BO em delegacia modelo leva quatro horas



LUÍSA ALCALDE
Quatro horas é o tempo que o morador de Campo Limpo gasta para registrar uma ocorrência policial no 37º Distrito Policial, na zona sul da capital. Além da demora, o que chama a atenção é que esse distrito foi escolhido como modelo entre as delegacias de São Paulo na última avaliação, divulgada no mês passado, pela Altus Global Alliance, organismo internacional que avalia e premia dependências policiais no mundo todo.
No último dia 23, quando a reportagem do JT esteve no 37º DP, oito pessoas seguravam uma senha obtida no inicio da manhã, às 9 horas, e ainda esperavam pelo atendimento às 13h05.
“Quem chegou aqui às 8h30 acabou de ser chamado para ser atendido só agora”, contou a supervisora financeira Mônica Gomes, que teve o cartão clonado e precisava do boletim de ocorrência para entregar no banco, no mesmo dia. “Estou perdendo o meu dia de trabalho e, pelo jeito, não vou conseguir sair daqui até as 16 horas, porque tem mais duas pessoas na minha frente”, contou. O marido dela, o vendedor Leandro Macedo, estava revoltado. “Dá vontade de levantar e ir embora. Como é que podem dizer que esta delegacia é modelo?”
O 37º DP pode impressionar quem apenas observa suas instalações. Na sala de espera, há uma televisão e revistas para o público se distrair. Na chegada, os usuários retiram um número para serem atendidos por meio de um sistema eletrônico. Um quadro com o e-mail do DP para críticas, sugestões e denúncias, e outro com um mapa com os bairros da região onde mais ocorreram crimes estão afixados na parede.
Também há banner informando a produção efetuada pelo distrito no mês de abril: 908 boletins de ocorrência elaborados; 21 autos de prisão em flagrante, 32 prisões efetuadas, 84 inquéritos policiais instaurados; 82 inquéritos concluídos, 67 crimes esclarecidos; 68 veículos recuperados. Nos fundos, onde havia uma carceragem, hoje tem brinquedoteca e uma capela ecumênica.
“A delegacia é bem arrumada, mas de que adianta isso se demora demais”, protestou o analista de telecomunicações Wilson Luís Capeto, que tinha ido ao 37º DP registrar o roubo de seu veículo.
O delegado Dimas Pinheiro informou, por meio de nota da Secretaria da Segurança, que quando há flagrante, dependendo da quantidade de pessoas envolvidas, o registro pode demorar um pouco mais. Um funcionário da delegacia identificado como Rodrigo atribuiu a demora à ausência de mais funcionários para atender o público. “Temos apenas um escrivão.”
“O sistema de informações parece ser um grande problema, já que o pré-atendimento online não agiliza os registros”, afirma Ludmila Ribeiro, coordenadora nacional do projeto bancado pela Altus Global Alliance.
Para o analista criminal Guaracy Mingardi, a Polícia Civil deveria se concentrar no esclarecimento dos crimes. “Já que o atendimento é demorado, deveria haver mais resultados.”

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