A capa da Veja é ironia com a morte da sua Editora Abril?

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Dos anos 70, guardo a memória da Veja como “sucessora” (ainda que tenham sido, em parte, contemporâneas) da Realidade, talvez a melhor revista de reportagem que este país já tenha tido.
Dos anos 80 e 90, seu perfil foi se tornando cada vez mais conservador e a inteligência, minguante.
Nunca, em uma publicação que não estivesse sob a direção de pessoas que não se deixassem dominar pela ignorância arrogante, a história do “Boimate” – uma cópia de uma brincadeira de 1º de abril que anunciava um boi geneticamente modificado , cuja a carne já continha molho de tomate! – teria sido sustentada.
Mas Veja , embora piorando a olhos vistos, ainda tinha bons repórteres e reportagens.
Na segunda metade dos 90, entregou-se de vez a agitar a bandeirinha das privatizações, assanhada com o governo Fernando Henrique. Ainda sobravam, porém, espaços para que as evidências de negociatas fossem noticiadas.
No Governo Lula, porém,  tornou-se apenas um panfleto de quinta categoria: grosseira, ofensiva, sórdida.
Mas ainda tinha importância, que foi sumindo, como foram sumindo seus assinantes.
Deixou de ter uma redação para ter um valhacouto.  Ali se juntaram quem via o jornalismo como uma gazua e os que viam, mesmo, como o exercício sádico da mentira e da perversidade. Exceto, claro, os carregadores de piano que trabalham anonimamente, para viver.
Esta semana, a Editora Abril, onde a Veja era a jóia da coroa, na prática, faliu. Os herdeiros, já netos, do imperador Victor Civita, foram varridos da direção por ordem dos bancos credores da empresa.
Nomearam-se liquidantes.
A capa da edição que está indo às bancas é uma fina e trágica ironia.
Fala do crescimento da mortalidade infantil após o golpe do qual ela foi a grande protagonista na mídia.
Mas o cadáver que se expõe é o seu próprio.


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