Entidade de lésbicas, gays, bissexuais e trans
contabiliza quase 100 pré-candidatos ligados à causa; Congresso só tem um nome
assumido
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Gilberto Amendola, O Estado de
S.Paulo
18
Março 2018 | 05h00
Dos 513 deputados federais,
apenas um é assumidamente homossexual. A baixa representatividade é sentida na
timidez com que pautas como a criminalização da homofobia são discutidas e no
atropelo que as demandas da comunidade gay sofrem na Casa pelas fortes bancadas
conservadoras e religiosas.
Atenta a essa
realidade, a Aliança Nacional LGBTI+ começou um mapeamento dos pré-candidatos
assumidamente homossexuais e aliados. Até esta sexta-feira, 16, o levantamento
apontava 93 nomes, divididos entre gays, mulheres e homens transexuais,
lésbicas, bissexuais, travestis e outros (entre esses, os aliados – que podem
ser heterossexuais mas são considerados defensores da causa).
A advogada Giowana Cambrone, da Rede, é a primeira
trans a ocupar cargo de direção em um partido no País Foto: AMANDA
PEROBELLI/ESTADÃO
O partido com mais
pré-candidatos com essas características é o PSOL (19), seguido pelo PCdoB (14)
e o PT (11). Legendas consideradas de direita, como PSD, PTC e PTB também têm
representantes. A divisão por região mostra que o Sudeste concentra quase
metade desses nomes (40). A região com menos representantes é a Norte, com
apenas três.
O presidente da
Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, afirma que o levantamento visa criar uma
rede de trocas de ideias e propostas para eventuais mandatos – bem como ajudar
na divulgação das próprias campanhas.
“Nossa esperança é
aumentar a bancada na Câmara em pelo menos 100%”, diz Reis. “Parece muito, mas
na verdade hoje só temos um deputado assumidamente gay, o Jean Wyllys
(PSOL-RJ). Então, aumentar a bancada em 100% é sonhar com pelo menos dois
eleitos.”
O levantamento
incluiu a pré-candidata à Presidência Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) na lista. “Ela
entra como ‘outros’. Embora não seja gay, Manuela é uma aliada ‘plus’, alguém
muito conectada com as nossas causas”, afirma.
Trans. A diversidade, no entanto, ainda não é uma
realidade no comando dos partidos. Apenas Rede e o PSB têm transexuais em suas
executivas, embora boa parte das siglas tenha setores dedicados ao tema em suas
estruturas internas. A advogada Giowana Cambrone foi a primeira trans em um
cargo de direção. Ela, que é da Rede Sustentabilidade e do Raps, movimento de
renovação política, estuda a possibilidade de se candidatar a deputada federal.
Para Giowana, a
Câmara é especialmente conservadora. “Nossos principais avanços nas questões de
gênero foram conquistados por meio do Judiciário e não por leis aprovadas no
Congresso”, afirma. A última vitória do movimento foi no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), que autorizou que candidatos trans sejam registrados na cota
dos partidos pelo gênero com o qual se identificam. “O processo é lento, mas
aos poucos estamos ocupando espaços de decisão”, diz a dirigente da Rede.
Tathiane Araújo, a
primeira mulher trans a fazer parte do comando do PSB, pretende trabalhar o
tema da criminalização da homofobia como prioridade no Congresso. “A lei que
criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao
discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que
merece”, afirma Tathiane.
Parada. O ano eleitoral também vai se refletir na
tradicional Parada do Orgulho LGBTI+, que ocorre no dia 3 de junho, em São
Paulo. O tema do evento neste ano é: Poder para LGBTI+: Nosso Voto, Nossa Voz.
“Somos
sub-representados na política nacional. Por isso, esse é o momento de continuar
mostrando que não é apenas uma festa”, diz a presidente da ONG APOGLBT SP,
organizadora da Parada, Claudia Regina.
A presidente da ONG afirma que a politização da
Parada não é partidária. Segundo Claudia, representantes de todos os partidos
que estiverem comprometidos com as causas são bem-vindos para participar.
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