Costa diz que encontrava lobista do PMDB só para tratar de propina

CURITIBA e SÃO PAULO - O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, que todos os seus contatos com o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, foram para tratar sobre pagamentos de propina. Segundo ele, nunca houve discussão técnica sobre contratos, sobre questões de engenharia ou similares, que justificassem a atuação de Baiano como consultor.
Em depoimento no processo sobre as irregularidades na área Internacional da Petrobras durante a gestão de Nestor Cerveró, Costa disse que foi apresentado a Baiano por Cerveró dentro da sede da Petrobras. Ele afirmou que a maior parte dos valores que recebeu do lobista, a título de propina, foi paga no exterior. A quantia chegava a US$ 4 milhões, dos quais pelo menos US$ 3 milhões foram efetivamente recebidos - US$ 1,5 milhão do total correspondeu à propina paga pela compra da refinaria de Pasadena, no Texas, conduzida pela área de Nestor Cerveró, e o restante por obras da empreiteira Andrade Gutierrez.
Para facilitar o pagamento, Costa disse que viajou com Baiano para Liechtenstein, na Europa, e foram ao Vilartes Bank. Na agência bancária, Baiano o apresentou a representantes da instituição que o ajudaram a abrir uma conta para receber as propinas.
Segundo ele, todos os seus contatos com o lobista foram para tratar sobre pagamentos de ilícitos. Nunca houve discussão técnica sobre contratos, sobre questões de engenharia ou similares, que justificassem a atuação de Baiano como consultor, apesar do próprio Costa dizer que o lobista se apresentava como consultor de empresas espanholas.
Perguntado pelo juiz Sérgio Moro se era o único diretor a receber propina, afirmou que não e voltou a citar Renato Duque. A defesa de Nestor Cerveró protestou, afirmando que a pergunta não se limitava ao conteúdo do processo, que trata sobre o pagamento de propina para Cerveró e Fernando Soares na aquisição de navios-sonda para a Petrobras.
— Quem decide sobre a pertinência é o juízo. O juízo entende que a verdade deve ser buscada dentro do processo — afirmou Moro.
A defesa de Baiano tentou, na noite de quinta-feira, anular a audiência da Justiça Federal ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Antes da audiência, defensores do lobista e representantes do Ministério Público Federal (MPF) bateram boca. Um dos procuradores chegou a afirmar que os advogados de Baiano estavam fazendo “chicana” para atrapalhar o andamento do processo.
Costa foi o primeiro a ser ouvido nesta sexta-feira, o último dia depoimentos das testemunhas de acusações dos processos da 7ª fase da Operação Lava-Jato.
Em depoimento, Costa afirmou que, além do pagamento de propina, Fernando Baiano conversou com ele apenas sobre projetos futuros que poderiam ser feitos pela Petrobras e que poderiam beneficiar uma empresa espanhola que era representada por ele. Costa disse que nunca contratou a empresa espanhola na área de Abastecimento.
Sobre a contratação de dois navios-sondas da Samsung pela Petrobras, Costa disse que era praxe que o grupo técnico da área Internacional apresentasse o projeto à diretoria executiva. Segundo ele, a diretoria executiva aprovou as contratações, pois a Petrobras precisava dos equipamentos.
De acordo com ele, sempre que a área técnica apresenta os projetos para aprovação, são indicados preços máximos e mínimos do mercado e, inclusive, a possibilidade de comprar um equipamento novo, construído exclusivamente para a empresa.
A contratação de navios-sonda da Samsung, segundo denúncia do delator Júlio Camargo, resultou no pagamento de propinas a Fernando Soares e a Nestor Cerveró. ​
Ao depor, porém, Costa afirmou que não soube detalhes da intermediação do negócio, mas garantiu que há cobrança de comissão. Perguntado se a comissão paga a lobistas era lícida ou ilícita, o ex-diretor afirmou que poderia ocorrer as duas formas. Disse ainda não saber se houve propina nos negócios firmados com a Samsung.
Embora tenha dito não conhecer detalhes sobre a contratação de navios-sondas, Costa disse que seus contatos com o consultor Júlio Camargo foram vários, todos referentes a propinas a serem pagas por empreiteiras integrantes do cartel da Petrobras.
— Nos que tive contato com ele foram pagamentos de propina — afirmou
Antes do início do depoimento, que começou às 11h20min, a defesa do doleiro Alberto Youssef afirmou que será necessária acareação entre o operador e outros delatores para saber “quem está falando a verdade realmente”. Na quinta-feira, parte da delação do doleiro veio a público trazendo novos fatos ao processo.
— O confronto com os novos fatos vai ter que existir, isso é natural pelo número de colaboradores na operação, mas tenho certeza que iremos ter que acarear as informações para ver quem está falando a verdade realmente — disse o criminalista Antônio Figueiredo Basto, que defende Youssef.
Além de Costa, que chegou à sede da Justiça Federal escoltado por agentes da Polícia Federal vindo do Rio, onde cumpre prisão domiciliar, depôe nesta sexta-feira o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, sócio de Youssef e apontado como braço-direito do doleiro.
Nesta sexta-feira, o juiz Sergio Moro conduz as oitivas das testemunhas de acusação no processo que investiga irregularidades da área Internacional da Petrobras. Os réus nesta ação penal são Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da estatal; o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras; Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal; e o doleiro Alberto Youssef.
Na entrada do Tribunal, o advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro disse que acha nula a delação premiada de Paulo Roberto Costa. Segundo ele, o acordo de delação premiada deve ser espontâneo e não algo forçado pela Justiça. Em sua visão, os executivos ao estarem presos, de certa forma, foram obrigados a colaborar.
— O ambiente em que o Paulo Roberto fez a delação não é o ambiente que a legislação determina. Eu tenho esta delação do Paulo Roberto Costa com muita reserva. No meu modo de ver é totalmente nula — declarou Ribeiro.
Esta é décima e última das oitivas comandadas por Moro em seis processos da 7ª fase.

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