do Jornal da Estância
A cinco anos atrás, em 7 de maio
de 2007, se julgou as propostas para a terceirização da merenda em São Roque. Devemos
lembrar que um contrato de serviços pode se estender por 60 meses, ou cinco
anos, e ser prorrogado emergencialmente por um ano.
Tudo corria bem para a
administração municipal, até explodir o escândalo em São Paulo sobre a merenda
em outras cidades. Em 2011, o Jornal da Estância com base matérias
jornalísticas publicadas na grande imprensa publica a existência de contratos
com à Geraldo Coan em São
Roque e Mairinque. O impacto da notícia foi tão grande que o
vereador Rodrigo Nunes protocolou com base na matéria um pedido de Comissão Especial
de Investigação (CEI). O nosso valoroso vereador pediu documentos e lutou até o
fim, mas foi engolido pela maioria governista. Contudo, nesta CEI aparecem os
documentos públicos sobre o processo de licitação.
Para entendermos o que ocorreu,
devemos lembrar que o ministério Público averiguou se tratar de um cartel da merenda, que várias
empresas participavam da licitação, mas combinavam entre si quem seria a
ganhadora, além disto, dividiam o estado por regiões, e assim na região de Sorocaba só a Geraldo Coan ganhava, basta ver
que o Ministério Público abriu 10 processos de investigação contra a mesma
empresa. Deste modo, tínhamos uma aparente licitação que outras empresas do
cartel participavam somente para dizer que havia competição.
A situação é mais grave, visto
que em 2009, em ação conjunta do ministério público estadual e secretária da
fazenda, inclusive fazendo busca e apreensão de documentos na sede da Geraldo
Coan, afirma que estas empresas deram um golpe de mais de R$ 300 milhões ao não
pagar impostos ao Estado e desta forma também prejudicou o município, visto que
um quarto do ICMS é repassado aos municípios. A título de ilustração dos R$ 20
milhões recebidos pela Coan em São Roque, ela deveria ter repassado aos cofres
públicos algo como R$ 2 milhões ao longo deste período.
Os documentos da CEI da Merenda
informam que houve 12 empresas que retiram o edital de licitação, mas somente 3
apresentaram propostas da empresa
Goumaitre, que pertence a Verdurama, da Convida alimentação e Geraldo
Coan.
As empresas faziam parte do
cartel e curiosamente pelo menor preço, a Coan ganha à licitação. Os membros da
comissão de licitação a época eram: João Carlos Silvestre Paula Samanta Lima
Trujilo e Henrique Roque Pinto. O contrato é assinado pelo prefeito Efaneu e a diretora de Educação.
Esse fato, já seria um forte
indício de “malfeito” na licitação e exatamente por isso, o ministério público
vai investigar dez prefeituras da região e inclusive a nossa cidade.
Nas declarações dadas a CEI por
autoridades municipais chama a atenção que a agricultura em 2010, tinha
dificuldades de gastar 30% do gasto com merenda para compra de produtos da
agricultura familiar. E que o cardápio é mais variado nas creches e Emeis onde
a merenda é gerida diretamente pela prefeitura do que nas escolas onde a
merenda é terceirizada, visto que há menor quantidade de alunos. As autoridades
não esclareceram quanto é gasto com a merenda terceirizada e a merenda servida
diretamente e muito menos o custo por aluno entre ambas.
O ministério público entrou na
justiça contra esta máfia e o juiz aceitou a denúncia contra este organização
criminosa, tal como foi relatado pelo jornal Folha de São Paulo:
“ A Justiça abriu ação penal contra 35 acusados de envolvimento
com a máfia da merenda, suposto cartel para fraudes em licitações, corrupção de
servidores públicos e lavagem de dinheiro ilícito da organização criminosa.
Entre os acusados está o secretário municipal de Saúde, Januário Montone, que,
segundo o Ministério Público Estadual (MPE), recebeu R$ 600 mil de propina.
Procurado, ele não se manifestou.
O processo foi aberto por ordem do juiz Lauro Mens de Mello, da
10ª Vara Criminal da capital. Em despacho de seis páginas, ele determina o
sigilo dos autos e manda citar os denunciados, que terão dez dias para
constituir advogado e apresentar defesa preliminar, oferecer documentos e
justificações, especificar provas e testemunhas.”
Como vimos a situação é
claramente tipificada como crime pelo ministério público e tal posição já vem
sendo aceita pela justiça. Ante todos os indícios citados não devemos prejulgar
ninguém, mas para complicar a situação do atual prefeito, este invés de alegar
desconhecimento do cartel, atacou o vereador Rodrigo Nunes e defendeu, ante
todos os indícios de ilegalidade, a licitação que foi responsável. Oras com
isso só complicou a sua situação, visto que agora não pode alegar que
desconhecia a ação do cartel em nossa cidade.
Causa ainda estranheza, a ação do
prefeito quase um ano após as denúncias continuar os serviços e fazer novos
aditamentos, mesmo com um a investigação do ministério pública aberta
recentemente.
Entrevista com o Vereador Rodrigo Nunes que protocolou o pedido de CEI da Merenda
JE - No
final do ano passado após denúncia do Jornal da Estância sobre a ”Máfia da Merenda”, você pediu a
instauração de uma Comissão Especial de Inquérito. Eu queria que você falasse
sobre a CEI, o que foi apurado e como foi o relatório final?
Rodrigo
Nunes – A ideia realmente partiu das denúncias feitas pela imprensa a nível
nacional e do Jornal da Estância em nossa cidade. A obrigação legal do vereador é fiscalizar e
legislar e não ser um assistente social, eu fiz a minha parte que era buscar as
informações de que o Brasil estava na mão da “Máfia da Merenda”. E uma
das empresas citadas é a que presta serviço até hoje em nosso município.
Estivemos na prefeitura, juntamente com o Departamento Jurídico da Câmara para
averiguar a documentação e os fatos denunciados. Alguns pontos nos chamaram à atenção, mas não
o suficiente para provar algum delito, a CEI tem um prazo determinado para o
seu funcionamento. E ainda assim o prazo foi adiado e depois de 90 dias foi
encerrada com seu relatório final, depois de pronto eu pedi para acrescentar
alguns pontos que eu achei que chamaram a atenção, mas eu não podia provar
nenhuma irregularidade, a princípio. As
empresas que participaram da concorrência estavam envolvidas na “Máfia da Merenda”, porém eram duas que
o MP levou a público, em São Roque das três que participaram da licitação duas
estavam com problemas, outro fato que chamou a atenção foi que essas empresas
retiraram o edital no mesmo dia, na mesma hora, embora tivessem um prazo maior
para o processo, inclusive o protocolo da prefeitura prova essa minha
afirmação. Das mais de vinte empresas que retiraram o edital somente essas três
participaram da licitação. E dessas mais
de vinte empresas a grande maioria retirou no mesmo dia, então isso chamou
bastante a atenção e eu pedi que fosse dado destaque a isso no relatório
final. Para se ter uma ideia da
dificuldade que é provar esses indícios de manipulação na CEI, é importante
dizer que o Ministério Público levou mais de quatro anos investigando antes de
oferecer a denúncia. Realmente os
indícios de modus-operandi são iguais em todas as cidades, por isso eu entrei
em contato com o GAECO e entreguei uma série de documentos, e eles foram bem
categóricos afirmando que era dessa forma que os cartéis atuavam.
JE – Esses
documentos foram entregues ao GAECO, após a denúncia do MP a justiça dos 35
nomes envolvidos na “Máfia da Merenda”?
Rodrigo
Nunes – Foi depois. Pois aí eu senti que
São Roque tinha grandes indícios de estar também no esquema. Existe toda uma ligação entre empresas e
pessoas envolvidas e denunciadas pelo MP, tudo confere com os documentos
apurados pela CEI.
JE – Uma das
coisas que você observou foi que o cardápio exposto nas escolas nem sempre
conferia com a merenda servida aos alunos. Eu queria que você explicasse essa
questão?
Rodrigo
Nunes – Este é um dos pontos chave dessa história toda. Comentei até com outro
vereador que as crianças não comiam aquilo que estava sendo pago. E esse colega respondeu que pelo menos nosso trabalho
na CEI tinha surtido algum efeito. Pois quando alguém passa a fiscalizar eles
acabam servindo aquilo que está no cardápio contratado e pago. Não digo que a qualidade da merenda não é
boa, me refiro que não é servido aquilo que foi contratado e pago. E o que eu
espero é que a justiça seja feita após essa denúncia do Ministério Público.
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