Safatle sobre condenados: “23 manifestantes que correm o risco de prisão são presos políticos”


DCM
Publicado em 20 julho, 2018 7:03 am
A Coluna de Vladimir Safatle na Folha de S.Paulo informa que nenhum policial foi condenado por incitação à violência, por infiltração em grupos de manifestantes com o intuito claro de iniciar confrontos, por lesão corporal contra manifestantes que ficaram cegos ou tiveram ferimentos graves. “Mas há uma condenação de manifestantes que lutavam contra aumentos abusivos de tarifas de transportes, contra o esvaziamento da democracia parlamentar, contra os gastos com a Copa do Mundo e a corrupção”, complementa.
E ele também diz: “nesse caso, podemos nos perguntar o que seria uma personalidade não distorcida. Alguém para quem os ditos Poderes nunca devem ser criticados de forma aberta e através de manifestações populares? Alguém que faz deferência quando um governador passa na rua? Esse poder só ouve àquilo que não o coloca em questão, a quem, no fundo, procura reforçá-lo. Ou seja, a capacidade de se colocar contra o poder, de não se submeter à violência estatal e ao seu braço armado, é algo que só existe naqueles que entenderam o que afinal está em jogo quando se fala em emancipação e liberdade social”.
O filósofo então critica a Justiça: “a democracia nunca viu problemas em aceitar essa indocilidade do povo, pois ela sabe que o poder deve temer o povo que ele julga representar, e não o inverso. Mas, no Brasil, uma das funções principais do Poder Judiciário é procurar, de todas as formas, criminalizar a revolta, nem que seja utilizando um vocabulário digno do psicologismo mais rasteiro à serviço da servidão”.
E sintetiza: “Esses 23 manifestantes que correm o risco de prisão a partir de agora são claramente presos políticos”.
“À parte, na morte acidental de um cinegrafista por um rojão disparado por manifestantes —fato que merece uma análise isolada—, o único ‘crime’ em questão é a existência política insubmissa. Algo que em nossas terras parece ser cada vez mais imperdoável. Mas faz parte de um poder cada vez mais ilegítimo ser cada vez mais brutal contra todos aqueles que efetivamente o questionam”, finaliza o pensador.

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