Melhora situação de abrigo de haitianos; ao menos 780 passaram por alojamento

Hoje, 120 estão no abrigo da Prefeitura e 30 estão alojados na Missão Paz, no Glicério; para padre que dirige a missão, chegada de imigrantes diminuiu


Rafael Italiani - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Pelo menos 780 haitianos passaram pela Missão Paz, no Glicério, na região central de São Paulo, desde abril, quando governo do Estado do Acre começou a pagar passagens de ônibus para os imigrantes conseguirem chegar em São Paulo. E a Prefeitura e o governo do Estado, na época, consideraram a ação da gestão do governador Tião Viana (PT) como sendo de "despejar" na capital os refugiados que se concentravam no Acre.
Haitianos no Glicério - Sérgio Castro/Estadão
Sérgio Castro/Estadão
Haitianos no Glicério
O Estado esteve na tarde desta terça no local e encontrou todas as 120 vagas do preenchidas. Não havia funcionários da Prefeitura no abrigo; apenas os haitianos. No período mais crítico a Missão Paz chegou a ter 220 haitianos, lembra Parise.Hoje, segundo o padre Paolo Parise, que dirige a Missão Paz, a situação do alojamento é melhor. "Aquela época foi uma situação de emergência que exigiu um esforço muito grande. Agora melhorou porque temos também o abrigo da Prefeitura", disse Parise. Em meio à crise, a administração municipal precisou correr para reformar um antigo galpão na Rua do Glicério, ao lado da Missão Paz, para abrigar os haitianos que se apinhavam na paróquia. Hoje, o alojamento já está no limite.
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania afirmou que tem uma parceria com o governo Federal para a criação do primeiro Centro de Acolhida para o Imigrante da cidade de São Paulo. O local irá abrigar não apenas os haitianos, mas todos os imigrantes que precisarem de algum tipo de assistência.
Hoje, além dos 120 que estão no abrigo da Prefeitura, outros 30 ainda estão alojados na Missão Paz. De acordo com Parise, a situação começou a se normalizar também em função da diminuição da chegada de haitianos em São Paulo. Ele afirmou que o último grupo chegou na última semana.
A oferta de trabalho também contribuiu. "A maioria foi para fora da cidade, para os Estados do Sul e Minas Gerais. Três empresas alugaram ônibus depois dos exames admissionais." A Missão Paz faz o controle em planilhas de todos os imigrantes que procuram o local. Um balanço mostra que do total de 780 haitianos que passaram por lá, 662 conseguiram emprego de carteira assinada. O número deve subir para 700 em uma semana. Parise tem a relação das atividades que mais empregam os haitianos: construção civil, limpeza, restaurantes e frigoríficos.
Documentos. Durante a crise entre a Prefeitura, Governo do Estado e o Acre, as autoridades de São Paulo pediram para que os haitianos chegassem em São Paulo com documentos e, principalmente a Carteira de Trabalho. O prefeito Fernando Haddad (PT) pediu ajuda para o Ministério do Trabalho e Emprego para agilizar a emissão do documento. Antes disso, o secretário municipal de Direitos Humanos Rogério Sottili cobrou que o governo do Acre deveria ter avisado São Paulo sobre a vinda dos refugiados. Nilson Mourão, secretário municipal de Justiça e Direitos Humanos do Acre respondeu dizendo que seu Estado "não recebeu aviso prévio" quando os primeiros haitianos começaram a chegar.
Congo. Enquanto a força-tarefa feita para agilizar a emissão de carteiras de trabalho, para haitianos, faz com que todos os dias pelo menos 30 refugiados consigam o documento, outros imigrantes demoram até dois meses para emitir os papais. O grupo mais prejudicado é o dos imigrantes do Congo. A Missão Paz abriga hoje 40 congoleses.
"Cria um mal-estar aqui dentro porque eles acham que os brasileiros gostam mais dos haitianos do que dos outros", afirmou Parise. "Eles estão pedindo o mesmo tratamento, estão vindo de um país em guerra que podemos colocar no mesmo nível de um terremoto", afirmou o padre. "Tentamos mandá-los juntos com os haitianos e dizem que eles não são prioridade", afirmou.
O padre cobra soluções globais. "Não tem racionalidade. É tudo na base da emergência, infelizmente." Fugindo do Congo por motivos "políticos", o congolês Jonathan Londala, 27 anos, vai tentar tirar a Carteira de Trabalho em Santo André, no ABC. Lá o tempo para a emissão de documentos é de três semanas. A Missão Paz também encaminha os imigrantes que não são do Haiti para outras cidades da Região Metropolitana já que, na capital, a emissão pode demorar dois meses.

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