Em vitória diplomática da ilha socialista ao final de encontro da Celac, bloco europeu firma com Havana documento que lança diálogo em busca de um pacto bilateral
O Estado de S. Paulo
(Atualizada às 23h30) BRUXELAS - O governo cubano recebeu um sólido respaldo internacional no último dia da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Os países da União Europeia chegaram nesta quarta-feira, 29, a um "novo acordo global" que confere à Comissão Europeia e ao serviço diplomático do bloco europeu um mandato para negociar um acordo bilateral e "consolidar as relações existentes" com a ilha socialista.
Efe
Reformas econômicas de Raúl motivaram aproximação
A informação é de fontes ligadas à diplomacia de Bruxelas. Segundo um diplomata que anunciou o avanço, porém, "os aspectos relativos aos direitos humanos" não serão deixados de lado em meio à contrapartida que o bloco europeu espera de Cuba para a retomar os negócios com o regime castrista. O futuro acordo entre a nação caribenha e a UE "servirá para promover o comércio e as relações econômicas".
A cooperação europeia com a ilha foi praticamente suspensa em 2003, no contexto da Primavera Negra - a última onda repressiva do governo de Fidel Castro, na qual 75 dissidentes foram presos, processados e condenados a longas penas por crimes políticos em julgamentos sumários. Naquele ano, três homens que haviam sequestrado uma balsa, matado o comandante da embarcação e tentado desviá-la para a Flórida, foram fuzilados pelo regime.
Diante do que considerou afronta aos direitos humanos, a União Europeia, que mantinha relações diplomáticas com a ilha desde 1988, aplicou sanções político-econômicas contra Cuba, mas manteve ajudas ao desenvolvimento do país.
Em junho de 2008, o diálogo entre a UE e o governo cubano foi retomado - e a cooperação bilateral normalizou-se em outubro daquele ano. Desde então, Havana firmou acordos com 15 países do bloco - que mantém até hoje, porém, a "posição comum", de 1996, que condiciona suas relações com a ilha à tomada, por parte de Cuba, de passos na direção da democratização do país e a adoção dos padrões de respeito aos direitos humanos considerados universais pelos países da UE.
Consenso. Fontes do bloco europeu afirmaram que o acordo foi possível após Polônia e República Checa - países mais hostis do bloco ao socialismo cubano - levantarem suas objeções sobre o mandato. Também reticente, a Alemanha "pediu que fossem enfatizados os aspectos de direitos humanos". "Já não há nenhum país (da UE) que bloqueie o acordo."
A decisão - que não deverá deixa de levar em conta a "posição comum" - foi tomada por um grupo de trabalho que reuniu técnicos de todos os 28 países-membros, abrindo caminho para seus chanceleres adotarem a agenda de reaproximação com a ilha.
A previsão é que a decisão seja ratificada no dia 10, durante uma reunião entre os ministros em que nem sequer deverá haver debate sobre o tema, apenas o sinal verde para a retomada das negociações com Cuba. Em outro passo formal que deve ser tomado antes da aprovação oficial do conselho de chanceleres da UE, os embaixadores europeus deverão adotar o novo mandato de relações a partir da quarta-feira.
Uma vez que os ministros de Relações Exteriores oficializem o mandato, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, poderá abrir as negociações diretas com as autoridades cubanas. / AFP e EFE
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