Bar Luiz criticava aluguel alto; dono de imóvel nega
Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo
RIO - A prefeitura do Rio vai desapropriar o Bar Luiz, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1887, para evitar seu despejo. O bar fica em um imóvel que em 2012 foi comprado pelo fundo de investimento imobiliário Opportunity, assim como outros 17 sobrados da Rua da Carioca, no centro.
Fábio Motta/Estadão
Bar Luiz, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1887
Segundo os inquilinos, os aluguéis foram reajustados para valores muito altos - no caso do Bar Luiz, teria passado de R$ 16 mil para R$ 30 mil. O Opportunity nega e diz que os donos não pagam desde dezembro de 2012. "O aluguel era o mesmo cobrado anteriormente pela Venerável Ordem Terceira (VOT), antiga proprietária. O aluguel e seus reajustes anuais obedeciam estritamente o que fora acordado em contrato entre o Bar Luiz e a VOT em 2010", destaca o fundo, em nota.
A prefeitura afirmou que decidiu que vai cobrar "um aluguel com valor razoável que permita à família manter aberta e funcionando esta que é uma verdadeira instituição carioca".
Criado por Jacob Wendling, filho de suíços nascido em Petrópolis, o Bar Luiz ficava na Rua da Assembleia, também no centro, e se chamava Zum Schlauch (serpentina, em alemão) - referência ao chope.
A fama da casa se ampliou quando Adolf Rumjaneck, afilhado de Jacob, passou a trabalhar lá. Ele desafiava para queda de braço clientes que preferiam bebidas diferentes de chope: quem vencesse podia consumir qualquer drinque à vontade. Se o cliente perdesse, deveria provar o chope e pagar pela bebida.
Em 1901, o bar mudou de endereço (na mesma rua) e de nome, passando a chamar Zum Alten Jacob (Ao Velho Jacob), homenagem ao fundador. Em 1908, Jacob se mudou para a Suíça e vendeu o bar a Adolf.
Em 1915, uma lei proibiu letreiros em língua estrangeira e o bar ganhou o nome do dono. Rumjaneck morreu em 1926 e o estabelecimento passou para seu sócio austríaco, Ludwig Vöit. Em 1927, o bar se mudou para o endereço atual.
Na 2.ª Guerra Mundial, estudantes queriam destruir o lugar, porque supunham que seu nome fosse uma homenagem a Hitler. Mas o compositor Ary Barroso estava no bar e impediu o vandalismo. Vöit, então, mudou o nome do local para Bar Luiz.
Despejados. Na semana passada, a loja de instrumentos A Guitarra de Prata, que funcionava havia 127 anos na rua, foi despejada, também por discordâncias sobre aluguel. A Guitarra teve clientes como Noel Rosa, Pixinguinha, Dorival Caymmi e Paulinho da Viola, e foi pioneira na venda de gramofones no Rio. Dias depois do fechamento, outra loja de instrumentos, a vizinha Acústica Perfeita, também encerrou suas atividades.
Em 2013, a prefeitura já havia tombado nove imóveis da rua, entre eles os que abrigam o Bar Luiz e A Guitarra de Prata. A ideia era preservar o comércio tradicional. / COLABOROU FÁBIO GRELLET
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