Pré-candidatos do PSDB escancaram cisões do partido em debate na Folha


Jorge Araújo/Folhapress
Sao Paulo,SP,Brasil 23.02.2016 Os tres pre-candidatos do PSDB a prefeitura, que passarao por uma votacao interna do partido no domingo, participam nessa terca (23),, um debate no auditorio da Folha. Foto: Jorge Araujo/Folhapress cod 0703
Os pré-candidatos do PSDB à Prefeitura de São Paulo (da dir. para a esq.): Matarazzo, Tripoli e Doria
PUBLICIDADE
A cinco dias da eleição interna do PSDB que vai decidir quem será o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, os três postulantes trocaram farpas e criaram um clima tenso durante um debate promovido pela Folha na noite desta terça-feira (23).
Participaram do evento o vereador Andrea Matarazzo, o empresário e apresentador de TV João Doria e o deputado federal Ricardo Tripoli. O debate foi realizado no auditório do jornal, que ficou lotado de líderes partidários e militantes tucanos.
Os três disputam a preferência dos 27 mil filiados ao partido na capital que estão aptos a votar no domingo (28).
O principal momento de tensão foi quando Doria e Matarazzo foram questionados sobre a acusação, feita por um aliado do vereador, de que o empresário teria cooptado militantes em busca de votos mediante pagamento.
"Quero deixar claro que sou empresário privado. Não tenho nenhuma função pública que possa me respaldar além da própria ação privada. Portanto, aqueles que participam conosco, participam porque gostam e porque querem", respondeu Doria.
"O Doria falou que eu e Tripoli temos respaldo público. Nós não temos respaldo público nenhum nas prévias", rebateu Matarazzo. "O vereador Adolfo Quintas [que fez a acusação contra Doria] falou alguma coisa que ele deve saber", completou.
O debate, que começou com um discurso de união, desenrolou-se de modo a deixar claras as cisões no partido.
Doria apresentou-se como o candidato de Geraldo Alckmin e defendeu o direito de o governador ter suas preferências. Em contraponto, Matarazzo, que é apoiado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo senador José Serra, disse que Alckmin lhe garantiu que vai apoiar quem vencer as prévias.
Referindo-se aos caciques tucanos, Tripoli, que tem a seu lado o também deputado federal Bruno Covas e o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, emendou: "Eles sabem que eu não fiz a opção por A, B ou C, mas sim pela militância. O voto do Ney da Favela lá na zona sul é igual ao do governador, do senador e do ex-presidente".
"Eu posso ser o candidato da unidade, do consenso. Todas as vezes em que o partido saiu rachado, nós perdemos as eleições", disse Tripoli, após enfatizar que tem 33 anos de vida pública.
Já Doria, que nunca disputou uma eleição, afirmou representar o "novo". "Sou empresário, embora com vida partidária e vida política. Trago para esta campanha a atividade privada colocada na atividade pública."
Ao explicar por que quer ser prefeito, Matarazzo elencou uma série de cargos –além de vereador, ele foi subprefeito da Sé, secretário municipal de Serviços e Subprefeituras, secretário estadual de Cultura e ministro de FHC. "Fiz carreira para ser o melhor prefeito que São Paulo já teve. É preciso experiência."
PROGRAMAS
Os tucanos demonstraram não estar afinados em relação a alguns desafios da cidade. Enquanto Doria defendeu aumentar a frota de ônibus, Tripoli disse que já há ônibus demais em circulação e que é necessário dar mais velocidade a esses veículos, por meio de melhorias viárias.
Sobre o aplicativo de transporte Uber, Doria posicionou-se enfaticamente a favor da regulamentação, enquanto Matarazzo disse ser favorável a "regulamentar o Uber e desregulamentar um pouco os táxis", tornando as licenças menos burocráticas e mais ágeis para haver competitividade.
Tripoli, por sua vez, não se manifestou contrário ao aplicativo, mas disse que "não se pode tirar o emprego de 5.000 taxistas que exercem de forma legítima o seu trabalho".
Ainda sobre mobilidade, eles criticaram uma suposta "falta de planejamento" para implantar as ciclovias.
Em um dos poucos momentos de consenso, os três disseram que não vão aumentar os impostos, mas divergiram sobre a privatização de espaços públicos como o estádio do Pacaembu, o autódromo de Interlagos e o Anhembi.
Enquanto Doria defendeu a privatização desses locais, Matarazzo criticou vender bens públicos em um momento de crise para fazer caixa.
CRÍTICAS A HADDAD
Os três atacaram a gestão de Fernando Haddad (PT), que disputará a reeleição. "Todas as promessas [de Haddad] fracassaram: o Arco do Futuro, as vagas nas creches, o Hora Certa [na saúde]", disse Matarazzo.
"Prefeito que trabalha no ar-condicionado o dia inteiro não é prefeito, é um boneco que ocupa espaço no viaduto do Chá", disse Doria. "Sem contar a cracolândia, com o Braços Abertos para a morte", completou o empresário, referindo-se ao programa de Haddad que paga um salário e dá moradia a dependentes químicos que varrem as ruas.
FORMATO
O formato do evento entre pré-candidatos do PSDB foi uma exigência do diretório municipal do partido para a realização do encontro na Folha.
A proposta inicial do jornal seguia o modelo padrão nesse tipo de evento. Num dos blocos, os pré-candidatos fariam perguntas livres entre si, com direito a réplica e tréplica.
Num primeiro momento, os três pré-candidatos do PSDB sinalizaram concordar com as regras.
Pouco depois, entretanto, o diretório municipal do PSDB vetou qualquer tipo de interação entre os três pré-candidatos –ou seja, eles não poderiam fazer perguntas entre si, nem comentar as respostas uns dos outros.
Com a exigência, o debate ficou dividido em três etapas. Na primeira, os mediadores Natuza Nery, editora do Painel, e Eduardo Scolese, editor de "Cotidiano", fizeram perguntas aos pré-candidatos. Cada um teve três minutos para responder. Depois, a plateia encaminhou questões. Os tucanos fizeram, então, suas considerações finais. 

Postar um comentário

0 Comentários