Encontrado em 'estado cadavérico' era visitado por médico da família

Advogado pediu habeas corpus de mulher presa por abandono do pai.

Aposentado morreu ao dar entrada no pronto-socorro de Mairinque, SP.

Adriane SouzaDo G1 Sorocaba e Jundiaí
Carlos chegou vivo ao pronto-socorro (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Carlos foi encontrado desnutrido e desidratado
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)
O advogado de Karina Donizete da Silva, de 28 anos – apontada como responsável pelo abandono e morte do pai, de 56 –, pediu nesta quarta-feira (25) o habeas corpus solicitando à Justiça a liberdade de sua cliente. Para o advogado, ela não era a única responsável pela saúde do aposentado Carlos Donizete da Silva, que morreu ao dar entrada no pronto-socorro de Mairinque (SP) no último dia 11,com um quadro avançado de desidratação e desnutrição. Karina cuidava do pai há dois anos, mas, para o advogado, a prefeitura também era responsável.
“Temos comprovantes de que o pai recebia cuidados regulares do Programa Saúde da Família, por isso ela não pode ser totalmente responsabilizada”, avalia o advogado de defesa, João Comodoro. O programa visa o atendimento mais próximo das famílias, com visitas em domicílio ou na própria unidade de saúde.
Por meio de nota, a Prefeitura de Mairinque confirmou que o aposentado era atendido pelo Programa Saúde da Família.
No dia 11 de junho, Karina chamou o resgate para o pai, que tinha parado de respirar. Ele foi levado às pressas para o pronto-socorro, mas não resistiu. O estado em que ele foi encontrado causou revolta em toda a equipe médica. O aposentado estava em "estado cadavérico", segundo o relato da delegada que cuida do caso, Simona Ricci Azuino. A médica da unidade de saúde declarou como causa da morte desnutrição e desidratação.Segundo dados da prefeitura, a última visita domiciliar da equipe médica foi em 23 de maio. Depois disso, uma nutricionista foi até a casa do aposentado, mas a filha disse que ele estava dormindo e não poderia ser acordado. Na ocasião, foi receitada ao paciente uma dieta com alto teor calórico. Em 28 de maio, Karina compareceu ao Centro de Saúde do bairro para buscar fraldas e medicamentos para o pai. Mas, segundo a prefeitura, a filha do aposentado não informou que ele estava em situação delicada.
O defensor não nega que Karina tinha a responsabilidade de cuidar do pai, mas descarta negligência. “Sim, ela teve um pouco de descuido, mas ele estava sendo atendido pelo médico da família, então minha cliente não foi negligente”, ressalta o advogado.
Doença grave
Em entrevista ao G1, o secretário de Saúde do município, Antônio Sérgio Ismael, diz que Carlos não foi internado anteriormente por não ter possibilidade de tratamento.
“Este senhor tinha uma doença degenerativa grave e foi mandado para casa por não ter mais condições de tratamento. Esta é uma medida muito comum nestes casos”, diz o secretário, que não informou a doença por não ter sido autorizado pela família.
O habeas corpus será avaliado por três desembargadores. Caso o pedido seja aceito pela junta, em três dias Karina será solta por meio de liminar. Caso seja negado, o habeas corpus será avaliado por outros meios, o que levará de 10 a 12 dias, segundo o advogado. Enquanto isso, Karina segue presa na Cadeia Feminina de Votorantim (SP).
A Polícia Civil continua investigando o crime, registrado como morte por maus-tratos em decorrência de desnutrição e desidratação. A Assistência Social da prefeitura enviou à polícia um relatório com o histórico de atendimento do paciente.

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