Bruno Covas: emendas de R$ 8,2 mi


FÁBIO SERAPIÃO e FERNANDO GALLO
Conforme registros feitos em seu próprio site, o secretário estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), afirma ter conseguido intermediar, só em 2010, R$ 8,2 milhões em emendas parlamentares. A cota anual de cada deputado paulista é de R$ 2 milhões. No ano passado, Bruno exercia mandato na Assembleia Legislativa e foi campeão de votos à reeleição.
O valor equivale a toda a cota de emendas que caberiam ao deputado em quatro anos de mandato. O levantamento foi feito a partir das informações que constam no site do próprio secretário e da checagem dos convênios. O governo não divulga autores de todas as emendas e nem seus respectivos valores. O Executivo informou, até o momento, só os recursos liberados este ano. Diante da ausência de publicidade dos dados, não se sabe quanto o Estado despendeu em recursos que de fato foram intermediados por Covas.
Nos orçamentos de 2010 e 2011, o governo reservou R$ 188 milhões para emendas, valor que, dividido por 94 deputados, resulta na cota anual de R$ 2 milhões para cada parlamentar. Bruno foi o relator desses dois projetos.
O valor de R$ 8,2 milhões que Covas conseguiu liberar em 2010 – ano eleitoral – foi encontrado em 49 emendas das quais o próprio secretário, em seu site oficial (www.brunocovas.com.br), afirmou ser autor. Na página há várias notícias sobre a liberação das emendas.
“O secretário adjunto da Casa Civil, Rubens Cury, fez na terça-feira, dia 20, a 5ª assinatura do ano de convênios entre secretarias da Casa Civil e de Economia e Planejamento com municípios paulistas. Guararapes foi uma das beneficiadas. Por meio de emenda parlamentar do deputado Bruno Covas, o prefeito tucano, Edenilson de Almeida, (Dedê) assinou convênio no valor de R$ 300 mil que serão destinados à iluminação do Estádio Adelmo Almeida”, informa o site em 29 de abril de 2010.
Outro lado
Procurado, Covas não se manifestou até o início da noite de ontem. O governo estadual também foi procurado, mas preferiu não se manifestar sobre o caso. Disse apenas seria enviada nota da assessoria pessoal do secretário Bruno, o que não ocorreu até 21h30.
“Narrei um exemplo como fato”
Ao se explicar por escrito ao Conselho de Ética sobre a afirmação de que prefeito teria lhe oferecido R$ 5 mil de propina por uma emenda parlamentar, o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), afirmou que acabou “narrando o exemplo como fato”.
“No dia 3 de agosto concedi entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo e, ao ser indagado sobre corrupção, citei evento que tenho usado nos últimos anos em palestras, encontros e conversas, para afastar qualquer tentativa de abordagem inadequada”, disse Bruno. “Um exemplo didático que de tanto repetir, incorporei como discurso e que tem como objetivo ressaltar os princípios republicanos que não se coadunam com qualquer oferecimento de vantagem, ou tráfico de influência. Assim, acabei narrando o exemplo como fato”.
Em entrevista gravada, há dois meses, ele deu a declaração ao responder se já havia passado por situação envolvendo corrupção. “Ah, já. Uma vez, consegui emenda de R$ 50 mil para obra de um município. Assinamos convênio e depois o prefeito veio perguntar com quem deixava os 5 mil”, contou. “Respondi: ‘Doa para a Santa Casa, eu que não vou ficar com isso’”.
Na carta ao conselho, ele rebateu críticas que teria sofrido por suposta ingenuidade. “A entrevista em questão tem sido utilizada politicamente. Uns me acusam de ingenuidade e inexperiência. E isso me conforta. Afinal, o problema central que afeta a imagem dos nossos políticos não é ingenuidade, mas a falta de probidade e caráter que permite o desvio de recurso e uso inadequado do dinheiro publico”.
Conselho nem chegou a chamar tucano
Em seu terceiro encontro para apurar denúncias do suposto esquema de vendas de emendas parlamentares, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa esbarrou em manobras da base para travar a pauta. Após mais de cinco horas, apenas cinco dos oito itens foram votados e nenhum aprovado – três foram rejeitados e em dois houve pedido de vista.
O presidente da comissão, Hélio Nishimoto (PSDB), teve que se explicar pelo fato do secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB , não ter sido comunicado, oficialmente, sobre o convite para comparecer à sessão de ontem. Primeiro, afirmou ter combinado que o líder do PSDB, Orlando Morando, seria responsável por avisar Covas. Depois, disse que entregará pessoalmente, devido à greve dos correios, que acabou ontem.
Mesmo sem ser notificado, Covas enviou seu depoimento por escrito. Entregue por Morando, o documento gerou discussões no conselho. “Esse texto é escárnio e mostra como a comissão está sendo desmoralizada”, disse Carlos Giannazi(PSOL).
“Ele deixou claro que nunca recebeu prefeito. Se tivesse acontecido já teria vindo a público falar”, disse Morando, ao classificar de “insinuação infeliz” a afirmação de Covas. Para o líder, o documento enviado pelo secretário “esclarece” todas as dúvidas do conselho. “O PT faz batalha político-eleitoral”.

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