Bohn Gass: Temer destrói lei do trabalho escravo em troca de votos de ruralistas para não ser processado

VIOMUNDO

17 de novembro de 2017 às 17h56


Desgraçados
por Elvino Bohn Gass, especial para o Viomundo
– O gato (fiscal) debochava dizendo que ali o filho chorava e a mãe não ouvia.
– Na (fazenda) Brasil Verde, a água que eu levava pro serviço era suja, de córrego, e ia esquentando com o sol. Não tinha alternativa: ou tomava água quente ou morria de sede. A gente ficava se retorcendo com dor o dia inteiro.

– Eu ganhava 75 centavos e trabalhava 15, 16 horas por dia.
– Tinha 12 anos quando fui para a Brasil Verde. No primeiro dia, cortando uma cerca, machuquei a mão. ‘Nem começou a trabalhar e já se adoentou?, foi a única coisa que o fiscal disse.
– Você sabe o que é ser desgraçado? Era o que a gente era na fazenda”.
(relatos verídicos de pessoas resgatadas do trabalho escravo no Brasil)
Apesar de ter recebido uma torrente de críticas no mundo inteiro, a Portaria editada pelo Ministério do Trabalho para tornar mais difíceis a caracterização e a punição do trabalho semiescravo ou análogo à escravidão, foi apenas mais ato do governo Temer a nos reduzir a esperança de um Brasil mais justo. Ao menos enquanto os governantes forem os atuais.
Pois que Santo Agostinho nos resgate com sua lição de que a indignação e a coragem são filhas da esperança.
O sofrimento imposto ao trabalhador escravizado é inaceitável e suficiente para impulsionar a indignação contra essa sordidez. Ainda mais se tamanha desumanidade partir de um organismo oficial. Mais ainda se esse organismo for o governo federal.
Compactuar com a Portaria de Temer equivaleria a abolir a Lei Áurea. E só verá exagero nessa comparação quem começar a leitura desse artigo ignorando as frases iniciais.
Dor, fome, sujeira, ofensa, espancamento, prisão, distância familiar, abandono, miséria, sede são só alguns dos sofrimentos impostos pelos patrões escravagistas.
Tenhamos, então, coragem de denunciar, protestar, acusar os autores dessa medida em todos os espaços e poderes.
Por que, além de evidenciar o desprezo do governo pela desgraça humana e impor um retrocesso secular no conceito de trabalho digno, a Portaria traz um agravante: Temer fez isso em benefício próprio. Como bem disse o jornalista Jânio de Freitas “comprovando uma indignidade pessoal só possível no mais baixo nível da escala humana. O de Michel Temer e sua decisão para assegurar-se mais votos da bancada ruralista, contra o processo criminal que o ameaça.”
 Elvino Bohn Gass é deputado federal (PT-RS)
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