23/11/2022

Morador de bairro pobre de São Paulo vive até 21 anos menos que de região nobre, diz Mapa da Desigualdade

 


Os indicadores não vêm apresentando melhoras significativas, de acordo com números divulgados pela Rede Nossa São Paulo e pelo Instituto Cidades Sustentáveis

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(Foto: Rovena Rosa/ABr)
 

Por Gabriel Valery, da RBA - Quem nasce e mora em um bairro nobre de São Paulo vive até 21 anos a mais do que quem vive em alguns bairros periféricos. A sentença é do Mapa da Desigualdade 2022. A Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis divulgaram nesta quarta-feira (23) o estudo, feito desde 2012. A comparação toma como base vários indicadores de 96 distritos da capital.

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De acordo com o estudo, um morador do bairro do Jardins, bairro nobre da região central, tem expectativa de vida de 80 anos. O segundo bairro com melhor indicador é Moema, na zona sul, com 79,8 anos. Contudo, no Iguatemi, na zona leste, esse índice cai para 59,3. É o distrito com a pior média de vida, seguido de Cidade Tiradentes, bairro vizinho, próximo a Itaquera. Lá, a expectativa de um nascituro é de viver 59,4 anos. A média da cidade fica em 68 anos.

“O objetivo de revelar esses dados é de identificar os problemas. A cidade tem, como mostra o mapa, espaços melhores que os outros. A gente tem solução de ter um olhar de como melhorar, que é ver como nesses próprios bairros com idades altas, como eles conseguem. Não precisa pegar exemplo da Europa. É só olhar para a capital”, explica o coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, Jorge Abrahão.

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Mesmo cenário

Abrahão explicou, durante a apresentação dos dados, que os indicadores não vêm apresentando melhoras significativas. “Temos visto que não temos conseguindo reduzir a diferença da idade média de vida. Ano passado tínhamos quase 23 anos de diferença e, agora, 21. Então, a ordem de grandeza permanece a mesma. Há políticas a serem feitas para a gente estar avançando. Se um prefeito se propuser a reduzir pela metade essa idade, ele vai estar fazendo a maior obra.”

Indicadores

Além da desigualdade na expectativa de vida, o estudo dá destaque para temas como: violência contra a mulher, mortalidade infantil, mortalidade materna, violência policial, violência racial, violência contra a população LGBTQIa+ e gravidez na adolescência. Um dos piores indicadores é o que trata das mulheres. De acordo com o mapa, a violência contra elas aumentou 67,9% desde 2020. A média de mulheres vítimas para cada 10 mil foi de 234,6 na cidade. O pior bairro foi a Barra Funda, no centro, com 636,2 e o melhor, Alto de Pinheiros, na zona oeste, com 116,5.

“Violência contra mulher está tendo mais consciência por parte das vítimas, que estão denunciando mais. Isso faz com que esses números aumentem. Por outro lado, é um problema que existe na sociedade e precisa ser resolvido”, disse Abrahão.

A urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Raquel Rolnik participou de um debate após a apresentação dos dados. Ela destacou que “a desigualdade não é fruto da falta de planejamento ou de política urbana, mas da presença”. “Políticas que geram desigualdade. É importante pensarmos em termos orçamentários, na luta para termos mais investimento nas periferias. É uma luta relevante, mas também é fundamental discutir em o que e como investir”, disse.

Protagonismo e desigualdade

Raquel cobrou protagonismo dos que sofrem com as desigualdades: periféricos, mulheres, negros, LGBTQIA+. Ela lembrou que pensar apenas na desigualdade das periferias é um conceito ultrapassado. Primeiramente, seu pensamento é reforçado pelo índice exorbitante de violência contra mulheres em um bairro central. “É um desafio muito grande avançar na direção de uma base de dados com territorialização menor, para enxergarmos melhor de fato. Distrito esconde diversidade. Distrito esconde situações específicas”, disse.

“Jamais se debate diretamente com quem mora, com quem vive, com quem é a pessoa que precisa de transformação. É muito importante percebermos que, embora, falemos de centro e periferia, chamo a atenção que temos que trabalhar com a presença de territórios populares. Temos territórios populares no centro que é objeto de vulnerabilização, não pela falta de investimento, mas pela presença deles que provocam a expulsão, o não acolhimento, a crise da moradia”, completou.

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