Médica que teve CRM usado por outra é residente e nunca deu plantão

Natália de Oliveira prestou depoimento à Polícia Civil de Mairinque (SP).
Ela e outros seis profissionais tiveram registros usados por 'falsos médicos'.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
Mais uma médica que teve o registro profissional usado por outra pessoa na região de Sorocaba (SP) prestou depoimento na delegacia de Mairinque (SP). Natália de Oliveira foi ouvida nesta terça-feira (21) e, segundo a Polícia Civil, afirmou que ainda é residente e que nunca deu plantão. Ela não quis dar entrevista à imprensa. Para as delegadas responsáveis pelas investigações, a participação de Natália em um possível esquema está descartada.
O registro dela era usado por Natani de Oliveira, que está presa desde a semana passada. Até o momento, seis pessoas que trabalhavam em hospitais de Mairinque, São Roque (SP) e Alumínio (SP) foram descobertas usando CRM de terceiros. Além de Natani, um homem também está preso. Ele foi identificado como Pablo Mussolim, que usava o registro e a identidade do médico Pablo Galvão.
O grupo foi desmascarado depois que uma mulher, que se identificava como Cibele Lemos, abandonou o plantão no pronto-atendimento de Alumínio há dez dias, sem dar satisfações. O diretor da unidade decidiu formalizar uma reclamação no site do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Mas, quando acessou o CRM fornecido pela suposta médica, viu que a foto cadastrada na página não condizia com a pessoa que trabalhava no local. Por fim, ela foi identificada pela polícia apenas como "Vilca".
Depois que a farsa veio à tona, o caso foi parar na polícia, que deflagrou a "Operação Placebo", para tentar encontrar outros supostos médicos que utilizavam CRM de outras pessoas. Além de Vilca, Pablo e Natani, mais três funcionários foram descobertos trabalhando da mesma forma. Um morreu no mês passado e os nomes dos outros dois ainda não foram divulgados. Eles ainda não se apresentaram à polícia, assim como Vilca, cujo advogado informou já estar na fronteira do Brasil com a Bolívia.
O verdadeiro médico Pablo Galvão foi ouvido durante o fim de semana. Segundo a polícia, ele disse que já respondeu duas sindicâncias por ações que não foram realizadas por ele. Nesta segunda-feira (20), outro médico que teve o CRM usado e cujo nome não foi revelado também prestou depoimento. Ele afirmou que teve os documentos roubados em março deste ano.
Ao longo da semana, mais suspeitos e testemunhas devem ser ouvidos. Os documentos recolhidos na última sexta-feira (17), durante a Operação Placebo, estão sendo analisados. O material foi apreendido nas diretorias de Saúde e nos pronto-atendimentos de Alumínio, Mairinque e São Roque. Os policiais tambem estiveram no escritório da Innovaa, empresa responsável pelas contratações dos falsos médicos.
Natália de Oliveira não quis dar entrevista (Foto: Reprodução/TV Tem)Natália de Oliveira não quis dar entrevista
(Foto: Reprodução/TV Tem)
Responsabilidade
Por meio de nota, a Innovaa informou que nem todos os "falsos médicos" foram contratados por ela e afirmou que tinha contrato apenas com os hospitais de São Roque e Alumínio. Quando o primeiro caso veio à tona, a empresa já havia emitido uma nota informando que, na época das contratações, não havia foto disponível no site do Cremesp e que, a partir de então, passaria a pedir referências aos futuros contratados.
A Polícia Civil diz que as investigações devem apontar ainda se os médicos verdadeiros tinham conhecimento do uso de seus registros pelos falsos profissionais. "Estamos em contato com boa parte desses médicos, que constam como vítimas, mas alguns estão sob suspeita de que tinham conhecimento e que alugavam o CRM para que outros exercessem falsamente a medicina", explica o delegado seccional, Marcelo Carriel.
60 óbitos
Entre os documentos apreendidos na operação da Polícia Civil na última sexta-feira (17), estavam pelo menos 60 declarações de óbito assinadas pelos supostos médicos. A informação é da delegada responsável pelo caso, Fernanda Ueda. O material foi recolhido em São Roque.
Isabel registrou B.O. após morte da mãe (Foto: Reprodução/TV Tem)Isabel registrou B.O. após morte da mãe
(Foto: Reprodução/TV Tem)
"Essas declarações foram feitas por quatro pessoas que, em tese, não teriam habilitação. Também não se descarta que eles tenham feito a prática médica e o óbito tenha sido declarado por outro profissional. Existe uma semelhança muito grande entre os médicos falsos e aqueles dos quais eles utilizavam o CRM ", explica Ueda.
O delegado seccional Marcelo Carriel diz que a investigação deve averiguar esse envolvimento dos falsos médicos com os óbitos. ”Agora, a investigação será feita para constatar se esses óbitos são decorrentes de um mau atendimento ou da falta de um atendimento adequado, como um encaminhamento que não deveria ocorrer, ou qualquer coisa desse tipo".
No atestado de óbito da mãe da secretária Isabel Aparecida de Oliveira, consta o nome de Pablo Galvão, mas quem atendeu a paciente foi Pablo Mussolim. A mulher sofria de câncer no pulmão, foi atendida na Santa Casa de São Roque e morreu 20 minutos depois. Isabel registrou boletim de ocorrência na delegacia de Mairinque, que está investigando o caso. "Eu quero Justiça, quero que ele pague pelo que fez. Não foi só a vida da minha mãe, foram 60 no total", diz Isabel, referindo-se a todos os que teriam morrido nas mãos dos seis "falsos médicos".
Os três são investigados por utilizarem CRM de outros médicos (Foto: Reprodução TV TEM)Pablo, Natani e Vilca são investigados por utilizar CRM de outros médicos (Foto: Reprodução TV TEM)

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