EMIR SADER: Consenso nacional e internacional: julgamento do Lula foi uma farsa



Ricardo Stuckert
Só mesmo os colunistas da velha mídia para se lambuzarem com o julgamento do Lula pelos juizecos da Lava Jato. Afinal eles fazem parte da farsa.
Nenhum jurista, de mínimo renome, tolera a acusação forjada pelo Moro e referendada por seus amigos de Porto Alegre. Se faltasse algum órgão de imprensa importante no mundo para se somar à denuncia da perseguição ao Lula, o New York Times se somou, com dois artigos devastadores.
O partido da toga venceu juridicamente, mas a direita perdeu na batalha das ideias. Quem vencerá politicamente?
A direita usa todas suas armas. Desistiu de concorrer eleitoralmente. Não tem candidato, não tem o que propor, não consegue se distanciar do seu governo, e perto dele se condena à mais fragorosa das derrotas.
Então acumula acusações sem provas, processos sem crimes. Pelo número de processos, o Lula seria o mais facínora que jamais a política brasileira teve. Processos por apartamento que não é seu, por sítio que não é seu, por influência que nunca teve na compra dos jatos, por prolongar medida assinada pelo FHC, por tudo e mais alguma coisa. Processado por ter governado a favor do povo, a favor da soberania nacional, a favor da justiça social.
Só os escribas, pagos pelas famílias Frias, Mesquita, Civita e Marinho, levam a sério os votos dos juizecos de Porto Alegre, porque vivem disso.
Mas a lógica fria da narrativa do processo afirma, inquestionavelmente, que se trata de uma armação, de uma ação política, com a velha ficção inventada pelo Moro, de o Lula é a cabeça de uma organização constituída para pilhar o Estado brasileiro.
A mídia internacional passou, logo de aceitar que o governo do PT era o corrupto da história, para que quem dava o golpe é que constitui a maior gangue que já assaltou o Estado no Brasil. Mas ainda aceitava que o Moro era o justiceiro contra a corrupção disseminada no Brasil. O New York Times deu uma pauta diferente: ele leva a democracia brasileira para o abismo. O Le Monde e o Financial Times o acompanham.
A voz das ruas era argumento para o golpe. Hoje a voz das ruas diz outra coisa, denuncia a perseguição ao Lula. Ninguém mais consegue fazer manifestação de apoio ao Moro e à Lava Jato.
O consenso, dentro e fora do Brasil, é outro. A mídia daqui censura o consenso contra seus editoriais e colunistas, porque confirma sua perda de influência e sua perda de credibilidade internacional.
A consciência dessa farsa se baseia na consciência de que o que se julga é o governo do Lula, a forma como ele governou, combatendo as injustiças sociais. Essa é a questão de fundo da perseguição ao Lula.
Esse consenso basta? Está longe de bastar. Não basta ter razão – embora tê-la é necessário -, é preciso ter força política. É preciso transformar a consciência e a indignação da injustiça em capacidade de criar um clima de resistência popular generalizada às ações arbitrárias contra o Lula.
Não basta tirar o passaporte do Lula. Nunca poderão tirar dele a imagem e o prestigio internacional que ele goza, como nenhum outro líder de esquerda no mundo no século XXI.
Lula passou a ser a figura brasileira mais difundida no mundo, com uma imagem sumamente positiva, vinculada estreitamente à luta contra a fome e a miséria, em todos os continentes. A partir de 2013 se iniciou uma operação de desconstrução da imagem do Lula aceita até por seus adversários, não se incomodidade, porque a projeção do Lula era a projeção da temática social no mundo, da soberania na política externa.
Desde então e, de forma mais acentuada a partir do golpe, trataram de associar a imagem do Lula a acusações de corrupção. O prestígio do Lula no mundo incomodava os EUA.
Nos dois últimos anos, conforme o governo do golpe viu sua imagem totalmente desgastada no mundo, com o Lula aparecendo como o seu contraponto, com o apoio popular crescente que o Lula foi tendo, houve uma recuperação clara da sua imagem no mundo. Agora, até mesmo as acusações contra ele passaram a aparecer como o que são – perseguição.
Depois da vergonhosa condenação em segunda instância, o consenso nacional e internacional de que se trata realmente de uma perseguição, sem nenhum fundamento, se impõe. Impõe-se esse consenso nacional e internacional.

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