Uma Bastilha em Curitiba? (por Axil Costa e Frei Sérgio Antônio Görgen)

Sul 21

“Sistema judiciário tem a opção de transformar o cárcere de Curitiba numa Bastilha brasileira”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Axil Costa e Frei Sérgio Antônio Görgen (*)
O sistema judiciário brasileiro, pelo menos a parte afinada com o golpe, e a rede Globo (panfleto imperialista digital e impresso) tem a opção de transformar o cárcere de Curitiba numa Bastilha brasileira. Esta opção lhes está disponível, neste momento histórico.
Não é a melhor, nem para eles. Mas podem fazê-lo.
As forças populares e democráticas não tem todas opções à disposição. Precisam lutar nas condições que existem historicamente.
Transformar a prisão de Lula em Curitiba em uma Bastilha Brasileira é uma opção disponível e possível.
Na história ocidental, um dos acontecimentos decisivos para a derrocada do antigo regime monarquista francês e o marco de partida da Revolução Francesa, se deu no dia 14 de julho de 1789, fato notório na influencia das principais revoluções do mundo, a queda da Bastilha, acontecida em Paris.
A Bastilha, repressivo cárcere politico da França deste período, era uma estrutura panorâmica da arquitetura de Paris, que media entre 30 e 35 metros altura, e seu entorno era rodeado por um grande fosso, banhado pelas águas do rio Sena. Servia de mecanismo para enjaular ativistas políticos rebeldes, que se opunham ao regime monarca.
O cenário do fim do século XVII, na França, era marcado por profundos problemas de desigualdade e injustiça social, o povo pobre e a burguesia ferviam, assim como o verão em Paris, e caminhavam em fúria com sentimento de revolta, contra a falta de comida e a miséria, que eram responsabilidade direta da agenda política do rei absolutista Luis XVI.
A pressão pelo fim dos privilégios da corte real se aprofunda e o Rei Luis XVI, por pressão dos bancos, convida Jacques Necker, pensador iluminista, para ocupar o ministério das Finanças. Ele era adepto de um novo modelo político e vociferava abertamente “A responsabilidade dos grãos e dos pães para o povo é do governo.”
O rei se obriga a ceder poder político e permite a construção de uma Assembleia Nacional que discutiria uma nova Constituição, mas, Luis XVI, preocupado com ascensão popular de Jacques Necker e dos liberais burgueses, resolve demitir o seu ministro de finanças e cercar com suas tropas a Assembleia Nacional. Esse fato é o estopim para a população ocupar massivamente as ruas, dirigido por lideranças revolucionárias.
Na manhã do dia 14 de julho de 1789, milhares de pessoas circundaram a Bastilha. Marquês de Launay, governador militar da Bastilha, temendo a força popular, convidou uma delegação de lideranças para uma conversa, no sentido de acalmar os ânimos. Os revolucionários reivindicavam a posse da Bastilha. Launay recusou, mas indicava não estar disposto ao combate, e para se comprometer e convencer os revolucionários mostra que seus canhões nem estariam carregados.
Apropriados dessa notícia, um grupo de lutadores escalou o muro e entrou na Bastilha e abriu a porta levadiça de acesso. Cerca de 300 revolucionários ocuparam a masmorra, confrontando o exército de Launay. O combate terminou com aproximadamente 100 revolucionários mortos, mas com uma acachapante vitória do povo. Marquês de Launay, agora ex-dono das chaves da Bastilha, foi rendido, julgado pelo conselho revolucionário e morto.
A tomada simboliza o declínio no antigo regime e inaugura nova atmosfera na vida política ocidental a partir da Revolução Francesa gerando protagonismo popular e fissuras no modelo hegemônico absolutista que levaram a mudanças estruturais na sociedade.
Aplicando a Teoria das Labaredas ao atual momento político nacional, ao que tudo indica, o pico de labaredas do golpismo foi atingido com a prisão de Lula. Ficou estável por um tempo e começa a descer.
Em contraposição, as labaredas do movimento popular e político de esquerda, recém agora começam a ter iniciativa e a ensaiar ações não meramente reativas mas ativas e propositivas. É labareda crescendo. Caso chegue perto do pico até setembro, nada deterá a candidatura e a eleição de Lula. Labareda crescendo, para o movimento popular, é povo na rua e em luta.
Transformar o cárcere de Curitiba numa Bastilha poderá tornar mais penoso e difícil o processo de libertação de Lula, mas acontecerá e, neste caso, as consequências para os carcereiros serão mais drásticas. Eles é que tem esta opção nas mãos e precisam pensar nisto.
Caso a opção “bastilha” seja acionada do “lado de lá”, terá que escancarar uma situação de “ditadura aberta”, hoje ainda disfarçada.
Assim mesmo a resistência crescerá, e passará à ofensiva política.
As condições em que tudo isto acontecerá é o que está em aberto no complexo xadrez das condições da luta de classes no cenário político dos dias que vivemos.
(*) Axil Costa é militante da Juventude do PT de Candiota. Frei Sérgio Antônio Görgen é frei franciscano, militante do MPA.
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