamados de “incompetentes”, “lesmas”, “incapacitados para o trabalho”, “burros” e “vagabundos” na frente de diversos colegas, e que presenciaram humilhações, murros na mesa e palavras de baixo calão, proferidas publicamente e de forma direcionada. Todos que prestaram depoimento afirmaram ter sido medicados com calmantes - alguns tiveram ataques de choro ou descontrole emocional, e outros tiveram de se afastar do trabalho por motivos psíquicos e mentais.
A investigação do MPT ouviu outros funcionários que confirmaram o assédio moral. Uma delas disse ter visto “vários colegas saírem chorando da sala do diretor”. Ela presenciou colegas serem chamados de “braço curto”, “lerda” e “aquelas meliantes” e relatou que o assédio levou funcionários a pedir demissão do cargo.
Terror psicológico
O MPT ainda teve acesso a áudios e cópias de e-mails enviados pelo diretor, nos quais fica evidenciado um clima de "terror psicológico" dentro da faculdade. O diretor se refere a uma secretária acadêmica como “vaca”, e a outros funcionários como “burro”, “sem noção” e profere uma série de palavrões durante encontros, ameaçando com suspensão e corte de salários em caso de falta de cumprimento de metas.
Os depoentes ainda disseram ter alertado o departamento de Recursos Humanos da faculdade sobre a conduta ilícita de Pila, mas nada foi feito a respeito. “A mantenedora da Anhanguera, através de seu departamento de recursos humanos, sempre soube das atitudes ilegais e imorais de seus prepostos, mas nada fez. Constata-se, portanto, que o assédio moral é tolerado e estimulado pela ré, já que nada faz para proibi-lo, pois o que importa são os resultados financeiros do seu negócio. Trata-se de um nefasto padrão empresarial de gestão de mão de obra”, diz o procurador Gustavo Rizzo Ricardo, responsável pela investigação.
O caso ainda terá julgamento definitivo, e o MPT pede à empresa a criação de mecanismos internos de denúncia de casos de assédio; que seja formada uma comissão sindicato para apurar as denúncias recebidas; que sejam elaborados programas permanentes de prevenção ao assédio, incluindo o diagnóstico precoce do ambiente psicossocial, dentre outras dezenas de medidas. Pelos danos morais coletivos causados, o MPT pede a condenação do grupo ao pagamento de R$ 10 milhões.
Falsificação
Em um dos depoimentos prestados ao MPT, que consta nos autos da ação civil pública, uma ex-funcionária afirma que o diretor da faculdade pediu para que ela forjasse um documento, registrando como doutora uma docente que ela “nunca teria visto”, com o objetivo de dar um suposto “ar de legalidade” perante as autoridades do Ministério da Educação (MEC), para obtenção de autorização e reconhecimento para um curso da faculdade. Ela disse que o diretor ameaçou de demissão aqueles que não realizassem a falsificação.
O procurador Rizzo diz que enviará representação ao Ministério da Educação, ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público Federal, para que seja investigado o suposto crime de falsificação de documentos.

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