Dr. Rosinha: No Natal,o espírito cristão baixa sobre alguns e os pobres se tornam visíveis

24 de dezembro de 2017 às 11h41

VIOMUNDO
Bom Natal
O Natal, que não coincide com o dia em que Jesus nasceu, era considerado, até recentemente, o melhor dia de vendas, até que entrou a Black Friday
Te desejo “Bom Natal”, como te desejo “Bom dia” todos os dias.
A diferença entre um e outro dia é que a maioria dos outros dias são considerados dias normais e este (25 de dezembro) é chamado de Natal.
Há outros dias também considerados de maneira diferenciada, como a Sexta-feira Santa, domingo de Páscoa, o dia dos pais, dia das mães e dia das crianças.
Sem entrar na origem e na razão da criação destes dias, há hoje coisa em comum entre eles, o estímulo ao consumo.
Tanto que são dias em que os comerciantes medem o quanto vendem.
Na sexta feira Santa e Domingo de Páscoa se mede se houve ou não mais consumo de peixes e ovos de Páscoa.
O Natal, que não coincide com o dia em que Jesus nasceu, era considerado, até recentemente, o melhor dia de vendas, até que entrou a Black Friday.
Como não acompanho mercado de vendas, não sei em qual dos dias se vende mais.
Na antevéspera do Natal saí para caminhar e, como sempre neste período do ano fico chocado.
O choque deste ano foi maior quando comparado com o dos anos anteriores.
Uma coisa permanece a mesma: a quantidade de gente andando apressadas e com pacotes nas mãos e entre eles, pelo aspecto físico, as preocupações no rosto e os diálogos involuntariamente ouvidos, estão gastando mais do que deviam, ou gastando o que não tinham e o fazem por uma obrigação imposta pelo mercado e para ficar de ‘bem’ com alguém.
A segunda coisa que me chamou a atenção é a quantidade de gente deitada, sentada ou caminhando pelas ruas e que nelas vivem.
São cristãos, que em nome do capital, foram abandonados pelos cristãos.
Uma terceira: a quantidade de gente pedindo e/ou ‘vendendo’ docinhos ou qualquer outra coisa nos semáforos.
Para esses a recepção é horrível: a maioria dos motoristas sequer baixam o vidro para desejar “Bom Natal”.
Durante a caminhada assisti uma cena tocante: uma senhora ‘vendia’ doces num dos semáforos.
Um senhor, de dentro de um carro não comprou, mas lhe deu uma nota, cujo valor não identifiquei.
O semáforo abriu, ela guardou o dinheiro e se dirigiu a um carrinho de catadora de material reciclado, que estava parado à sombra de uma árvore dentro do qual havia uma menina de uns quatro anos de idade.
Ela estava dormindo. A senhora chegou, pegou o pé da criança e beijou em seguida beijo-lhe o braço e a mão. Ato de mãe amorosa.
Também me chamou a atenção: não há supermercado de Curitiba que nas portas não tenha alguns e algumas pedintes com no mínimo seis crianças.
Isso existe há tempos, mas este ano aumentou de maneira exagerada.
O capitalismo construiu no mundo milhões de pobres, miseráveis e famélicos.
No Natal (só no Natal), momento em que o espirito cristão baixa sobre alguns, os pobres, os miseráveis e famélicos se tornam visíveis.
Visíveis são objetos de campanhas de filantropia, do tipo adote uma criança, “dê a ele a alegria de um presente”, “dê um dos presentes que você tem e não usa mais”, e, assim por diante.
Passou o natal a preocupação do espírito de natal do momento também passa e logo após o “noite feliz” não se fala nem mais o “Bom dia”.
Assim como nos dias anteriores te desejo “Bom dia de Natal”.
*Dr. Rosinha é médico, ex-deputado federal e presidente do PT-PR
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