Maduro cita golpe, confirma prisão de prefeito e pede ‘punho de ferro contra conspiradores’

O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, foi detido pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) em seu gabinete na noite desta quinta-feira. O próprio presidente venezuelano, Nicolás Maduro, confirmou a prisão do político e disse que ele terá de "responder por delitos cometidos contra a segurança e a Constituição do país".
Ledezma é conhecido por ser um dos principais opositores à administração de Nicolás Maduro. O presidente disse que vai combater 'conspiradores' com 'punho de ferro'.
Segundo a mídia venezuelana, agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) entraram no gabinete do prefeito em Caracas por volta de 17h (horário local – 19h de Brasília) e o levaram preso. O próprio Ledezma avisou por meio de sua conta no Twitter que "funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência estavam tentando entrar em seu escritório" na capital venezuelana.
Pessoas que estavam perto do gabinete do prefeito disseram que foi possível ouvir tiros para o alto.
"Nós que estávamos aqui no prédio pudemos ver que entraram no gabinete do prefeito Ledezma levando consigo vários agentes da Sebin; também ouvimos tiros para o ar", disse à BBC o deputado da Assembleia Nacional Juan Guaido.
Discurso
O presidente da Venezuela discursou em rede nacional durante encontro com movimentos sociais nesta quinta-feira, em Caracas, pedindo o "apoio" da população para acabar com as "conspirações" contra seu governo.
"O senhor Antonio Ledezma que hoje foi capturado por ordem do Ministério Público e vai ser processado pela Justiça venezuelana para que responda por todos os delitos cometidos contra a paz do país, a segurança, a Constituição", afirmou Maduro. "Peço o apoio de todo o povo para consolidar a paz, já basta de conspirações".
Maduro voltou a afirmar que atuará com "punho de ferro" contra "conspiradores" e disse que não permitirá que os políticos venezuelanos façam "jogo-duplo" ao concorrer a eleições dizendo que "acatam a disputa política pela via democrática" sendo que, por outro lado, "participam de planos de desestabilização".
O presidente venezuelano admitiu que militares ativos teriam sido cooptados por funcionários do governo norte-americano para derrocar seu governo e, em contrapartida, receberiam visto e moradia em Miami.
A detenção de Antonio Ledezma ocorre dias depois do governo ter advertido a população sobre o desmatelamento de um suposto golpe de Estado que envolveria militares ativos e políticos opositores. No suposto plano, estava prevista a utilização de aviões Tucano para bombardear alguns pontos da capital Caracas.
Ao detalhar o suposto golpe, o presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello, e o número dois do chavismo, disse que Ledezma e o deputado opositor Julio Borges estariam envolvidos em um plano para assassinar o dirigente opositor radical Leopoldo López. Há um ano, López foi preso, acusado de insuflar atos de violência e protestos que se arrastaram durante meses e resultaram na morte de 43 pessoas.
Políticos anti-chavistas veem na detenção de Ledezma um sinal da radicalização de métodos de repressão contra opositores e uma manobra para tirar o foco dos problemas econômicos e de desabastecimento que afeta a população.
Relação com Maduro
Próximo de políticos como Leopoldo López e Maria Corina Machado, Ledezma é um dos políticos mais críticos e de oposição ao governo Maduro na Venezuela.
Ledezma teria sido detido pelo Serviço Bolivariano de Inteligência na Venezuela
Embora não tenham apresentado provas, funcionários da presidência acusam a Ledezma de estar planejando um golpe de Estado contra o líder venezuelano.
O prefeito de Caracas, porém, já negou as acusações. "Durante o regime de Maduro, já se falou em 12 supostos golpes de Estado. Aqui os que têm o golpe como princípio são os senhores que estão neste governo", afirmou Ledezma.
"O governo fala de movimentos de desestabilização, mas o que desestabiliza o país é a corrupção", acrescentou.
Direitos Humanos
Enquanto isso, a mídia local também lembra a situação do líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, que foi preso há um ano e levado para a prisão militar de Ramo Verde. Ele foi detido durante os protestos contra o governo que tomaram o país por quatro meses – López também é um grande opositor de Maduro.
Em Washington, o diretor das Américas da organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW), José Miguel Vivanco, enviou um comunicado dizendo que o governo de Maduro é "responsável pela vida e pela integridade física do prefeito opositor Antonio Ledezma."
"Sem provas sobre qualquer crime que tenha cometido, o prefeito nunca devia ter sido preso e deveria ser liberado imediatamente. Do contrário, estaremos diante de um novo caso de detenção arbitrária contra opositores, em um país onde não há independência judicial", diz o texto.

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