Aluna é afastada das aulas por usar bermuda


Diretora teria humilhado aluna da 6ª série de escola; ela tem feridas por alergia e não pode usar calça

A diarista Carla Maria Catanoze da Silva, 37 anos, acusa a direção da Escola Estadual Professora Dulce Esmeralda Basile Ferreira de preconceito, humilhação e maus tratos contra a filha, a estudante Rita de Cássia Catanoze Bezerra, 12, aluna da 6ª série. A garota foi impedida, ontem, de entrar na sala de aula por não respeitar a regra de “usar bermuda na altura abaixo dos joelhos”. A diretora, Arlete Inhaia, teria ignorado feridas de uma alergia da menina, provocada pelo ácido úrico de um suco de laranja. E ficou das 7h10 às 15h exposta às brincadeiras e humilhações de funcionários e colegas. “Avisei ontem [anteontem] que minha filha não poderia usar calça e que não tinha a bermuda do colégio, que a diretora evangélica exige que os alunos usem. Ela me ignorou”, diz a mãe da criança. 

A menina contou que a diretora olhou para a sua bermuda e disse: “Essa bermuda é extremamente curta. Aqui você não entra hoje. Vai ficar no pátio”. A menina perdeu as aulas e não teria reposição, segundo a mãe. “Perdi matéria importante para uma prova surpresa. Falaram para mim que ‘saia acima do joelho não podia. Que eu poderia sentir a dor e a coceira que fosse, à noite, mas que teria que usar a calça do colégio”, diz a criança, visivelmente abalada, com olhar contemplativo, perdido, e bastante acanhada. 

Carla ligou para o BOM DIA para denunciar o que julgou ser crime (preconceito motivado por credo religioso) e foi ao Distrito Policial do Plantão Norte. O delegado Wagner Pimentel orientou a mulher a procurar a delegacia de ensino do município, apesar da insistência dela em abrir um Boletim de Ocorrência. A Delegacia Seccional de Sorocaba informou que, se o órgão apurar que houve preconceito, investigará o caso.

Outro lado /A secretaria estadual de educação afirma que o “uso de uniforme não é obrigatório e que a estudante não pode ser impedida de participar das atividades escolares ou ser exposta a qualquer situação vexatória pela ausência de roupa padronizada”. A adoção do uniforme é opcional - a unidade de ensino decide, com a aprovação do Conselho de Escola e da APM (Associação de Pais e Mestres),  “com alternativas viáveis para aluno que não possa adquirir a vestimenta”.

Nesta quinta-feira, uma equipe de supervisores da Diretoria Regional de Ensino de Sorocaba irá à escola para averiguar o ocorrido e analisar as medidas cabíveis. “Os professores serão orientados a repor a ela o conteúdo ministrado nas aulas.” 

qualidade /A Escola Estadual Professora Dulce Esmeralda Basile Ferreira tem avaliação abaixo da média das escolas estaduais de Sorocaba na 7ª série, no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) de 2010. Em matemática, 44% dos estudantes tiveram rendimento insuficiente; em ciências da natureza, 45% ficaram abaixo do razoável. O colégio teve média 511 e presença de apenas 38,9% no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). No Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), a escola ocupa a posição 2.731, com nota 2,14, quando o desejável seria nota 3,29. Uma das piores escolas do Estado. 

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