ANÁLISE: As prévias e os sinais de racha no PSDB


Estadão- Processo que deveria ser salutar para arejar o partido revive disputa de projetos de poder entre Serra e Alckmin que pautam legenda há mais de uma década


Marco Antonio Teixeira*
As prévias para escolha de candidaturas ao Executivo é uma experiência extremamente salutar para o PSDB por mobilizar sua militância e diminuir o tradicional poder decisório da cúpula partidária tucana, que há mais de 20 anos se divide entre os nomes de José Serra e Geraldo Alckmin tanto para disputar a Prefeitura de São Paulo como o governo paulista, dificultando o surgimento de novas lideranças. Todavia, o atual processo começa a refletir novamente a contenda política histórica no PSDB paulista: a disputa entre Alckmin e Serra pelo controle do partido e pela viabilização de seus projetos de poder, o que vem colocando o projeto partidário enquanto ação coletiva em segundo plano.
Enquanto o PSDB se divide e gasta suas energias numa guerra interna fraticida, a cada eleição seus adversários se fortaleceram. O desenrolar da prévia municipal em curso parece repetir uma mesma história que já levou o partido ao fracasso. O resultado do primeiro turno da disputa pela definição de quem será o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo surpreendeu, mas deve acentuar a guerra entre serristas e alckmistas no turno final.
PRÉVIAS DO PSDB EM SÃO PAULO
Felipe Rau/Estadão
Geraldo Alckmin e João Doria
Acompanhados por um séquito de assessores e aliados, o governador Geraldo Alckmin e e o empresário João Doria foram juntos a um colégio no Morumbi onde o governador votou. Em seguida foram ao Butantã, onde vota o empresário. "Sem demérito para os demais candidatos, o meu voto vai para o João Doria. Ele traz uma experiência do setor privado. São Paulo está precisando dar uma acelerada", disse Alckmin
O empresário João Doria venceu com 43,13% dos votos, o vereador Andrea Matarazzo alcançou 32,89% e o deputado federal Ricardo Tripoli atingiu 22,31%. Chama atenção o fato de Matarazzo, tido como favorito por ter recebido apoio publico de lideranças como Serra, Fernando Henrique Cardoso, Alberto Goldman e Aloysio Nunes, ter ficado numa posição distante do primeiro colocado. A posição alcançada pelo empresário revela o peso do apoio governamental num contexto como esse.
Isso ficou evidenciado em declarações como a de Goldman ao Estado e a do ex-deputado José Aníbal, apoiador de Tripoli, ao UOL. O ex-governador reclamou do fato de Alckmin, por ser o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes, dar apoio formal a um dos pré-candidatos e acompanhá-lo no dia da votação. "Isso é mais que um apoio formal, porque toda a estrutura do governo  está mobilizada pra isso. De quem é o governo? De uma pessoa só ou do partido, de milhares de militantes? Como é aceitável isso?", questionou Goldman. Tripoli foi na mesma linha ao fazer uma crítica indireta, mas contundente, a Alckmin. "A fronteira entre a ação de um governador e o uso da máquina pública é quase nenhuma", disse o ex-deputado, suplente de Serra no Senado e presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço de formação política dos tucanos.
O tom de beligerância da disputa teve como desfecho uma petição feita por aliados de Matarazzo e de Tripoli ao diretório municipal do PSDB pela impugnação da candidatura de Doria por abuso de poder econômico e desobediência à legislação municipal. Ao que tudo indica, o segundo turno marcado para 20 de março pode ser realizado sem que o resultado do turno inicial tenha sido reconhecido pelos demais competidores.
Como se vê, essa prévia pode se transformar no sinal mais evidente de inviabilidade da candidatura tucana ainda a ser definida, se não houver lisura no processo e espírito democrático para assimilar um resultado já em questionamento com o "pedido de impeachment" de Doria feito por seus adversários. Não haverá remédio que cure as cicatrizes decorrentes dessa guerra política, o que pode inclusive enfraquecer o projeto presidencial de 2018, seja ele de Serra, Alckmin ou mesmo Aécio Neves, dada a importância do contingente eleitoral de São Paulo. Trilhando o atual caminho, o PSDB paulistano corre o risco de repetir 2008 e confirmar a divisão do partido como uma vocação natural para a derrota. Naquele momento, Alckmin foi candidato a prefeito e uma parcela significativa dos tucanos, identificada com Serra, não trabalhou por sua candidatura e contribuiu para viabilizar a reeleição de Gilberto Kassab, na época no DEM. Resultado: a candidatura tucana em 2008 morreu no turno inicial.
* Marco Antonio Teixeira é cientista político, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e professor do Departamento de Gestão Pública da FGVSP, onde também é pesquisador do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG/FGV)

Postar um comentário

0 Comentários