Bohn Gass: Ao vender refinarias, direção da Petrobras age como despachante de interesses estrangeiros


19 de junho de 2018 às 12h50
Foto G7
A Petrobras na mão do vizinho
por Elvino Bohn Gass*, exclusivo para o Viomundo
Você tem o trigo, o moinho, produz a farinha e é dono da padaria.
Mas compra trigo e pão do vizinho sob o argumento de que a concorrência é boa para o seu negócio.
Não faz sentido.
Entretanto, é exatamente isso o que o desgoverno Michel Temer está fazendo na Petrobras ao colocar à venda as principais refinarias da empresa no Brasil.
É no refino que se agrega valor ao produto petróleo.
Mesmo assim, no dia 19 de maio deste ano, quatro refinarias (os “moinhos”) da Petrobras, que respondem 37% de toda a capacidade de refino de petróleo no Brasil – Refap no Rio Grande do Sul, RLAM na Bahia, RNEST em Pernambuco e Repar no Paraná – foram postas à venda.
Declara-se sem a menor cerimônia que o objetivo é “proteger a empresa contra a ação do governo” para “atrair novos investidores para o setor”.
Falta de lógica
Ora, mesmo que a tal “ação do governo” sobre a Petrobras fosse, por exemplo, no sentido de forçar uma baixa nos preços, ainda assim isto só poderia ser feito por meio de contrato ou convênio com custos e receitas discriminadas, com a devida divulgação.
Daí que não atende a nenhuma lógica tentar justificar a venda de refinarias para ter um sócio que ajude a protegê-la de seu acionista majoritário e controlador.
Se o objetivo é atrair recursos, o mais razoável, congruente e racional seria manter as refinarias da estatal e convidar os concorrentes a construir novas unidades, ainda mais que com a demanda crescente no País.
Tudo isso seria óbvio se a Petrobras estivesse a serviço de seu maior acionista, o Estado brasileiro.
No entanto, o governo pôs na direção da empresa um grupo que não defende os interesses do Brasil, mas dos acionistas privados, em especial os dos Estados Unidos.
A atual direção da Petrobras age como uma espécie de despachante de interesses estrangeiros.
Esses acionistas não têm participação apenas na Petrobras, mas, também, em outras petrolíferas mundo afora, e encontraram serviçais no atual governo para que seus interesses prevalecessem, em detrimento dos do povo brasileiro.
No governo ilegítimo Temer, foi graças a esta gestão desastrada que a maior empresa brasileira deixou de ser a reguladora de preços nacionais dos combustíveis para se tornar uma engrenagem a serviço dos acionistas minoritários estrangeiros, maximizando lucros e levando o caos ao Brasil, com a recente greve dos caminhoneiros.
Doação do pré-sal
Quem pode ter interesse em reduzir o tamanho, a força e a importância da Petrobras no mercado petrolífero, senão os seus próprios concorrentes?
Basta ver quem já aparece na lista de possíveis compradores das refinarias.
Lá estão, por exemplo, a Shell, a Chevron, a Exxon e outras petrolíferas multinacionais com sede no exterior, já beneficiárias da verdadeira doação do petróleo do pré-sal depois que Temer assumiu.
No caso das refinarias, é uma verdadeira farra às custas do povo brasileiro, pois construir novas refinarias, gasodutos, oleodutos e terminais é caro e demanda anos de construção, investimentos até sua operação.
Muito mais fácil, seguro e barato é comprar o que já foi construído a preço de banana.
Assim, a Petrobras, ao abrir mão de ativos lucrativos como as refinarias, está escandalosamente beneficiando as outras gigantes petrolíferas mundiais, toda concorrentes da estatal brasileira construída com o sangue e o suor dos brasileiros.
A atual direção da Petrobras, sob o olhar complacente do governo Temer, está agindo de forma antinacional e contra os interesses do povo brasileiro, que é o maior acionista da empresa, via União.
Ceder por preços irrisórios ativos construídos ao longo de décadas, fatiar a empresa e abrir mão do comando para concorrentes que não têm compromisso com o povo brasileiro é simplesmente um crime de lesa-pátria.
*Elvino Bohn Gass é deputado federal (PT/RS) e presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Refinarias da Petrobras
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