27% da população não têm casa própria


Censo do IBGE mostra que na cidade são 49.247 os moradores de imóveis alugados ou cedidos por terceiros


Carolina Santana
carolina.santana@jcruzeiro.com.br 


Na casa de Marilene Gomes Ribeiro, 46 anos, são dois cômodos para sete pessoas. O espaço foi cedido pela mãe e é onde ela mora junto com o marido e cinco filhos entre 17 anos e 23 anos. A família faz parte dos 27,5% da população sorocabana que não têm casa própria e é uma das inscritas para participar do programa habitacional municipal "Nossa Casa". Na cidade, são 178.777 residências e 49.247 são alugadas ou cedidas para os moradores, mostra os dados mais atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os imóveis próprios, que totalizam 129.530 moradias, 111.812 estão quitados e outros 17.718 em processo de aquisição. As informações fazem parte do Censo 2010. 

Orçamento apertado 

Dos filhos de Marilene, dois deles agora trabalham e podem ajudar os pais com os custos da casa. Ela conta que apenas o marido trabalhava como agente de segurança e o salário era suficiente apenas para cobrir os gastos com os filhos. "Com cinco filhos pequenos e só um de nós trabalhando, não tínhamos condições de comprar um imóvel, fazer economia para dar uma entrada ou coisa parecida", recorda. De início ela e o marido moraram com os pais dele, mas logo tiveram que mudar de casa. Foi quando a mãe de Marilene ofereceu os dois cômodos para a nova família que está nessa situação há dez anos. "É a casa dos meus pais, mas não é a minha. O espaço é muito pequeno para todos e agora que as crianças estão crescidas temos condições de pagar uma prestação", disse. 

Segundo ela, a família tem a possibilidade de pagar R$ 100 mensais pela casa própria. "Meus pais só têm esse imóvel por conta de programas habitacionais também", comenta. A casa da família fica no bairro Jardim Maria Eugênia e foi adquirida por meio do programa estadual de habitação em 1983. "Agradeço todos os dias por isso. Eles foram sorteados e agora somos nós que estamos à espera do sorteio", disse esperançosa a dona de casa. 

Faxineira e com quatro filhos pequenos, Sueli Domingues de Oliveira, 37 anos, paga R$ 350 mensais de aluguel. O pai das crianças, que têm entre sete e 15 anos, ajuda mas, segundo ela, com muito pouco. "Ele tem problema de saúde, não posso exigir muito dele também", afirma. Para garantir a subsistência dos pequenos, ela conseguiu uma cesta básica junto com um projeto social mas diz que as finanças estão sempre no vermelho. "Meu maior sonho é conseguir um canto para mim e para meus filhos. Saber que eles não vão ficar desamparados quando eu faltar é o meu maior objetivo", comenta. "Aluguel é um dinheiro jogado fora. Você paga para morar mas não tem o retorno. Se for uma prestação de imóvel é uma coisa garantida, é uma segurança que você está conseguindo, um investimento no futuro", define. Sueli paga aluguel há mais de 20 anos. 

Déficit habitacional 

Famílias em situação de submoradias, coabitação ou aquelas para as quais o aluguel tem um grande peso no orçamento doméstico fazem parte das estatísticas de déficit habitacional. Vice-presidente do Interior do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Flávio Amary explica que o fato da pessoa não ter um imóvel próprio não a coloca automaticamente nas estatísticas de déficit habitacional. "É um critério técnico que leva em consideração as condições de habitação da família", explica. Amary acredita que o número de pessoas cadastradas para o programa Nossa Casa será reduzido drásticamente depois da análise dos dados. "Ainda não é possível precisar mas o fato da pessoa querer um imóvel próprio não a coloca nos programas habitacionais do governo. Existem critérios econômicos e sociais que devem ser respeitados", pondera o vice-presidente estadual do Secovi. 

Sobre os dados do IBGE, Amary afirma que os números são positivos. "Não vejo apenas os 27,5% que não têm casa própria, mas destaco os 72% que têm um imóvel próprio", pondera. Ele afirma que a cidade de Sorocaba, historicamente, aprova empreendimentos habitacionais com facilidade mas não esconde a preocupação com as mudanças que podem ocorrer com a aprovação do novo Plano Diretor do município. A quantidade de sorocabanos com casa própria, afirma, tem relação direta com a oferta de imóveis residenciais. 

Vazios urbanos 

Realizado na gestão do ex-secretário e hoje vereador Hélio Godoy (PSD) um estudo apontou a existência de 30 vazios urbanos com potencial para receber empreendimentos habitacionais. Ele explica que são áreas extensas que podem receber empreendimentos habitacionais populares. Caso essas áreas venham a ser declaradas como de interesse social terão de ser, obrigatoriamente, utilizadas para a construção de moradias. A declaração pode ser feita pelo poder Executivo via decreto. Godoy afirma que a pesquisa apontou maior demanda habitacional na zona norte de Sorocaba, sendo seguida pela zona oeste. Juntas essas áreas concentram 70% das pessoas sem casa própria. Esses vazios estão espalhados pela cidade. 

Godoy destaca que os 46 mil cadastros feitos para o programa "Nossa Casa" já era um número esperado. Enquanto secretário apresentou propostas para o plano diretor da cidade. "Apresentamos cerca de dez áreas para serem declaradas como zonas de interesse social para implantação de conjuntos sociais visando atender a demanda", comenta. O Plano Diretor será votado este ano e estabelecerá políticas públicas em diversos segmentos para os próximos dez anos.

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